“Meu inimigo é apenas o teu nome. Continuarias sendo o que és, se acaso Montecchio tu não fosses. Que é Montecchio? Não será mão, nem pé, nem braço ou rosto, nem parte alguma que pertença ao corpo. Se outro nome. Que há num simples nome? O que chamamos rosa, sob uma outra designação, teria igual perfume”, diz um trecho célebre de Romeu e Julieta, de William Shakespeare.
A personagem Julieta morreu por causa de um nome. Perdeu a vida porque carregava o nome da família inimiga de seu amor, Romeu. A passagem da obra de Shakespeare ilustra bem a idéia do nome como convenção, ou seja, uma espécie de acordo para identificar um objeto ou uma pessoa. Mas se o nome fosse apenas isso, a própria peça de Shakespeare não seria possível, pois trata das conseqüências da rivalidade entre dois nomes – ou os significados que eles adquiriram –, os Montecchio e os Capuleto. Esse caráter ambíguo dos nomes, marcados de um lado pela convenção e do outro pelo significado, foi sendo construído durante a própria história das civilizações e é uma importante área de estudo atualmente para os lingüistas e críticos da cultura.
Os nomes surgiram com o próprio advento da linguagem, na Pré-História. A partir do momento em que descobre que é capaz de dominar e transformar a natureza, o homem começa a perceber também que pode nomeá-la e se comunicar, lançando as bases para o desenvolvimento das sociedades. A partir da vida em comunidade surgiu a necessidade de nomear as pessoas. Os nomes pessoais são encontrados em todas as culturas conhecidas, desde seus mais antigos estágios. Não se sabe exatamente como surgiram, mas se acredita que eles designavam aspectos ou características externas atribuídas a quem os recebia. Por exemplo, Alexandre significa protetor, Cândido quer dizer puro, Ester significa estrela e Beatriz pode ser viajante ou bondade e assim por diante.
Com o crescimento das sociedades, os nomes começaram a se repetir, então surgiu o sobrenome para diferenciar pessoas com nomes comuns. Na Bíblia, por exemplo, os sobrenomes freqüentemente designam a cidade de origem, como Jesus de Nazaré ou Maria Madalena (de Magdala). Na Europa, os sobrenomes só começaram a ser usados na Idade Média, por volta do século 12.
Além da cidade de nascimento, deram origem aos sobrenomes europeus a profissão, como Pastore, que quer dizer pastor em italiano, e características pessoais, como Rossi, que se refere a alguém que tenha os cabelos ruivos. Muitos sobrenomes também se originaram de patronímicos, ou seja, da identificação a partir da filiação. Isso é mais evidente atualmente em línguas como a inglesa, onde o nome Johnson, por exemplo, deriva de filho de John (son of John).