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Katherine Johnson fez muito mais que ajudar o homem a chegar à lua

A matemática representada no filme "Estrelas Além do Tempo" morreu aos 101 anos. Conheça a história deste ícone.

Por Ingrid Luisa
Atualizado em 25 fev 2020, 01h07 - Publicado em 27 ago 2018, 19h29

Quando o astronauta John Glenn estava prestes a pegar seu voo para o espaço – e se tornar o primeiro norte-americano a dar dar voltas na órbita da Terra -, ele se certificou se todos os cálculos da missão foram checados “pela garota”. O ano era 1962, a missão se chamava Freedom 7, e ninguém confiou o sucesso da operação a cálculos de computadores digitais – relativamente novos e não testados na época. Katherine Johnson, uma americana negra de 44 anos, era “a garota”. A mulher confirmou todos os cálculos a mão. “Se ela afirmou que os números estão certos, estou pronto para ir”, disse Glenn. E a Freedom 7 foi um sucesso.

Esse acontecimento está no filme Estrelas Além do Tempo (Hidden Figures, 2017), baseado no livro homônimo que conta a história de três mulheres negras que mudaram a história da NASA. Sem o intelecto privilegiado de mulheres como elas, os EUA talvez não tivessem vencido a corrida espacial contra os russos.

A matemática chegou aos 100 anos em 26 de agosto de 2018, coincidentemente no Women’s Equality Day americano. Mas na última segunda (24), Katherine faleceu, aos 101 anos. Entenda aqui como ela foi muito mais que apenas um “computador” da NASA.

Katherine prodígio

Nascida Katherine Coleman, na cidade de White Sulphur Springs, Virginia, a cientista mostrou um talento superior desde cedo. Entrou no Ensino Médio com apenas 10 anos. Aos 14, ingressou no ensino superior, em uma das HBCUs (Universidades e Faculdades exclusivamente para negros), onde fez fez todos os cursos de matemática oferecidos.

Lá, encontrou no professor W. W. Schieffelin Claytor, o terceiro americano negro a obter um PhD em Matemática, seu grande mentor. Aos 18 anos, Katherine saiu da faculdade com diplomas de licenciatura em francês e em matemática. Logo, ela assumiu um emprego de professora em uma escola pública para negros, na Virgínia.

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Katherine Mãe

Quando a Virgínia Ocidental decidiu gradualmente integrar negros e brancos em seus cursos de pós-graduação, em 1939, Katherine e dois homens negros foram os primeiros alunos a serem convidados para a principal Universidade do estado, a West Virginia University. Katherine deixou seu emprego de professora e se matriculou no programa de pós-graduação em matemática. Mas, no final do primeiro ano, uma Katherin grávida decidiu deixar os estudos para se dedicar ao marido e a família.

Katherine Moore, filha mais nova da matemática e que já se referiu a mãe como “a definição de destemida”, diz que em casa ela era “apenas a mamãe”. A filha contou que a mãe ensinou a ela e as suas duas irmãs coisas básicas como arrumar a cama e costurar. E nunca lamentou da vida “ela costumava dizer que era isso. Sim, éramos segregadas, mas vivíamos nossas vidas”. Quando as filhas ficaram mais velhas, Katherin voltou a lecionar em escolas. Em 1952, porém, sua vida mudaria radicalmente.

Katherine “computador”

Naquele ano, um parente contou a Katherine sobre as vagas abertas na “Unidade de Computação da Área Oeste” do Laboratório Langley, pertencente ao Comitê Nacional para Aconselhamento sobre Aeronáutica, NACA (National Advisory Committee for Aeronautics, o precursor da NASA). Essa seção era só para mulheres negras. No verão de 1953 Katherin começou a trabalhar lá. Após apenas duas semanas, já lhe foram conferidas tarefas importantes como investigar os erros matemáticos que resultaram na queda de um avião.

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Em 4 de outubro de 1957, quando o soviético Sputnik se tornou o primeiro satélite artificial lançado ao espaço, ele não mudou apenas os cursos da Guerra Fria. Mas também a vida de Katherin Johnson. Quando uma subdivisão da NACA finalmente originou a NASA (Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço), Katherin, por já ter feito cálculos para vários cientistas, foi junto para a nova empreitada. Em 1960, Katherin assinou, junto como o engenheiro Ted Skopinski, seu primeiro relatório para a NASA. Com isso, ela se tornou a primeira mulher da sua área a receber créditos por um relatório de pesquisa.

Katherine exemplo

Quando pediram para Katherine nomear sua maior contribuição para a exploração espacial, a matemática deu as honras aos cálculos que ajudaram a tornar realidade o Programa Apollo, que acabaria levando o homem a Lua. Mas seus feitos acadêmicos vão além: em 33 anos de contribuição, ela escreveu 26 relatórios espaciais e participou da realização do Ônibus Espacial e do Satélite de Recursos Terrestres. “Eu adorava ir trabalhar todos os dias”, disse. Katherine só se aposentaria da NASA em Em 1986, aos 68 anos.

Sua história serviu de exemplo para toda uma geração de mulheres que sonhava em trabalhar com o espaço. Jasmine Byrd, que trabalha atualmente no mesmo lugar um dia ocupado por Johnson, contou à NASA sobre sua admiração: “Sou grata pela ponte que Katherine construiu para que alguém como eu possa atravessar facilmente”, disse. “Isso me ajuda a não pensar nesta oportunidade como certa. Eu sei que havia pessoas antes de mim que trabalharam muito e passaram por muitas turbulências para garantir que fosse mais fácil para pessoas como eu.”

Em 2015, aos 97 anos, Katherine Johnson acrescentou outra conquista extraordinária à sua longa lista: o presidente Obama lhe concedeu a Medalha Presidencial da Liberdade, a mais alta honraria civil dos EUA. Em 2017, ela recebeu um prédio na NASA com seu nome, o Centro de Pesquisa Computacional Katherine G. Johnson. Kimberly Bloom, diretora do Centro de Desenvolvimento Infantil de Langley, que trabalha ao lado do prédio de Katherine, disse “É uma história importante – como ela fortaleceu as mulheres – de todas as raças”.

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