E se o Brasil integrasse a Alca?
Se o Brasil integrasse a ALCA, haveriam dinheiro e produtos circulando de um País para outro livremente, empresas fechando e mudando de ramo e novos mercados para as exportações.
Rodrigo Velloso
Dinheiro e produtos circulando de um país para outro livremente. Prateleiras repletas de produtos importados, empresas fechando ou mudando de ramo e novos mercados para as exportações. Integrar a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) teria esses e outros efeitos imediatos sobre a economia e a vida dos brasileiros. O acordo, que vem sendo negociado desde 1994 e deve estar concluído em 2005, envolve 34 países – incluindo os Estados Unidos, cuja economia equivale ao triplo de todas as demais – e pretende remover boa parte das barreiras ao comércio no continente, liberando a circulação de bens e serviços entre todos os países signatários.
Mesmo presumindo que as regras finais do acordo equilibrem as demandas de todos os parceiros – ou seja, que cada país permita um acesso ao seu mercado interno proporcional ao espaço que terá nos mercados de outros países -, algumas empresas brasileiras que não conseguissem competir com os preços ou a qualidade dos produtos estrangeiros correriam o risco de desaparecer. Na lista dos prejudicados estão fabricantes de brinquedos, informática, componentes eletrônicos, máquinas e equipamentos industriais, farmacêuticos e eletroeletrônicos. Nesses segmentos, o consumidor pode sair ganhando com a oferta de produtos mais baratos e melhores. Enquanto isso, produtores de aço, calçados, alguns alimentos processados, vestuário, carne bovina e produtos agrícolas como a soja e a laranja continuariam fortes por aqui e, de quebra, venderiam muito mais lá fora. Além disso, o desembarque de mais dinheiro e tecnologia estrangeiros no Brasil fomentaria a criação de indústrias e aumentaria a eficiência das que já existem.
No início, a combinação desses efeitos causaria uma baita confusão: de um lado haveria falências e desemprego e de outro novas vagas e gente faturando alto. Mas é impossível dizer se o balanço desses movimentos seria positivo ou negativo no longo prazo.
Isso vai depender da iniciativa, criatividade e eficiência de cada brasileiro e das nossas instituições. Qualquer previsão menos ambivalente é mais ideologia do que fato. As previsões otimistas vêm daqueles que acreditam na livre concorrência como estímulo natural e benéfico para o desenvolvimento econômico. As pessimistas, dos que crêem que é melhor o governo direcionar esse desenvolvimento.
Isso acontece porque a Alca efetivamente restringiria a ação dos governos dos países envolvidos sobre a economia. O acordo prevê a abolição de instrumentos reguladores como tarifas de importação, barreiras técnicas e sanitárias e subsídios pelos quais os Estados intervêm no mercado. Além disso, um organismo supranacional é que resolveria eventuais disputas comerciais. Indiretamente, o acordo também forçaria o governo a tomar medidas que tornassem competitivas as empresas do país (como as reformas tributária e trabalhista, no caso do Brasil).
Quem só tem a ganhar com as regras da Alca são os consumidores. Com a diminuição de barreiras comerciais, a tendência é de redução geral de preços. Produtos e matérias-primas mais baratos e acesso a tecnologias superiores são alguns dos fatores que provocariam a queda. Em outras palavras, as tarifas de importação sempre penalizam o consumidor para proteger empresários e trabalhadores. Não que sejam, é claro, necessariamente grupos distintos. Uma mesma pessoa pode ser favorecida como trabalhadora e prejudicada como consumidora. No fim das contas, o benefício ou prejuízo para o Brasil como um todo dependerá da qualidade do acordo e da disposição dos brasileiros para enfrentar os novos desafios.