Robert Downey Jr. sugeriu este texto… sobre biquínis
Conversamos com o ator sobre Oppenheimer, seu filme mais recente. De quebra, ele lembrou da relação entre bombas nucleares e o maiô de duas peças.
Terno e calças verde neon, combinados com uma camisa estampada e óculos igualmente extravagantes. Robert Downey Jr. entrou reluzindo na sala de entrevistas, acompanhado do cinza (mas simpático) Cillian Murphy. O Homem de Ferro coloca um pé em cima da cadeira e posa com o cotovelo apoiado no joelho. Após receber elogios dos jornalistas, ele vira para o ator de Peaky Blinders e diz: “ninguém disse que eu pareço muito Miami Vice”.
Murphy e Downey Jr. estrelam Oppenheimer, novo filme de Christopher Nolan que chega aos cinemas no dia 20 de julho. O longa de três horas de duração aborda a glória e ruína de J. Robert Oppenheimer, o pai da bomba atômica. Em Nova York, os atores deram entrevistas a jornalistas do mundo todo – inclusive nós, da Super.
Robert Downey Jr. encheu a conversa de piadas e bom humor – afinal, não é surpresa que a realeza de Hollywood saiba se comportar como um personagem. O tema em pauta, no entanto, estava longe de ser leve: além de abordar dilemas éticos e a vida conturbada do criador da bomba atômica, a conversa girou em torno dos efeitos dessa invenção. Principalmente (mas não se limitando a) o bombardeio de Hiroshima e Nagasaki no fim da Segunda Guerra Mundial.
“No início era tudo projeção e hipótese até eles receberem os resultados [dos efeitos da bomba]. Hoje já sabemos mais do que o suficiente o que elas podem fazer”, disse Downey Jr. “E mesmo assim parece que as pessoas se apegam a detalhes para se distanciar daquilo”. O exemplo dado pelo ator foi a criação e escolha do nome do biquíni.
A origem do biquíni
Entre 1946 e 1958, os Estados Unidos jogaram 23 bombas atômicas no Atol de Bikini – uma ilha formada por corais no Oceano Pacífico. O país já havia bombardeado o Japão em 1945, o que resultou na morte de mais de 200 mil pessoas. Os testes atômicos continuaram – desta vez, em locais afastados da civilização.
A primeira bomba foi lançada no Atol de Bikini em julho de 1946. Cerca de 160 pessoas que moravam na ilha foram realocadas, e nunca puderam voltar para casa. Todas as formas de vida que existiam no local da explosão (vegetação, corais, animais marinhos etc.) foram aniquiladas na hora. E até hoje o atol apresenta altos níveis de radiação.
Os testes ficaram conhecidos no mundo todo, e chegaram aos ouvidos do engenheiro francês Louis Réard. Ele havia inventado uma nova roupa de banho feminina: duas peças que mostravam bastante corpo e pele, incluindo o umbigo. Muito inovador e ousado para a época, Réard demorou para escolher um nome à criação.
Apenas quatro dias após o primeiro bombardeamento do Atol de Bikini, o engenheiro apresentou sua criação em uma piscina pública de Paris, já com o nome: biquíni. Como foi divulgado na época, a roupa geraria uma reação “explosiva”.
E Réard não foi o único a relacionar bombas nucleares à moda de praia. Dois meses antes, o designer Jacques Heim havia lançado outro maiô de duas peças, que ele chamou de atome (átomo, em francês). O modelo não é tão diferente do biquíni que conhecemos hoje, mas é menos ousado, se assemelhando mais a um shorts e top. O atome foi divulgado como “a menor roupa de banho de todas” – e o biquíni, em seguida, como “menor que a menor roupa de banho”.
Esquecimento histórico
Por que Robert Downey Jr. lembrou dessa história? O ponto que o ator queria chegar é como esquecemos facilmente da gravidade e materialidade das armas nucleares. A bomba atômica se inseriu na cultura pop e hoje faz parte do nosso dia a dia de maneiras que nem imaginamos.
“Esse designer francês viu a explosão da bomba naquela ilha e pensou ‘ah, que nome bonito, vou transformá-lo em algo fashion’”, diz o ator. “E na verdade é algo realmente sombrio e horrível. É uma maneira estranha de processar algo que não conseguimos nem entender”.
O novo filme é uma maneira de lembrar das armas nucleares, de suas vítimas passadas – e possivelmente futuras. Desde que foi criada nos anos 1940, a bomba atômica nunca deixou de ser uma ameaça. Cabe a nós contar sua história para não repeti-la.