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Mapa-múndi de 500 anos (e 3 metros) é montado pela 1ª vez

E dá para navegar por uma versão digitalizada dele – uma representação do mundo conhecido à época de Cabral – sem Austrália e cheio de sereias e unicórnios

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
31 jan 2018, 17h11

Em 1569, o holandês Gerardus Mercator criou a projeção cartográfica mais popular da história – famosa por aumentar a Groenlândia, e usada pelo Google Maps até hoje. Duas décadas depois, em 1587, um cartógrafo bem mais obscuro, Urbano Monte, chutou o balde e publicou o maior mapa já desenhado até então. Mas ele foi praticamente esquecido.

O mapa do italiano, colorido e minucioso, tinha três metros de diâmetro. Para guardá-lo, foi preciso dividi-lo em 60 páginas – como acontecia com os mapas de ruas das cidades brasileiras na lista telefônica (as famosas páginas amarelas) ou nos mapões do saudoso GUIA 4 RODAS.

Se você tivesse uma mesa grande o suficiente, poderia remontá-lo, como um quebra-cabeças. Mas ninguém fez isso nos últimos 400 anos. Em vez disso, os pedaços ficaram guardados dentro de um atlas, que por sua vez estava trancado no acervo cartográfico da Universidade Stanford, na Califórnia – o David Rumsey Map Center.

Agora, o mapa extragrande foi remontado por um grupo de especialistas, e está em exposição no campus da universidade. Na alta probabilidade de você não estar lá para visitá-lo, a opção é acessar uma versão digitalizada do documento – que não deve nada ao original, tirando, talvez, o cheiro de papel muito, muito antigo. Você pode ver as 60 páginas separadas, girar o mapa em torno do próprio eixo e até vê-lo em forma de globo (esse, de longe, é o link mais legal).

Monte usou uma projeção polar – a mesma estampada na bandeira das Nações Unidas, em que o mundo é visto “de cima”. Esse tipo de mapa aumenta a área de massas de terra opostas ao polo usado para projetá-lo – o que significa, para simplificar, que o hemisfério sul fica bem maior e mais distorcido que o norte.

Foi uma opção ousada naquela época, em que o Brasil ainda era um naco de terra recém descoberto, e os contornos de seu litoral não podiam ser traçados com precisão. Da Austrália, mal se suspeitava a existência: em seu lugar, havia uma espécie de extensão improvisada da Antártida. E todo mundo apostava que o oeste dos EUA era uma ilha fina e comprida.

Onde Monte teve condições de acertar, porém, ele acertou. Incluiu até a Terra do Fogo – a ilha no extremo sul das Américas que é divida entre Chile e Argentina. Prova de que o intelectual tinha os amigos certos na sociedade da época é o fato de ele estar bem informado sobre o material coletado por expedições como a de Fernão de Magalhães, que terminou a primeira volta completa no globo em 1522.

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