Eduardo Szklarz
A partir do século 2 a.C., os deuses gregos foram absorvidos pela cultura romana e ganharam novos nomes. Zeus foi chamado de Júpiter, Dionísio se converteu em Baco, Posêidon virou Netuno, Afrodite virou Vênus, Artemis se tornou Diana, e assim por diante. A própria origem de Roma tem relação com a mitologia grega: Eneas, o príncipe derrotado de Troia, filho do mortal Anchises com a deusa Vênus, fez uma longa jornada até as margens do rio Tibre e foi o fundador da estirpe dos romanos, inclusive dos gêmeos Rômulo e Remo, que mais tarde fundariam a cidade de Roma.
“A analogia dos deuses não foi complicada porque os dois povos eram indo-europeus. Já havia sincretismo dos dois lados”, diz Jacyntho Lins Brandão, professor de língua e literatura gregas da UFMG. Assim, Zeus e Júpiter correspondiam ao deus indo-europeu do céu. Tanto que o nome Zeus tem a mesma raiz do latim dies (“dia”). Esses termos remetem a Dyeus (deus do céu, iluminado e brilhante) – o pai dos deuses no panteão indo-europeu. Isso explica por que os romanos diziam “dyeus pater”, que derivou para Júpiter, o nome do deus em latim.
Os romanos também incorporaram os deuses dos etruscos, que viviam no centro da Itália. A mitologia etrusca gravitava em torno de uma tríade: Tinia (regente dos céus), Uni (deusa do Cosmos) e Menrva (rainha da sabedoria). Em Roma, essa trinca se converteu em Júpiter, Juno e Minerva. Mesmo assim, os deuses não tinham um único caráter. Sua história variava em cada cidade, inclusive dentro do mesmo país. Hoje, estamos acostumados a pensar que cada deus é de um jeito e que cada religião tem seu deus. Na Antiguidade era bem diferente. “Não havia uniformidade nas religiões clássicas, pois elas nunca tiveram um livro sagrado. Portanto, não havia história oficial”, diz Jacyntho.
Sem o monoteísmo e a exclusividade religiosa, as pessoas frequentavam cultos muito mais abertos. Prova disso é o edifício Panteon, que os romanos construíram para abrigar todos os deuses. Os conflitos só começaram quando Roma adotou o cristianismo, no século 4. Os súditos do império não compreendiam por que deveriam adotar só o deus cristão. “Eles diziam: você pode ser cristão, mas venha também à festa de Zeus”, diz Jacyntho.
Uma herança dos heróis troianos
Eneas, o príncipe fugitivo de Troia, foi o responsável pelo surgimento da estirpe que, mais tarde, com Rômulo e Remo, fundaria Roma.