O que é o risco-país?
O governo brasileiro dispõe de 42 bilhões de dólares em reservas, mais que o suficiente para saldar suas dívidas. Se há motivos para preocupação, o risco-país não é um deles.
Rodrigo Velloso
O noticiário dos últimos meses não tem falado em outra coisa e, mesmo assim, ainda existe confusão em torno do assunto. Em uma definição simplificada, esse conceito funciona como um termômetro psicológico do mercado internacional de investimentos – uma avaliação do grau de credibilidade econômica que determinado país inspira a quem estuda a possibilidade de nele aplicar seu capital. Boa parte da imprensa, porém, tem usado o termo como sinônimo do EMBI+ (Emerging Markets Bond Index, ou Índice de Títulos de Mercados Emergentes), parecido com o índice das bolsas de valores mas que mede títulos públicos em vez de ações de empresas privadas. “O EMBI+ só avalia o risco de não-pagamento da dívida externa do país em questão.
Já o risco-país é um conceito mais abrangente e teórico, que contempla vários outros tipos de risco, como perigos potenciais no câmbio e na solvência do sistema financeiro interno”, afirma o economista brasileiro Drausio Giacomelli, vice-presidente do Banco J.P. Morgan, em Nova York, estabelecimento responsável pela criação e pelo cálculo diário do EMBI+.
Para se endividar no exterior, o governo emite papéis (os tais títulos) nos quais se compromete a pagar um determinado valor, em dólar, em alguma data futura. Esses papéis são leiloados no mercado a um determinado preço e a diferença entre esse preço e o valor futuro são os juros – que representam quanto os investidores cobram para emprestar dinheiro, ou, em outras palavras, quanto exigem para correr o risco de não serem pagos. Assim, fica mais fácil entender por que o risco-país mede uma condição psicológica: o estado de espírito e a confiança da média de um grupo de pessoas. Como existe um mercado secundário para esses títulos, onde os investidores os compram e os vendem uns aos outros todo dia, os preços e, portanto, os juros podem variar bastante. O EMBI+ mede o juro médio ao qual os títulos são negociados a cada 24 horas e os compara aos juros pagos por títulos da dívida do governo americano, considerados os mais seguros do mundo.
Para entender as variações do índice, então, é importante saber quem são estes seres cujo estado psicológico tenta-se decifrar. Há vários tipos de investidores – desde indivíduos e empresas a bancos e fundos de pensão – mas eles podem ser divididos em dois principais grupos: os voláteis e os não-voláteis. A diferença está na intenção ao comprar o título. Os voláteis pretendem ganhar dinheiro adivinhando quanto os preços dos títulos vão variar no curto prazo e apostando em suas previsões. Por isso mesmo, o dinheiro desses investidores é chamado de capital especulativo. Os não-voláteis, por sua vez, compram os títulos com a intenção de segurá-los para que rendam os juros prometidos pelo governo. É impossível saber exatamente quanto das compras e vendas de cada dia partem de cada um desses grupos, mas dá para supor, pela natureza de ambos, que a maior parte da influência no EMBI+ de um dia para o outro vem dos especulativos.
Ou seja: o indicador mede o estado psicológico de um grupo pequeno de apostadores que estão tentando ganhar dinheiro o mais rápido possível. A origem especulativa das variações indica que quanto maior o valor da dívida externa de um país, maior a variação em seu EMBI+ – se o país tem mais títulos é mais provável que sejam negociados com maior freqüência. Por isso, não faz sentido comparar o Brasil com a Nigéria ou com a falida Argentina, que têm dívidas muito menores. Por esse critério, o Brasil só seria comparável a outras duas grandes economias: Rússia e México. Tampouco importa se somos penúltimos ou antepenúltimos do mundo neste ranking, já que são considerados apenas 21 países (os tais “mercados emergentes”: veja tabela à esquerda).
O governo brasileiro dispõe de 42 bilhões de dólares em reservas, mais que o suficiente para saldar suas dívidas. Se há motivos para preocupação, o risco-país não é um deles.