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Gerhart M. Riegner

Riegner nunca casou nem teve filhos. Tímido e reservado, era um devorador de jornais e livros.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h22 - Publicado em 31 mar 2003, 22h00

Luciana Pinsky

Oadvogado alemão radicado na Suíça Gerhart M. Riegner teve sua vida marcada por poucas e contundentes palavras escritas por ele em um telegrama, em 1942: “Recebi a alarmante informação de que no quartel-general do Führer está sendo discutido e analisado um plano segundo o qual todos os judeus nos países ocupados ou controlados pela Alemanha, em um total de 3,5 ou 4 milhões, após serem deportados e presos em campos de concentração devem ser exterminados em massa, a fim de que se resolva de uma vez por todas a questão judaica na Europa”. Entregue às missões diplomáticas do Reino Unido e dos Estados Unidos, para ser remetida aos seus destinatários – o rabino Stephen Wise, presidente do Congresso Mundial Judaico (CMJ), em Nova York, e Sidney Silverman, membro do Congresso britânico – a mensagem foi a primeira referência ao plano nazista de varrer, numa matança coletiva, os judeus da Europa.

Hoje, o genocídio contra os judeus durante a Segunda Guerra é amplamente conhecido, divulgado e retratado em filmes, como o recente O Pianista, de Roman Polanski. Mas, no meio do conflito, a “solução final” era um segredo bem guardado pelo Exército alemão. Anos antes das mortes nas câmaras de gás, os judeus alemães já haviam tido seus direitos civis cassados, seus bens expropriados, além de serem presos e deportados. O próprio Riegner deixara o país em 1933, após ter sido proibido de exercer sua profissão e perder seu cargo no Tribunal de Berlim. Foi para a França e em seguida para a Suíça. Em 1942, soube pelo jornalista Benjamin Sagolowitz do plano nazista. A fonte primária da informação teria sido o empresário alemão Eduardo Scholte.

Riegner foi o primeiro a revelar a estratégia macabra de Hitler. Esperava, ansioso, por uma atitude compatível com o horror que descrevia. Em vão. Mesmo fazendo a ressalva que a informação não poderia ser confirmada com exatidão, o teor do telegrama era alarmante, mas não chegou a convencer os diplomatas aliados. Quando chegou aos Estados Unidos, o governo americano tentou conferir o conteúdo das denúncias com representantes do Vaticano e da Cruz Vermelha. Ambos negaram conhecer algum plano de extermínio. Embora a perseguição aos judeus nas regiões ocupadas pelo Exército nazista não fosse nem um pouco silenciosa ou repentina, a maioria dos que tiveram acesso à mensagem de Riegner a achava fantasiosa e exagerada. Apenas um ano e meio depois, em janeiro de 1944, o presidente americano Franklin Roosevelt criaria uma junta para tentar salvar os judeus na Europa.

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“Nunca senti de forma tão intensa a sensação de abandono, impotência e solidão como quando mandei a mensagem de desastre e de horror ao mundo livre e ninguém acreditou em mim”, escreveu Riegner em seu livro de memórias Ne Jamais Désespérer (“Nunca se Desesperar”, inédito no Brasil), publicado na França em 1998. No livro, ele conta os detalhes da guerra e tenta entender – e explicar – o motivo pelo qual seu alerta foi ignorado por tanto tempo. Entre as causas, Riegner cita a capacidade dos dirigentes nazistas de esconderem a situação, a dificuldade geral em aceitar como verdadeiro tal plano e a existência de anti-semitismo entre os aliados. Riegner dedicou a vida à causa judaica e à defesa dos direitos humanos. De 1965 a 1983, foi secretário-geral do CMJ, que hoje atua em 80 países. Defendeu a aproximação com a Igreja Católica e envolveu-se na migração de judeus para Israel.

Riegner nunca casou nem teve filhos. Tímido e reservado, era um devorador de jornais e livros. Outro de seus prazeres eram as refeições. Era gourmet e conhecedor de vinhos. Gostava de contar histórias na mesa e falar sobre política. Morreu de pneumonia em sua casa, em dezembro de 2001, aos 90 anos de idade.

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