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Olga Benario é uma invenção da propaganda comunista?

A mulher que encantou Luís Carlos Prestes e morreu numa câmara de gás na Alemanha nazista não teria sido a heroína revolucionária que o cinema transformou num mito romântico. Foi um pouco menos, dizem as teorias conspiratórias

Por Lia Hama
Atualizado em 15 fev 2018, 15h25 - Publicado em 30 set 2004, 22h00

Sabe aquela história da Olga Benario, a heroína revolucionária que lutava por uma causa nobre e que acabou morrendo de forma trágica em razão de seus ideais humanistas? Pois é, tudo bobagem. Olga nunca teve a importância que lhe foi dada no livro do jornalista Fernando Morais, cuja versão foi levada recentemente às telas do cinema pelo diretor Jayme Monjardim e já arrancou lágrimas de centenas de milhares de pessoas em todo o país. Na verdade, o mito romântico da revolucionária nasceu da propaganda comunista, que precisava criar exemplos de coragem e bravura entre os jovens da Alemanha na primeira metade do século 20. É o que afirmam movimentos anticomunistas, como o grupo Terrorismo Nunca Mais (Ternuma), e jornalistas como William Waack, que vasculhou os arquivos secretos da ex-União Soviética em busca de informações sobre o movimento comunista no Brasil. O resultado da pesquisa de Waack foi o livro Camaradas: nos Arquivos de Moscou.

Olga só se tornou famosa no Brasil depois da publicação do livro de Fernando Morais, em 1985. Antes, ela praticamente só aparecia em notas de rodapé. Em O Cavaleiro da Esperança, de 1942, biografia escrita por Jorge Amado sobre Luís Carlos Prestes, ela ocupa apenas meia página. No álbum comemorativo dos 60 anos do Partido Comunista Brasileiro, em 1982, é citada somente em três linhas. Segundo Waack, o livro de Morais é baseado na biografia de Olga feita pela alemã Ruth Werner a pedido do Partido Comunista alemão, em 1962. “São trabalhos que não contam a realidade”, afirmou Waack à revista Época.

No livro de Morais, por exemplo, Olga aparece liderando uma ação cinematográfica de libertação do namorado, o comunista alemão Otto Braun, em um tribunal. “Documentos mostram que ela não promoveu a operação, mas o partido comunista alemão decidiu que a história seria assim para transformá-la em um monumento de bravura”, disse William Waack.

Obediente

E como era a Olga que Waack conheceu em suas pesquisas? “Uma profissional do serviço secreto militar soviético, treinada para obedecer em qualquer circunstância, sem jamais duvidar dos chefes e da linha estabelecida pelo partido, disciplinada, mas sem interesse por assuntos teóricos, que ao chegar ao Brasil perdeu o foco da missão”, descreveu o jornalista. Espiã do serviço secreto soviético, Olga havia sido designada para atuar como guarda-costas de Prestes na volta de seu exílio de Moscou para o Rio de Janeiro. Para não levantar suspeitas, eles deveriam se passar por um casal rico em lua-de-mel. Só que eles se apaixonaram de verdade e Olga decidiu ficar no Brasil para ajudar na revolução. Como se sabe, o golpe de 1935 fracassou e o casal foi preso. Grávida de sete meses, Olga, que, além de comunista, era judia, foi deportada para a Alemanha nazista, onde morreu numa câmara de gás, conforme mostra o filme de Monjardim, escolhido para representar o Brasil no Oscar de 2005.

O lado romântico de Prestes e de Olga é igualmente rejeitado por Waack. Ele cita como exemplo o fato de que, entre a derrota do levante comunista de novembro de 1935 e a prisão do casal, no início de 1936, Prestes mandou matar a namorada do secretário-geral do PCB, Elza, de 18 anos, que foi estrangulada por militantes do partido. “Ele suspeitava, erroneamente, que Elza fosse informante da polícia. E Olga não se opôs à decisão, segundo o agente soviético no Rio que chefiava o esquema clandestino. Não havia nada de romântico ali.” A opinião é compartilhada pelo também jornalista Reinaldo Azevedo. “Não aprecio o suposto heroísmo de Olga ou de Prestes porque rejeito vivamente suas convicções. Considero-os partidários de um mundo tão totalitário quanto era o nazi-fascismo, com a agravante de que aquele, ao menos, não tinha licença moral a reivindicar e assumia o horror como método. Os comunistas ousaram criar a indústria da morte em nome do humanismo”, escreveu Azevedo em um artigo na revista Primeira Leitura.

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Dupla missão

Grupos direitistas vão ainda mais longe na rejeição ao mito da heroína alemã. “Olga Benario? Uma estranha sem nenhum significado. Uma espiã que veio para o Brasil com duas missões, seduzir Luís Carlos Prestes e tramar contra o nosso povo, para introduzir uma ditadura comunista”, afirma um texto no site do grupo Ternuma. Outro artigo, intitulado A Farsa de Olga, no site Integralismo, afirma que Olga “era apenas e tão somente uma agente do serviço secreto da URSS e tinha como o objetivo transformar o Brasil em mais um satélite da URSS”.

Afinal, heroína ou bandida? Para Azevedo, há doses de heroísmo e banditismo em Olga, assim como em outros personagens históricos – como foi o próprio Getúlio Vargas, algoz da militante comunista, que a teria entregado para a Alemanha nazista.

Eu acredito!

“A Olga de verdade não era essa do filme ou do livro de Fernando Morais? Ah, jura? Que Fernando Morais apresentou uma versão romântica de Olga eu não tenho dúvida. Ela não era nem tão inteligente nem tão importante para o Partido Comunista quanto o texto faz crer. Que Jayme Monjardim rechearia a história de estereótipos, para fazer um dos filmes mais chatos dos últimos tempos, eu também já esperava. É o seu estilo. Mas isso é inevitável nas biografias dos heróis. Os que vão parar nas páginas dos livros ou na tela do cinema ficam mais inteligentes. Mais brilhantes. Mais corajosos. Afinal, heróis são heróis, pomba!”

Celso Miranda, editor de Aventuras na História, assistiu Olga 13 vezes. Não gostou de nenhuma

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