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Primeiros passos

O que são números cabalísticos? Quem são os anjos da cabala? E para que serve mesmo aquela pulseira vermelha? Tire aqui suas dúvidas e conheça alguns princípios básicos que regem a corrente mística judaica

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h36 - Publicado em 19 mar 2011, 22h00

CABALA É RELIGIÃO?
NÃO. Mas tem tudo a ver com religião. Explica-se: a cabala é uma leitura mística das tradições do judaísmo. Quer dizer, todos os ensinamentos e postulados da cabala estão diretamente ligados à tradição judaica. Segundo os cabalistas, a Torá (a bíblia hebraica) traria ensinamentos ocultos, que seriam uma revelação de Deus sobre os segredos da Criação e do Universo. Mas, para devendá-los, é necessário fazer uma nova leitura do texto sagrado, usando técnicas sofisticadas como a guematria (que combina letras hebraicas e números). Com base nessa interpretação, surgiria uma nova sabedoria, com regras e textos próprios: a cabala, que tem como livros sagrados o Zohar e o Sefer Yitizirah. Mas até que ponto é possível separar a cabala do judaísmo? O assunto é polêmico. Alguns estudiosos consideram um perigo estudar a cabala de forma independente, desvinculada da religião judaica. “Se você estuda cabala sem antes conhecer o bê-á-bá do judaísmo, corre o risco de perder o principal”, diz Michel Schlesinger, da Congregação Israelista Paulista. Já os cabalistas mais modernos acreditam que não é preciso ter contato com as tradições judaicas para entender os princípios básicos. “Desde o início, a cabala sempre foi pensada como sabedoria, não como religião”, diz o rabino Yehuda Berg, diretor do Kabbalah Centre International. “Qualquer um pode estudar, seja qual for o seu credo.”

PELA TRADIÇÃO
Judeus ortodoxos se reúnem para o funeral de Yitzhak Kadouri, falecido em 2006. Kadouri, um dos rabinos mais influentes do século 20, dizia que a cabala deveria ser estudada apenas por judeus.

Os cabalistas acreditam em Deus?
SIM, mas é um Deus um pouco diferente daquele com o qual estamos acostumados. Dentro das religiões tradicionais, Deus é visto como um ser onipotente, criador de todas as coisas. A cabala tem outra visão: Deus, que eles preferem chamar de Ein Sof, ou Deus-Infinito, não tem corpo ou forma, e nem pode ser pensado de maneira separada do Universo. Que dizer, não existe Criador e Criação: a Criação faz parte de Deus. Segundo uma das correntes cabalísticas mais difundidas, a luriânica, o Universo teria surgido da seguinte forma: em algum momento, Deus-Infinito decidiu criar o mundo. Para isso, teve que se contrarir, abrindo mão de um espaço dentro de si mesmo. Nesse vácuo, ele teria lançado um raio de luz, que se partiu. Boa parte dele voltou para a fonte; o restante caiu como centelhas, que ficaram presas no mundo material – são os seres humanos, que passam toda a sua vida tentando retornar à luz divina.

 

Por que os cabalistas usam uma pulseira vermelha?
A pulseira virou moda entre gente como Madonna e David Beckham depois que passou a ser vendida pelo Kabbalah Centre, um centro de estudos da cabala em Los Angeles. De acordo com o site do centro, a pulseira (vendida por US$ 26) funcionaria como uma proteção contra o mau-olhado e as energias negativas em geral: para isso, bastaria amarrá-la no pulso esquerdo. O amuleto tem origem em uma antiga tradição judaica. Diz a lenda que, para garantir boa sorte, seria necessário amarrar um longo pedaço de lã vermelha 7 vezes ao redor do túmulo da matriarca bíblica Raquel, em Bethlehem. Depois, essa lã deveria ser cortada em pedaços e amarrada no pulso esquerdo: o procedimento garantiria a proteção contra todos os males.

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E EM REENCARNAÇÃO?
SIM, mas é uma questão polêmica, já que a reencarnação não é aceita pela maior parte das correntes do judaísmo. Segundo os estudiosos, a reencarnação sempre foi uma parte integral da cabala – o conceito já estava presente no Zohar, o livro fundamental do misticismo, publicado no século 16. Mas, ao contrário de outras crenças, os cabalistas não veem a reencarnação como um castigo ou punição pelos erros cometidos em vidas passadas. Ao contrário: a reencarnação seria um privilégio, uma chance a mais para conseguir retornar à luz divina, que seria a origem e o destino de todos os homens de bem. A ideia é que, para voltar a se unir com o Criador, o homem precisa, antes, alcançar a iluminação. Caso ele consiga chegar lá em uma única vida, a reencarnação não será necessária. Mas, se uma pessoa está no caminho da luz e morre antes de completá-lo, ela receberá novas chances, podendo reencarnar. Dessa maneira, o trabalho incompleto será carregado para uma vida futura, até que a tarefa da transformação seja realizada e ela possa se unir a Deus.

 

O que são números cabalísticos?

A expressão “números cabalísticos”, a rigor, não faz sentido. De acordo com o misticismo judaico, cada número tem o seu significado e o seu porquê – logo, todos os números são “cabalísticos”. Uma das técnicas mais importantes usadas pela cabala para desvendar os segredos da Torá (a bíblia judaica) é a guematria, ou numerologia judaica. Por essa técnica, é possível associar as letras do alfabeto hebraico com os números, por meio de uma série de cálculos, e chegar a novas interpretações do texto sagrado. Nesses cálculos, todos os números têm uma função específica. É verdade, porém, que alguns deles têm um significado especial dentro da cabala. É o caso do número 1, que significa o verdadeiro e único Deus, do número 7, que simboliza o dia em que Deus descansou após sua obra (e também a pausa do Shabat), do número 10, considerado um número perfeito, que atrai a presença divina, e do número 32, resultado da soma das 22 letras do alfabeto com as 10 sefirot da Árvore da Vida.

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OS ANJOS FAZEM PARTE DO MISTICISMO JUDAICO?
SIM. Ao longo dos séculos, diversos textos sagrados fizeram alusão à existência desses seres, que habitariam uma dimensão invisível, chamada de mundo intermediário. Segundo o Zohar, os anjos teriam sido criados no mesmo dia em que os homens: sua função era servir de mensageiros entre o plano divino e os seres humanos. Na Idade Média, uma corrente chamada cabala prática sugeria que seria possível invocar esses anjos para pedir ajuda ou orientação. Para isso, seria necessário seguir determinados rituais, que envolviam comandos verbais, lidos em voz alta. Recentemente, uma onda de livros populares voltados à cabala retomou o tema, defendendo que seria possível, através de meditações e orações, invocar um anjo e pedir sua ajuda para resolver questões práticas.

 

Por que tantas celebridades procuram a cabala?
O fenômeno se repete há anos: toda vez que um misticismo vira moda, um número razoável de celebridades entra na onda. No caso da cabala, dois fatores contribuem para que a corrente mística seja uma das preferidas entre os famosos. Em primeiro lugar, a cabala pop defende a ideia de que é preciso primeiro receber para, depois, compartilhar. Quer dizer, não há nada de errado em desejar dinheiro, fama, sucesso etc., desde que saibamos compartilhar isso com os nossos semelhantes. Ponto para as celebridades, que se livram da culpa e ainda podem dizer que estão zelando pela sua espiritualidade. Em segundo lugar, a adesão em massa das celebridades faz parte de uma esperta estratégia de marketing desenvolvida pelo Kabbalah Centre, o mais famoso centro de estudos da cabala do mundo, com sede em Los Angeles: belos e glamorosos, os atores de Hollywood funcionam como chamariz perfeito para atrair novos adeptos.

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A cabala tem o poder de curar doenças?
NÃO. A ideia de que o misticismo judaico possa interferir de maneira decisiva na saúde é recente, fruto da intensa popularização da cabala. Nos últimos anos, o misticismo judaico ganhou um forte caráter de autoajuda, com o lançamento de dezenas de livros prometendo cura de doenças, aumento da fertilidade, melhor desempenho sexual, e por aí vai. Alguns desses cabalistas modernos dizem que a melhor maneira de obter ganhos para a saúde seria meditar ou passar as mãos sobre as letras hebraicas, fontes de grande poder e energia. Para os cabalistas mais tradicionais, porém, trata-se de uma simplificação típica dos manuais de autoajuda. Segundo a antiga sabedoria judaica, as 22 letras do alfabeto hebraico são mesmo poderosas, já que teriam sido usadas por Deus como matéria-prima para criar o Universo. Por isso mesmo, as letras podem (e devem) ser usadas como instrumento de interpretação e meditação, para aumentar o autoconhecimento. Mas daí a curar doenças ou melhorar a perfomance na cama vai uma longa distância…

 

 

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