Guerra de verdade
Mas o jeito desbocado e arrogante de Reed é também a maior qualidade do livro.
Denis Russo Burgierman
Não é de hoje que o chão rochoso do Leste Europeu volta e meia fica encharcado de sangue. Guerra dos Bálcãs (Conrad) não descreve nenhum desses conflitos da última década – Croácia, Bósnia, Kosovo –, mas trata do começo da Primeira Guerra Mundial. A obra é a menos conhecida do legendário correspondente de guerra americano John Reed, que, na década de 1910, esteve sempre perto de onde a História acontecia. Reed é o autor de México Rebelde, sobre a Revolução Mexicana, e de Os Dez Dias Que Abalaram o Mundo, sobre a Revolução Russa. Sua vida virou filme em Reds, com Warren Beatty.
O livro tem seus defeitos. Numa época em que a idéia de “politicamente correto” ainda era desconhecida, Reed comete mil preconceitos e gasta páginas e mais páginas para descrever a sujeira dos judeus, o mau caráter dos húngaros, a má educação dos alemães, a ingenuidade dos romenos, assim como para escancarar sua admiração por sérvios e russos. Mas o jeito desbocado e arrogante de Reed é também a maior qualidade do livro: graças a ele a obra revela de um jeito transparente os ressentimentos e os medos que cercaram a guerra. O conflito, que geralmente só conhecemos por relatos glamurizados e heróicos, ganha tons de vida real – com sangue, fraturas, epidemias, covardia, oportunistas, como qualquer guerra de verdade. Um livro sensacional, tanto para quem gosta de história quanto para quem tem interesse em viagens e aventuras. Jornalismo de primeira.