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Imperadores Romanos – Vilões desmentidos

Segundo historiadores contemporâneos, muito das famigeradas intrigas e extravagâncias de Calígula e Nero são tão verdadeiras quanto os roteiros de novela. Ou seja, qualquer semelhança com a realidade pode ser mera coincidência.

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Atualizado em 31 out 2016, 18h22 - Publicado em 31 Maio 2012, 22h00

NÃO É NADA DO QUE VOCÊ ESTÁ PENSANDO

O NOME DE CALÍGULA (12-41) É SINÔNIMO DE VAIDADE, LOUCURA E PERVERSÃO. OS AUTORES CLÁSSICOS E UM FILME PORNÔ DE 1979 EM NADA CONTRIBUÍRAM PARA ABRANDAR SUA FAMA. A VERDADE É QUE SE ELE NÃO FOI O SALVADOR DA PÁTRIA, TAMBÉM NÃO ERA EXATAMENTE O VILÃO QUE SE PINTA POR AÍ.

Quem conta um conto…

A imprecisão em relação à história romana se deve, em parte, aos seus cronistas. Calígula se empenhou em concentrar poder, tornando-se pedra no sapato da aristocracia e do Senado – acontece que os historiadores da época, quando não eram representantes do Senado, no mínimo dependiam dele. São três os historiadores clássicos responsáveis pela má fama de Calígula e outros imperadores. Sêneca (?-65 d.C.) era inimigo da dinastia à qual Calígula pertencia. Cássio Dio (?-229) não testemunhou os acontecimentos, e sua apuração se baseou em relatos nada confiáveis. Já Suetônio (69-122), contemporâneo apenas do imperador Domiciano, era o que tinha a verve mais sensacionalista.

Difamação em família

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Um complô entre a guarda pretoriana (tropa de elite criada pelo imperador Augusto) e senadores culminou no assassinato de Calígula a punhaladas. Cláudio, seu tio, assumiu como líder supremo e, para acalmar os ânimos do povo, não teve dúvidas: passou a difamar o sobrinho.

VERSÃO ORIGINAL

O INCESTUO
O menino que foi criado entre os soldados era um safado incorrigível. Depois que se tornou imperador (governou de 37 a 41), pegava geral – homens e mulheres -, dormia com suas irmãs e, nas horas vagas, agia como cafetão das próprias. Drusilla, a favorita, vivia como se fosse sua mulher.

O POLÍTICO FANFARRÃO
É famosa a história de que Calígula nomeou como cônsul de Roma seu cavalo favorito, Incitatus, de quem cuidava com todos os luxos. O equino tinha como principal função despachar com os senadores de Roma – provavelmente muito pouco felizes com o interlocutor.

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O mau administrador
Calígula gostava de torcer nas corridinhas de bigas no Circus Maximus, a pista romana. Para seu próprio benefício, ele teria dobrado o número de competições, que chegaram a 24 por dia. O público vibrava. Mas tanto lazer só podia terminar em bancarrota – e esse tipo de investimento quebrou as contas de Roma.

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REMAKE

O IRMÃO ATENCIO
Os historiadores clássicos que narraram a vida de Calígula se encarregaram de espalhar a fofoca sobre os incestos. Porém, não há outros indícios de que ele fosse pervertido. É verdade que sua irmã preferida era Drusilla, tanto que Calígula a endeusava depois de morta. Mas não há nada que comprove o sexo entre os irmãos.

O GOVERNANTE DE SACO CHEIO
Pode ser que a nomeação do cavalo não passe de boato ou mal-entendido. Uma nova versão do caso sugere que Calígula disse algo como: “Antes um dos meus cavalos que qualquer um dos candidatos disponíveis” quando lhe perguntaram quem seria o próximo cônsul de Roma.

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O populista
Calígula não tinha muita vocação para a guerra, apesar de seu pai, Germânico, ter sido um general idolatrado pelo povo. Precisava dar um outro jeito de se manter no poder e ser benquisto pela população, mesmo que o Exército não estivesse com essa bola toda. Então ele resolveu incentivar as corridas de bigas, apimentar os confrontos de gladiadores (fazendo com que um deles lutasse quase desarmado) e financiar espetáculos de teatro. Porém, não há provas de que isso tenha levado Roma à falência.

ARTISTA INCOMPREENDIDO

NERO (?-68) NÃO SE INTERESSAVA PELA GUERRA. PREFERIA A MÚSICA, OS ESPORTES E, COMO BOM ATOR, UBE CONQUISTAR O POVO COM SEU CARISMA. DESPERTOU O ÓDIO DA ARISTOCRACIA E RENDEU MAL TRAÇADAS LINHAS NA HISTÓRIA. NOVOS ESTUDOS REVELAM QUE O 5º IMPERADOR ROMANO FOI BEM MENOS CARICATO DO QUE SE SUPUNHA.


Que vença a melhor

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Há quem diga que foi por uma intriga de Agripina, a mãe de Nero, que Messalina, a 3a mulher do imperador romano Cláudio, acabou morta a mando do próprio marido, sob acusação de complô. Messalina ficou conhecida por seu apetite sexual insaciável: ela promovia orgias com outros homens no seu próprio palácio. Ao que tudo indica, o maridão não dava conta do recado – mesmo assim, Agripina bem que almejou o posto de primeira dama.

VERSÃO ORIGINAL

NEM A MÃE ESCAPOU
Agripina, a mãe de Nero, era saidinha – e cheia de charme. Depois que o primeiro marido (e pai do menino) morreu, juntou-se com um milionário e assassinou o homem pra ficar com a fortuna. Daí seduziu o imperador Cláudio, que reconheceu Nero como filho adotivo. Não satisfeita, envenenou o cônjuge para que o menino fosse coroado. Nero não soube retribuir os sacrifícios maternos. Mandou matar Agripina – só conseguiu na quinta tentativa, no ano 58, quando seus capangas partiram pra facada.

INCÊNDIO CRIMINO
O imperador botou fogo em Roma em 64. Tanto era culpado que, mesmo vendo a destruição, não moveu uma palha e se aboletou no telhado de um de seus palácios tocando lira.

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Na boca do leão
Para livrar sua cara das acusações pelo incêndio, Nero resolveu jogar a culpa nos cristãos. Lançou fiéis aos leões (o que, de quebra, divertia o público das arenas) e incentivou crucificações. Foram 300 mortos – ou 10% da população cristã do século 1.

Último capítulo
Nero passou um ano e meio curtindo a vida na Grécia e se viu em maus lençóis quando voltou a Roma. Os amantes o tinham abandonado e o Senado queria sua cabeça. O jeito era cometer suicídio. Mas antes de cortar a própria garganta, aos 31 anos, ele teria anunciado, sem modéstia: “Que artista o mundo está perdendo!”

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REMAKE

FREUD EXPLICA
Ninguém contesta que Nero tenha mandado matar a própria mãe. Na época, o crime foi tão inovador que os romanos sequer tinham uma palavra para defini-lo (o termo matricídio surgiria muito depois). Acontece também que nenhum outro imperador teve uma mãe como Agripina. Sedenta por poder, ela se sentiu jogada para escanteio no governo do filho e armou um complô com os aristocratas para derrubá-lo. Venceu o mais rápido no gatilho. Ou melhor, no punhal.

UM GRANDE URBANISTA
Segundo algumas versões, Nero nem estava na cidade quando o fogo começou. Teria, inclusive, sofrido grandes prejuízos no episódio, perdendo imóveis e obras de arte para o fogo.

Houve piores
O maior algoz dos cristãos entre os imperadores foi Décio (que governou de 249 a 251), mas a fama sobrou para Nero. Assim como ele escolheu um bode expiatório para o incêndio de Roma, monges copistas da Idade Média precisavam eleger um carrasco dos seguidores de Jesus.

Lapso de tradução
Para o historiador Edward Champlin, não foi bem isso que Nero disse – se é que disse alguma coisa. É mais provável que ele tenha lamentado: “Que artesão sou eu em minha morte!” Ou seja, passava desta para melhor não como artista, mas como artesão. Um equívoco de tradução teria propagado as últimas palavras mais adequadas ao perfil vaidoso traçado para o líder.

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