Met, o maior museu de Nova York, devolve ao Egito artefato roubado em 2011
O Metropolitan Museum of Art gastou 3,5 milhões de euros em um sarcófago do século 1 a.C.. Só tinha um problema: os documentos dele eram falsos.
Se um dia tiver a chance de ir a Nova York, é bem provável que você visite o Metropolitan Museum of Art. Localizado dentro do Central Park, em Manhattan, o “Met” foi fundado em 1870 e é o quinto museu mais frequentado do mundo, com 6,2 milhões de visitantes por ano.
Recentemente, o museu tinha organizado uma exposição em torno de uma de suas mais novas aquisições: um sarcófago egípcio datado do século 1 a.C. ornamentado em ouro. O caixão pertenceu a Nedjemankh, um sacerdote de alto escalão do deus Hersafes, ligado à fertilidade e à justiça e que, na mitologia, era representado como um homem com uma cabeça de carneiro.
Pois bem. Até semana passada, quem passasse pelo Met poderia conferir toda a história em torno do sarcófago, cujos (vários) ornamentos contam a história de como o sacerdote enfrentou sua jornada da morte para a vida eterna. No Antigo Egito, o ouro era ligado a deuses e mortos divinizados, e usá-lo poderia ajudar a pessoa a renascer na próxima vida.
Mas, no último dia 15, a exposição foi encerrada antes da hora. O motivo? O artefato, na verdade, foi roubado do Egito.
Documentação falsa
Uma investigação a pedido do promotor público de Manhattan descobriu que o sarcófago foi saqueado do seu país de origem em 2011. O item foi adquirido pelo Met em 2017 por 3,5 milhões de euros (R$ 14,8 milhões) de um negociante de arte francês chamado Christophe Kunicki.
Segundo o jornal The New York Times, funcionários do museu disseram que foram enganados com documentações falsas que mostravam todo o histórico do sarcófago, além de uma licença forjada de exportação em 1971.
A exposição de Nedjemankh iria até o dia 21 de abril, mas depois da descoberta o Met decidiu encerrá-la. O presidente e diretor executivo do museu, Daniel Weiss, enviou um pedido de desculpas para Khaled El-Enany, ministro de Antiguidades do Egito, e disse que o Met está empenhado em ajudar para evitar “futuras ofensas contra a propriedade cultural”.
Problema antigo
Não é a primeira vez que o Met se envolve em um problema do tipo. Em 2017, o museu devolveu ao governo da Itália um vaso de 2,3 mil anos, também suspeito de ter sido saqueado do seu país natal, nos anos 1970. De origem greco-romana, a cratera (vaso usado para misturar água e vinho) possuía imagens de Dionísio, deus do vinho e das festas.
Nem o Brasil escapa dessa. Em dezembro de 2018, o Itaú Cultural do Rio de Janeiro oficializou um acordo para devolver quatro obras ao acervo da Biblioteca Nacional do Rio. Na época, outras oito gravuras também já haviam sido enviadas de volta ao local. As devoluções aconteceram depois de uma confissão de um dos maiores ladrões de arte do país, Laérssio Rodrigues.
Casos como esse reforçam a importância dos métodos de verificação de autenticidade e verificação dos museus ao se adquirir uma antiguidade. O mercado paralelo de arte é um dos maiores mercados ilegais do mundo, movimentando de 4 a 6 bilhões de dólares. Fica atrás apenas dos tráficos de armas e de drogas e da lavagem de dinheiro. Todo cuidado é pouco para que uma falsificação não vire a obra-prima de qualquer larápio.