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Esqueletos medievais revelam parto após a morte – com crânio da mãe perfurado

Ossadas deixam pistas de bebê expulso do útero no túmulo e furo na cabeça para "curar" jovem grávida

Por Ana Carolina Leonardi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
28 mar 2018, 16h17

Não, não descobrimos uma história secreta por trás de O Casal Arnolfini, obra prima medieval de Van Eyck que ilustra essa matéria. A história é muito mais antiga – e horrorosa como só a vida na Idade das Trevas podia ser.

Um par de esqueletos do século 8 mostra evidências de um dos fenômenos mais bizarros que você pode imaginar: uma extrusão fetal postmortem – ou um bebê que foi expulso do útero dentro do túmulo em que a mãe foi enterrada.

Essa é só uma parte de um cenário ainda mais assustador, que exemplifica os horrores propostos pela medicina na Idade Média. A descoberta, publicada no periódico World Neurosurgery mostra ainda que a mãe do bebê teve uma perfuração feita no crânio enquanto ainda estava viva.

O processo, chamado de trepanação, é tão antigo quanto chocante – há registros dele desde a pré-história. Sabemos que na Era Medieval, esse era o tratamento indicado para uma porção de doenças, de dores de cabeça à pressão alta.

Não se sabe se o furo contribuiu para a morte precoce da mãe, que tinha entre 25 e 35 anos e estava na 38ª semana de gravidez, muito perto de dar à luz. Ela foi enterrada em Ímola, na região de Bologna, em um túmulo de tijolos, que preservou tanto o corpo dela quanto o da criança.

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Mas foi a posição da criança que assustou os pesquisadores: os ossos indicaram que ela estava com a cabeça próxima ao quadril da mãe, mas com as pernas ainda dentro da cavidade pélvica dela, só parcialmente expelida.

Para os médicos que estudaram o caso, esse é grande indício de extrusão fetal: o bebê, às 38 semanas, já estaria posicionada para o momento do parto quando a mãe faleceu.

Ela foi enterrada ainda grávida, mas os gases que se acumularam no interior do corpo após a morte teriam criado a pressão necessária para expulsar o feto do corpo da mãe, através de uma ruptura do canal vaginal – ou pelo menos, é o que imaginamos. Esse fenômeno nunca foi observado ao vivo, ainda que exista uma quantidade razoável de registros arqueológicos dele.

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Mas a história pode ser ainda mais complexa: para os cientistas que analisaram o caso, é possível que a trepanação, a morte e o parto no túmulo estejam associados.

Como mesmo para os padrões da louca Idade Média furar o crânio de alguém é um procedimento arriscado, faz sentido pensar que só fariam isso em uma mulher com uma gravidez tão avançada caso o sofrimento dela fosse extremo.

A sugestão dos pesquisadores é a pré-eclâmpsia, mal que até hoje põe em risco a vida de muitas mulheres grávidas, ou outra complicação que levasse à pressão alta.

“Os sintomas mais comuns dessa doença são febre alta, convulsões, dores de cabeça consistentes, alta pressão intracraniana e hemorragia cerebral. Todos eles, da pré-história ao século 20, já foram tratados com trepanação”, concluem os autores. Um fim ainda mais trágico para uma trama já horripilante – que é, ao mesmo tempo, um achado raríssimo para a história da medicina.

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