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Pompeia foi reocupada após a erupção do Vesúvio – e permaneceu habitada por séculos

Novas escavações indicam a formação de um assentamento desorganizado, sem planejamento urbano e reutilização de recursos.

Por Luiza Lopes
8 ago 2025, 16h00

A cidade romana de Pompeia, destruída pela erupção do monte Vesúvio no ano 79, é conhecida por ter sido preservada sob toneladas de cinzas vulcânicas. Desde o início das escavações, em 1748, os arqueólogos concentraram seus esforços nos níveis associados à tragédia, revelando casas, utensílios, pinturas e até corpos em posição de fuga.

Isso consolidou a imagem de uma cidade subitamente paralisada no tempo. No entanto, novas pesquisas mostram que a destruição não marcou o fim da ocupação humana no local.

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Dados recentes obtidos por arqueólogos do Parco Archeologico di Pompei, órgão que administra o sítio, e divulgados no E-Journal Scavi di Pompei, indicam que áreas da cidade continuaram a ser habitadas por mais de quatro séculos após o desastre.

As evidências surgiram durante obras de conservação realizadas na Insula Meridionalis, setor situado ao sul da antiga Pompeia, próximo ao Templo de Vênus e à Villa Imperial. O local preserva restos de edificações de vários pavimentos e sofreu intervenções apenas pontuais desde o século 19.

As escavações trouxeram à tona lareiras, fornos, utensílios cerâmicos, moedas e sepultamentos, todos situados acima da camada de material vulcânico. Esses elementos confirmam que parte das estruturas romanas foi reutilizada e adaptada após o evento de 79.

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Fotografia do forno que foi construído depois de 79 d.C.
(Parco Archeologico di Pompei/Divulgação)

Em muitos casos, os andares superiores ainda visíveis das antigas construções serviram de base para novas moradias. Porões, cisternas e depósitos passaram a ser utilizados como áreas de convivência, produção e abrigo. Ambientes soterrados foram acessados por escadas improvisadas e reaproveitados com técnicas construtivas simples.

A chamada Casa dos Mosaicos Geométricos, por exemplo, revelou uma antiga cisterna convertida em espaço doméstico. Ali foi identificado um forno construído com blocos de tufo, fragmentos de colunas e argamassa reaproveitada.

Próximo à estrutura foram encontrados restos de pinhões queimados, ossos de animais e fragmentos de recipientes cerâmicos, além de uma moeda cunhada em 326, sob o imperador Constantino II. Também foi localizada uma lâmpada a óleo com o símbolo cristão Chi-Rho, indicando a presença de cristãos entre os ocupantes do local no século 4.

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Fotografia de vasos de terracota estão entre os achados que comprovam a ocupação de Pompéia após a erupção.
(Parco Archeologico di Pompei/Divulgação)

Outras unidades habitacionais escavadas na mesma área revelaram elementos semelhantes. Fragmentos de moinhos manuais, lareiras e pisos de terra batida foram identificados. Sepultamentos infantis também foram registrados, entre eles uma tumba datada do século 2.

As técnicas de construção, o tipo de material empregado e a natureza dos objetos encontrados indicam que essas ocupações foram marcadas por improvisação, reutilização de recursos e ausência de planejamento urbano. Uma gambiarra, basicamente.

Segundo os arqueólogos, os ocupantes incluíam sobreviventes da erupção que não conseguiram se estabelecer em outras localidades e indivíduos vindos de fora da cidade, em busca de abrigo ou de objetos de valor ainda soterrados. Estima-se que Pompeia tivesse cerca de vinte mil habitantes antes da tragédia.

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Aproximadamente 1.300 vítimas foram localizadas desde o início das escavações. Esse número sugere que uma parcela significativa da população sobreviveu. Há também inscrições com nomes típicos de Pompeia em cidades vizinhas da Campânia, indicando deslocamentos populacionais.

A reocupação, de caráter fragmentado, não envolveu obras públicas nem restabelecimento de instituições cívicas. Tratava-se de um assentamento sem infraestrutura, formado por construções adaptadas e ocupações prolongadas de edifícios parcialmente preservados. 

De acordo com Gabriel Zuchtriegel, diretor do sítio arqueológico, esse tipo de evidência foi historicamente ignorado. “No entusiasmo de atingir os níveis de 79, com afrescos e móveis maravilhosamente preservados ainda intactos, as marcas frágeis da reocupação foram literalmente removidas e frequentemente varridas sem nenhuma documentação”, afirmou ele em comunicado divulgado nas redes sociais.

Zuchtriegel considera que o novo panorama obriga os arqueólogos a reconsiderar sua abordagem. “Pompeia pós-79 ressurge, mais do que uma cidade, um aglomerado precário e cinzento, uma espécie de acampamento, uma favela entre as ruínas que ainda era reconhecível como Pompeia”, disse. 

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A permanência de grupos humanos na antiga cidade se encaixa em um contexto mais amplo de reorganização territorial na região da Campânia. Por volta de 120, a estrada romana entre Nuceria e Stabiae foi oficialmente reativada.

Documentos também relatam que o imperador Tito enviou dois ex-cônsules à região logo após o desastre, com o objetivo de administrar os bens de mortos sem herdeiros e possivelmente estimular uma refundação de Pompeia e Herculano.

Não há evidências de que essa tentativa tenha sido bem-sucedida, mas os registros arqueológicos confirmam que a antiga malha urbana continuou a ser utilizada de forma parcial e descontínua.

A presença humana se manteve na cidade até pelo menos o século 5. O abandono definitivo pode ter sido motivado por uma nova erupção do Vesúvio, conhecida como erupção de Pollena, ocorrida em 472. Eventos sísmicos associados teriam provocado o colapso de estruturas que ainda estavam em uso.

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