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Quem foi Rudolf Höss, o oficial nazista do filme “Zona de Interesse”

Indicado a cinco Oscars, o longa conta a história do comandante do campo de concentração de Auschwitz, onde mais de 1,1 milhão de pessoas morreram.

Por Rafael Battaglia
Atualizado em 22 fev 2024, 15h54 - Publicado em 16 fev 2024, 18h23

Estreia no Brasil nesta quinta (15)  Zona de Interesse, do diretor britânico Jonathan Glazer. O drama histórico concorre a Melhor Filme e em outras quatro categorias do Oscar deste ano, cuja premiação acontece dia 10 de março

Todo falado em alemão, Zona de Interesse é um dos favoritos a levar o troféu de Filme Internacional. O lançamento mundial do longa aconteceu em maio, durante o Festival de Cannes. Lá, ele venceu o Grand Prix, a segunda maior láurea do evento, atrás apenas da Palma de Ouro (que foi para o francês Anatomia de uma Queda, outro que está na corrida pelo Oscar).

O filme se passa na Polônia durante a Segunda Guerra Mundial e aborda o Holocausto. Mas sob uma perspectiva diferente: a da família do Rudolf Höss, que chefiou o campo de concentração de Auschwitz, onde mais de 1,1 milhão de pessoas (a maioria delas, judeus europeus) morreram.

Os Höss moravam colados ao muro de Auschwitz, mas viviam de um jeito bem diferente: a casa tinha piscina, um grande jardim e todo tipo de mordomia (muitos prisioneiros do campo foram seus empregados). O objetivo do filme é mostrar o contraste entre a normalidade do cotidiano da família com o genocídio que acontecia a poucos passos dali.

Assista ao trailer:

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Glazer levou dez anos para produzir Zona de Interesse. Seu interesse surgiu com o livro homônimo do britânico Martin Amis, de 2014. Ele ouviu falar da obra antes mesmo de sua publicação – e foi atrás dos direitos de adaptação depois de lê-la. O diretor também visitou Auschwitz diversas vezes e teve acesso a arquivos e depoimentos de vítimas e sobreviventes do Holocausto.

Amis se inspirou na família Höss para criar um enredo ficcional. No filme, Glazer decidiu usar as figuras históricas como os personagens da trama: Rudolf é interpretado pelo ator Christian Friedel; Hedwig, sua esposa, por Sandra Hüller (que concorre ao Oscar pela sua atuação em Anatomia de Uma Queda). Vamos entender como foi a vida desse casal.

O chefe de Auschwitz

Rudolf Höss (ou Höß, na grafia alemã) nasceu em 1901 na cidade de Baden-Baden, sudoeste da Alemanha. De família católica e com histórico militar, Rudolf se alistou ainda adolescente no exército do Império Germânico para lutar na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), e alcançou cargos de destaque antes mesmo de completar 18 anos.

Ao final do conflito, Rudolf ingressou em grupos paramilitares nacionalistas que pipocavam na Alemanha derrotada. Em 1922, em Munique, ouviu Hitler discursar pela primeira vez. Não deu outra: entrou para o Partido Nazista.

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Em 1923, Rudolf foi preso, acusado de participar do assassinato do professor Walther Kadow, que teria dedurado um plano de sabotagem ao exército francês que ocupava a Alemanha. Höss recebeu anistia em 1928 e passou a viver no campo, como agricultor. No ano seguinte, casou-se com Hedwig Hensel. Juntos, tiveram cinco filhos.

Zona de Interesse (2023)
(IMDb/Reprodução)

Nos anos 1930, Rudolf entrou para a Schutzstaffel, a famosa SS – a tropa de choque nazista, responsável por reprimir qualquer oposição ao regime. A partir de 1934, ele passou a trabalhar nos campos de concentração de Dachau e Sachsenhausen – que, àquela altura, eram sobretudo para presos políticos. Seu desempenho impressionou o alto escalão da SS, que o promoveu para chefiar Auschwitz, inaugurado em maio de 1940.

Höss ficou conhecido por sistematizar e otimizar a matança. Foi ele quem optou pelo Zyklon B, gás altamente letal feito a partir de um desinfetante de roupas, nas câmaras de extermínio. Sob o seu comando, Auschwitz matava mais de duas mil pessoas por hora.

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A casa de Höss ficava numa área conhecida como “zona de interesse” (daí o nome do filme). Administrada pela SS, era uma região que circundava o campo – e servia para afastar moradores da redondeza, para que não soubessem o que acontecia por ali. Na residência, a família mantinha um estilo de vida luxuoso, com empregados judeus e itens confiscados das famílias enviadas para Auschwitz. Havia árvores e muros altos para encobrir as chaminés dos fornos que queimavam os cadáveres.

Höss engravidou de uma prisioneira em 1943. Ela abortou – e foi assassinada depois. Houve uma investigação do caso, mas o processo foi abafado. Rudolf saiu de Auschwitz por um breve período e tornou-se inspetor dos campos de concentração nazistas, em Berlim.

Mas o alemão não demorou a voltar. Em 1944, ele arquitetou um projeto que recebeu o nome de “Operação Höss”: matar 430 mil judeus húngaros em menos de dois meses.

Depois da guerra

Em 1945, com a derrota iminente, muitos oficiais debandaram. Com Höss, não foi diferente: ele foi para o o norte da Alemanha e adotou um nome falso, “Franz Lang”. Trabalhou em uma fazenda enquanto Hedwig batia ponto em uma fábrica de açúcar. O plano era esperar a poeira baixar e fugir para a América do Sul, como muitos nazistas fizeram.

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Zona de Interesse (2023)
(IMDb/Reprodução)

Em 1946, soldados britânicos encontraram a família e prenderam Höss. Quem os achou foi Hanns Alexander, um judeu alemão que fugiu de Berlim – e virou um caçador de nazistas. Quando Hanns confrontou Höss pela primeira vez, o oficial negou todas as acusações. Mas marcou bobeira: ele usava a aliança de casamento com a inscrição “Rudolf e Hedwig”. Cadeia nele.

Höss depôs nos julgamentos de Nuremberg, tribunal internacional formado para condenar o alto escalão nazista. Ele detalhou o modus operandi de Auschwitz e foi o primeiro oficial a assumir seus crimes. Enquanto esteve sob custódia, escreveu suas memórias.

Em 1947, Rudolf foi condenado à morte. Ele foi enforcado em Auschwitz, em frente a uma plateia formada, em parte, por sobreviventes do campo. Já Hedwig viveu até 1989, e jamais teve direito a nenhuma pensão ou assistência do governo.

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