Ícone de fechar alerta de notificações
Avatar do usuário logado
Usuário

Usuário

email@usuario.com.br
Dia das Crianças: Revista em casa por 9,90

Gravuras de animais de 12 mil anos sinalizavam fontes de água no deserto árabe

As gravuras em tamanho real funcionavam como placas de trânsito pré-históricas, ajudando comunidades a se orientar e sobreviver.

Por Luiza Lopes
3 out 2025, 12h00

Uma equipe internacional de arqueólogos descobriu no norte da Arábia Saudita gravuras monumentais de cerca de 12 mil anos representandoem tamanho natural camelos, gazelas, íbex (um tipo de caprino), equídeos selvagens e auroques (um bovino extinto no século 17).

A pesquisa, publicada na semana passada na revista Nature Communications e conduzida pelo Projeto Arábia Verde, mostra que essas imagens não eram apenas expressão artística, mas também funcionavam como marcadores de fontes sazonais de água em uma região árida e desafiadora.

O estudo reuniu especialistas da Comissão do Patrimônio e do Ministério da Cultura da Arábia Saudita, do Instituto Max Planck de Geoantropologia, da Universidade de Ciência e Tecnologia Rei Abdullah (KAUST), da Universidade College London e do Centro Australiano de Pesquisa para Evolução Humana da Universidade Griffith, entre outras instituições.

Compartilhe essa matéria via:

Foram identificados mais de 60 painéis em três locais até então pouco explorados – Jebel Arnaan, Jebel Mleiha e Jebel Misma, no norte da Arábia Saudita – somando 176 gravuras. Dessas, 130 são representações naturalistas em tamanho real, algumas com quase três metros de comprimento e mais de dois de altura.

As esculturas foram datadas entre 12.800 e 11.400 anos atrás, período em que a região experimentou o retorno de chuvas ocasionais, depois do fim do Último Máximo Glacial – a fase mais fria da última era do gelo (cerca de 26 mil a 19 mil anos atrás), quando grande parte do planeta era árida e inóspita.

Continua após a publicidade

“Essas grandes gravuras não são apenas arte rupestre – elas provavelmente eram declarações de presença, acesso e identidade cultural”, disse a arqueóloga Maria Guagnin, do Instituto Max Planck de Geoantropologia, em comunicado. Já a coautora Ceri Shipton, da Universidade College London, destacou que “a arte rupestre marca fontes de água e rotas de movimento, possivelmente significando direitos territoriais e memória intergeracional”.

Diferentemente de locais já conhecidos, onde as imagens estavam escondidas em fendas, os painéis encontrados no norte da Arábia foram talhados em penhascos altos, alguns com até 39 metros, em pontos de grande visibilidade. Em certos casos, os artistas precisaram escalar saliências estreitas para realizar as gravuras, o que indica tanto o esforço quanto a importância simbólica dessas representações.

Fotografia da arte rupestre monumental ilustra que os humanos prosperaram no deserto da Arábia durante a transição Pleistoceno-Holoceno.
Paineis de arte rupestre monumental no norte da Árabia Sauditano norte da Arábia Saudita no norte da Arábia Saudita . Na imagem C, a figura humana foi inserida graficamente para servir de escala. (Guagnin, M., Shipton, C., Al-Jibreen, F. et al./Reprodução)

Além da arte rupestre, os arqueólogos encontraram ferramentas de pedra típicas do Levante – região que corresponde hoje a Palestina, Israel, Jordânia, Líbano e Síria –, utilizadas para entalhar a rocha dura dos penhascos. Os artistas raspavam e lascavam a superfície com ferramentas afiadas, criando contornos precisos e detalhes naturalistas, enquanto pigmentos e contas de concha marinha podem ter complementado a obra ou tido função simbólica.

Continua após a publicidade

Esses achados reforçam a hipótese de que os grupos humanos da região mantinham conexões de troca e contato cultural com comunidades distantes em até 400 quilômetros.

Ferramentas de gravação recuperadas em camadas sedimentares sob alguns painéis permitiram a datação por luminescência, confirmando a antiguidade aproximada de 12 mil anos e evidenciando as técnicas de entalhe utilizadas para criar as gravuras.

 

O posicionamento das gravuras próximo a antigos lagos sazonais sugere que elas funcionavam como marcos visuais para indicar fontes de água. “Os humanos conseguiam viver nessas áreas antes da última fase chuvosa e conseguiam sobreviver e prosperar em ambientes desafiadores”, disse Guagnin à National Geographic. Segundo ela, essa é também a evidência mais antiga de que comunidades humanas resistiram durante longos períodos de seca.

Os pesquisadores apontam que as gravuras podem ter sido feitas ao longo de até 2 mil ou 3 mil anos, com diferentes gerações acrescentando novas figuras. Esse processo sugere não apenas ocupação continuada, mas também a existência de uma tradição cultural duradoura. A predominância dos camelos, por sua vez, pode refletir simbolismos ligados à sobrevivência no deserto e à sazonalidade desses animais.

Continua após a publicidade

A descoberta amplia o entendimento sobre a presença humana na Península Arábica durante uma fase pouco documentada até então, no intervalo entre o Último Máximo Glacial e o Holoceno. “A abordagem interdisciplinar do projeto começou a preencher uma lacuna crítica no registro arqueológico do norte da Arábia, lançando luz sobre a resiliência e a inovação das primeiras comunidades do deserto”, destacou Michael Petraglia, da Universidade Griffith, em nota.

Apesar dos avanços, os pesquisadores reconhecem que ainda existem dúvidas sobre a extensão da ocupação e o papel social ou ritual das gravuras. Técnicas de datação adicionais e análises do desgaste das ferramentas podem oferecer novos pistas sobre como essas sociedades interagiam com o ambiente árido e quais estratégias permitiram sua sobrevivência e florescimento cultural em condições extremas.

Publicidade

Enquanto você lê isso, o [b] mundo muda [/b] — e quem tem [b] Superinteressante Digital [/b] sai na frente. Tenha [b] acesso imediato [/b] a ciência, tecnologia, comportamento e curiosidades que vão turbinar sua mente e te deixar sempre atualizado

Enquanto você lê isso, o [b] mundo muda [/b] — e quem tem [b] Superinteressante Digital [/b] sai na frente. Tenha [b] acesso imediato [/b] a ciência, tecnologia, comportamento e curiosidades que vão turbinar sua mente e te deixar sempre atualizado

OFERTA RELÂMPAGO

Digital Completo

Enquanto você lê isso, o mundo muda — e quem tem Superinteressante Digital sai na frente.
Tenha acesso imediato a ciência, tecnologia, comportamento e curiosidades que vão turbinar sua mente e te deixar sempre atualizado
De: R$ 16,90/mês Apenas R$ 1,99/mês
ECONOMIZE ATÉ 59% OFF

Revista em Casa + Digital Completo

Superinteressante todo mês na sua casa, além de todos os benefícios do plano Digital Completo
De: R$ 26,90/mês
A partir de R$ 10,99/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a R$1,99/mês.