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Há 2.500 anos, um terremoto mudou a rota do Rio Ganges abruptamente

Essa é a primeira evidência de que um terremoto é capaz de deslocar um delta. Hoje, o tremor teria afetado 140 milhões de pessoas.

Por Bela Lobato
Atualizado em 20 jun 2024, 17h22 - Publicado em 19 jun 2024, 18h00

Em 2018, uma equipe de pesquisadores se deparou com manchas inusitadas no solo de uma obra na região de Daca, capital de Bangladesh. Cortando as camadas de lama, eles encontraram faixas verticais de areia clara, algo que os geólogos chamam de sismitos. Esse é um padrão que pode ser provocado pelo impacto de terremotos no solo.

Esses sismitos são maiores do que a equipe costuma observar. Eles têm de três a quatro metros de altura, e entre 30 e 40 centímetros de largura – indicando que, no passado, um tremor enorme aconteceu na região.

Até então não havia registros de um evento na região que pudesse ter causado um impacto tão grande. Após análises, os pesquisadores constataram que as marcas são fruto de um terremoto de magnitude 7 ou 8, que ocorreu há 2.500 anos.

Seu impacto foi além das cores no solo: o terremoto mudou abruptamente o curso do delta de um dos maiores rios do mundo, o Rio Ganges.

Os cientistas usaram imagens de satélite para identificar o curso original do rio, que tem cerca de 1,5 quilômetro de largura e se estende por 100 quilômetros. A área por onde o rio passava é lamacenta, inunda-se com frequência e é usada principalmente para o cultivo de arroz. Trata-se de uma região baixa e mais ou menos paralela ao curso atual do Ganges.

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“Temos os sismitos que evidenciam o terremoto e, em dois lugares, vemos evidências que indicam que o Ganges foi abandonado repentinamente”, diz o coautor do estudo Michael Steckler, coautor do estudo e geofísico da Columbia Climate School. 

Mudanças no curso dos rios não são novidade para a ciência. Esses desvios podem ser causados por terremotos ou outros fatores. Mas o que aconteceu no Ganges é impressionante para os pesquisadores: “acho que nunca vimos uma mudança tão grande em lugar algum”, diz Steckler.

O movimento do rio poderia facilmente ter afogado qualquer pessoa que estivesse no lugar errado e na hora errada, diz ele. Segundo Liz Chamberlain, principal autora do estudo, essa é a primeira evidência de um terremoto causando deslocamentos em deltas.

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Os cientistas têm duas hipóteses para a causa do terremoto. Uma delas é a convergência de placas tectônicas ao sul e ao leste, na qual uma placa oceânica teria deslizado para baixo da placa onde estão Bangladesh, Mianmar e o nordeste da Índia.

Outra hipótese é que o terremoto seja consequência do movimento causado pela grande falha na base do Himalaia, que faz com que o subcontinente indiano colida lentamente com o resto da Ásia. 

Um estudo de 2016 liderado por Steckler mostra que essas zonas estão acumulando estresse, e podem produzir terremotos comparáveis ao de 2.500 anos atrás. O último terremoto desse porte ocorreu em 1762, produzindo um tsunami gigante que subiu o rio até a capital de Bangladesh. Segundo o estudo, uma recorrência moderna desse tipo de terremoto poderia afetar 140 milhões de pessoas.

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O estudo foi publicado no periódico Nature Communications e reuniu pesquisadores da Holanda, Estados Unidos, Alemanha, Bangladesh e Áustria.  

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