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Os dinossauros eram répteis ou pássaros?

Eles tinham penas, chocavam ovos e eram ágeis no poleiro

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 9 jan 2023, 22h55 - Publicado em 30 jun 2000, 22h00

Os dinossauros se extinguiram, sem dúvida. Mas alguns de seus parentes sobreviveram ao meteoro que acertou a Terra há 65 milhões de anos. Na verdade, um deles pode estar morando em sua casa, numa gaiola. Novas descobertas indicam que os dinos eram muito parecidos com os pássaros.

Em abril, paleontólogos revelaram a descoberta no Estado americano de Montana de um fóssil de bambiraptor, um carnívoro do tamanho de uma galinha. Isso mesmo. Nem todos os dinos eram grandões. “As patas dianteiras se pareciam com as asas de aves”, afirmou à SUPER o paleontólogo David Burnham, da Universidade de Kansas. Não por acaso, o bambiraptor era da família dos deinonicossauros, os bípedes carnívoros da ordem dos terópodes que originaram as aves. Outra espécie da mesma família é a dos troodontes, que se destacava pelo cérebro desenvolvido e pela agilidade de pássaro.

Muitos répteis pré-históricos possuíam penas, que serviam para manter a temperatura. Várias foram achadas em Liaoning, no nordeste da China, em 1998. Agora em junho, cientistas chineses encontraram lá ossos de um bípede do tamanho de um peru, o caudipteryx. A pata traseira parecia tanto a de uma ave que os especialistas acham que o animal vivia empoleirado.

As evidências sugerem que os lagartões – que viraram superestrelas do belo mas impreciso filme Dinossauro, da Disney – tinham a agilidade das aves, cuidavam dos filhotes como elas e chocavam ovos. Só faltava mesmo piar.

Monstros chocavam os filhos

Certo. A fama de carnívoros selvagens não combina com convívio familiar. Mas cada vez surgem mais evidências de que várias espécies de dinossauro cuidavam dos filhotes e tinham organização social. No final de 1998, cientistas americanos e argentinos divulgaram a descoberta de milhares de ovos espalhados por diferentes profundidades em uma área de 1 quilômetro quadrado no noroeste da Patagônia, na Argentina. Provavelmente todo ano os gigantescos saurópodes – quadrúpedes herbívoros como os grandões à esquerda – se reuniam nesse lugar para pôr ovos.

A estrutura dos ninhos ficou preservada, assim como os embriões nos ovos e até pedaços fossilizados de pele. “A descoberta mostra que os dinos tinham hábitos sociais. Eles se reuniam em locais específicos para a oviposição, da mesma forma que algumas aves fazem hoje”, explica o paleontólogo brasileiro Max Langer, da Universidade de Bristol, na Inglaterra. Répteis contemporâneos não se dedicam tanto à família. As tartarugas, por exemplo, largam seus ovos na praia e não voltam nunca mais, nem para saber como os filhos vão passando.

No sítio arqueológico Ukhaa Tolgod, no Deserto de Gobi, na Mongólia, cientistas americanos acharam em 1995 um oviraptor fossilizado enquanto chocava os ovos. Com 80 milhões de anos, o animal foi provavelmente morto repentinamente por uma tempestade de areia. Tal como uma ave, suas pernas estão dobradas atrás do corpo e os braços envolvem os ovos. Foi o seu último gesto protetor. “O achado nos deixa ainda mais certos de que os dinossauros tinham cuidados especiais com a prole”, afirma o paleontólogo Reinaldo Bertini, da Universidade Estadual Paulista, em Rio Claro.

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Predomínio

Até a extinção, os dinos mandaram no mundo sem rivais. “Não se sabe ao certo por que se tornaram um grupo tão abundante e diversificado. Eles dominaram os ecossistemas do planeta por 150 milhões de anos”, diz Langer. O cuidado com os filhotes pode ter sido uma das razões desse sucesso. Outra vantagem, sem dúvida, era a força. “A anatomia dos bichões permitia trucidar seus oponentes”, ressalta Bertini.

Mas uma coisa sempre intrigou os pesquisadores. De que adiantava tanta força se os dinossauros arrastassem o corpanzil com a lerdeza da prima tartaruga? A resposta agora está muito clara: na verdade, os dinos eram animais ágeis. Tanto quanto as aves de hoje.

Coração de pedra matou a charada

Quando um paleontólogo acha um dinossauro, costuma separar o esqueleto das pedras com um martelinho. Mas pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, tiveram uma idéia diferente ao desenterrarem no Estado americano de Dakota do Sul o fóssil de um hipsolofodonte, um quadrúpede herbívoro de 4 metros de comprimento. Eles colocaram um pedaço da pedra que estava perto do peito do animal em um tomógrafo, aparelho de raios X usado pelos médicos em exames de cérebro. Surpresa! Era um coração fossilizado que parou de bater há 66 milhões de anos. A descoberta, impressionante, foi anunciada em abril deste ano.

O coração de Willo – como o morto foi apelidado – possui quatro cavidades, do mesmo modo que o das aves e o dos mamíferos. Com isso, o sangue oxigenado pelo órgão não se mistura com aquele sem oxigênio, ao contrário do que acontece com a maioria dos répteis modernos, que só têm três câmaras. “É um indício forte de que os dinossauros eram mais ágeis e mais ativos do que pensamos”, explicou à SUPER o paleontólogo Dale Russell, da Universidade da Carolina do Norte, um dos pesquisadores do projeto. “Eles possuíam uma anatomia mais complexa que a dos répteis atuais.” Mais uma semelhança com as aves.

Sangue frio

Depois da descoberta do coração, os cientistas passaram a levar mais a sério a hipótese de que os lagartões fossem homeotermos, ou seja, capazes de manter a temperatura do seu corpo em qualquer ambiente. Só um coração complexo é capaz de deixar o sangue aquecido independentemente do frio que faz lá fora.

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Diferentemente das aves, os répteis atuais são incapazes de manter esse calor interno. Pela manhã, quando o sangue ainda está frio, o organismo deles funciona lentamente. Isso porque, sem calor, não há energia para acionar as reações químicas que movem o corpo. Ao longo do dia, o sol aquece o animal e permite que ele se torne ágil o suficiente para caçar um cobiçado almoço.

O tempo para o aquecimento varia de acordo com o tamanho do bicho – cada meia tonelada leva entre 2 e 4 horas para esquentar. Esse sistema pode ser prático para uma lagartixa, mas não para um braquiossauro de 70 toneladas. Nem um dia inteiro de verão seria suficiente para lhe dar velocidade.

A homeotermia também explica os misteriosos fósseis de dinos encontrados em lugares como a Austrália desde os anos 70. Durante a era dos dinossauros, essa região estava unida à Antártida em um só continente gelado. Durante seis meses do ano, o Sol nem aparecia lá. Um animal de sangue frio jamais sobreviveria. Mas uma ave passaria muito bem. Os pingüins que o digam.

O destino das bestas inteligentes

Há 65 milhões de anos todos os dinossauros desapareceram. Ficaram apenas seus parentes distantes, as aves, além de alguns pequenos mamíferos, que depois se desenvolveram e se espalharam pelo planeta.

Mas o que aconteceria se os grandes répteis não tivessem morrido? Dale Russell, o paleontólogo americano descobridor do coração de pedra, formulou um cenário alternativo perturbador com base nas teorias evolutivas. Para ele, os dinos tomariam o lugar dos homens.

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Primeiro teriam diminuído de tamanho, pois na época já apresentavam essa tendência. Além disso, seu minúsculo cérebro cresceria. Há 65 milhões de anos, os mamíferos não passavam de pequenos roedores com cérebro de ostra. Se aqueles ratos evoluíram até ganhar a inteligência do ser humano, porque não acreditar que o mesmo pudesse ocorrer com alguns dinos?

Assim, o principal candidato a nos substituir seriam os troodontes, deinonicossauros da ordem dos terópodes. “Eles se pareciam com os macacos de hoje”, diz Russell. Tinham postura bípede, dedos em forma de pinça capazes de manipular objetos com precisão e olhos com ampla área de visão. O cientista acha que o peso da cabeça aumentaria, forçando a uma postura mais ereta.

Quanto aos mamíferos como nós, provavelmente continuaríamos roedores desprezíveis, escondidos em tocas. A competição evolutiva com dinos inteligentes não seria nada fácil. Seríamos a comida deles.

Algo mais

Três dos dinos mais antigos conhecidos, o eoraptor, o herrerassauro e o pisanossauro, moraram na Argentina, há 230 milhões de anos. Na mesma época, dois viveram no Brasil, o staurikossauro e o saturnalia. Este último, encontrado por Max Langer em 1998, em Santa Maria (RS), é o mais velho ancestral dos herbívoros saurópodes.

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Passarossauros

Os dinos eram mais ágeis que os répteis modernos. E cuidavam muito bem de seus ovos.

Bons pais

Tal como aves, os dinos cuidavam da prole. Este hadrossauro, um herbívoro de 4 toneladas, defende o ninho contra o ataque.

Penosos

Os troodontes, carnívoros que caçavam em grupo, tinham o corpo coberto por penas. Eram ágeis. Seu metabolismo era mais rápido do que o dos répteis atuais e semelhante ao dos pássaros.

Local: América do Norte

Época: 65 milhões de anos atrás

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Gangue organizada

Os lagartões pré-históricos não eram caçadores solitários. Tal como as aves, agiam em grupo e viviam socialmente.

Família unida

Os iguanodontes, protagonistas do filme Dinossauro, da Disney, conviviam em grupos. Pegadas preservadas nas rochas mostram que os mais jovens ficavam no centro da manada, protegidos pelos mais velhos.

Garra firme

Os deinonicossauros eram temíveis predadores. Ágeis e organizados, seguravam a presa com as patas dianteiras enquanto as traseiras abriam talhos no seu corpo.

Urubu gigante

O carnotauro, primo próximo do feroz Tyrannosaurus rex, devia comer carniça, diferentemente do que sempre se achou, porque a anatomia das pernas não lhe permitia correr para caçar. Além disso, ele possuía amplas fossas nasais, possivelmente para farejar carne morta.

Local: América do Sul

Época: 125 milhões de anos atrás

Ponto final

Um meteoro pôs fim a uma imensa variedade de animais.

Hecatombe astronômica

65 milhões de anos atrás

A queda de um meteoro matou de uma vez quase todos os animais. Só sobraram tartarugas, crocodilos, aves e mamíferos. Estes dois últimos se espalharam pelo mundo.

Sangue quente, tempo frio

Répteis de sangue frio dificilmente sobreviveriam em regiões frias, a não ser que hibernassem. Mas há muitos fósseis em continentes gelados. A hipótese de os dinos terem sangue quente é cada vez mais aceita.

Calor peludo

Os mamíferos surgiram há 230 milhões de anos, mas até a extinção dos dinossauros não passavam de pequenos roedores. Dotados de sangue quente e recobertos de pelos, estavam bem aparelhados para sobreviver no frio.

Local: Austrália

Época: 105 milhões de anos atrás

Réptil superior

Para o paleontólogo Dale Russell, os dinos ficariam inteligentes se não tivessem se extinguido.

Descendente dos troodontes, o dino superior teria cérebro e olhos grandes, mas não orelhas.

Sem dentes, sua boca possuiria uma superfície de queratina (igual à da unha) para triturar alimentos.

Não teria rótula.

Nos três dedos da mão, um seria oposto aos demais, para executar movimentos de pinça.

Seria um bípede com postura ereta, para sustentar o peso da cabeça.

A genitália seria coberta por uma bolsa pélvica, como nos dinossauros.

Teria três dedos nos pés, e o menor no meio, como os troodontes.

Mamíferos, como nós, pouco evoluiriam. Poderíamos ser bichos de estimação.

Filme da Disney erra muito

O vilão da história já não existia quando caiu o meteoro.

O filme Dinossauro, da Disney, que estreou no final de junho, é uma bela reconstrução do mundo pré-histórico, mas incorre em várias falhas. Para começar, o iguanodonte Aladar, o protagonista, não poderia existir na América do Norte de 65 milhões de anos atrás, quando um meteoro atingiu a Terra e levou os lagartões à extinção. Pelos registros fósseis, sua espécie desapareceu poucos antes.

Os vilões carnotauros também não deviam aparecer na tela. Eles sumiram 40 milhões de anos antes da época retratada. Esses predadores, aliás, nunca passaram pela região focalizada, porque habitavam a América do Sul. Idem para os lêmures, os simpáticos primatas que criaram Aladar. Eles não tinham sequer surgido naquele tempo. Tampouco deveria existir grama nas montanhas do filme e muito menos braquiossauros, aqueles gigantes pescoçudos que passeiam nelas, já que se extinguiram 80 milhões de anos antes.Mesmo assim, o paleontólogo Reinaldo Bertini, que assistiu ao filme com a SUPER, gostou da diversão. “É um bom programa para crianças.”

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