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As grandes sujeiras do PC: até os micros não escapam dos ecologistas

A Agência de Proteção ao Meio Ambiente dos Estados Unidos acusa os PCs de corrupção da natureza, criação de usuários fantasmas e dilapidação de energia.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h00 - Publicado em 31 jul 1993, 22h00

Flávio de Carvalho

Antes de eleger-se como o mais indispensável acessório à modernização da vida, o PC, computador pessoal, prometia mundos e fundos. O PC faria cair drasticamente o consumo de papel nos escritórios com o registro eletrônico de documentos, mas acabou criando facilidades para se realizar justamente o contrário – a impressão indiscriminada de todo tipo de rascunho que acabam indo sempre para o cesto de lixo antes de ser obter a forma definitiva do documento. À sombra dessa máquina nova proliferaram acessórios poluidores e não degradáveis como cilindros e cartuchos de impressoras laser, pilhas e baterias venenosas. Mas, principalmente, na limpeza industrial de placas e componentes gerou uma devastador nuvem de CFC, o clorofluorcarbono, que está subindo aos céus para destruir a tênue camada de ozônio da Terra.
O PC e seus acessórios chegaram, em alguns casos, a literalmente confiscar enormes poupanças de empresas e usuários pessoais, chantageados para adquirir aparelhos errados ou desnecessários, embalados pela falsa idéia de que basta comprar um equipamento novo para tudo se modernizar. Mas tudo isso começou a dar muito na vista e chamou a atenção da EPA, a Agência de Proteção ao Meio Ambiente dos Estados Unidos. Eles investigaram sistematicamente as contas e a vida secreta dos PCs e em seguida convocaram as cinqüentas maiores empresas do setor para dar explicações e negociar soluções para os problemas detectados.
Essa grandes empresas – como a IBM, Apple, Epson, Hewlett-Packard, Compaq – concordaram em colocar limites ao insaciável apetite dos PC por mais energia, poder e desperdício. Junto com a EPA criaram o programa Energy Star, que visa reduzir o consumo dos aparelhos. Como prêmio os fabricantes vão poder estampar em seus produtos o logotipo do Energy Star, uma espécie de certificado governamental e oficial de que alguma coisa está sendo feita em benefício do meio ambiente e da humanidade. Mais do que um simples truque de marketing, as empresas aderiram ao programa, algumas com mais entusiasmo que outras. A IBM lançou ano mês passado um micro que gasta menos energia que uma lâmpada de 60 watts e a japonesa Epson tornou-se no ano passado a primeira empresa a abolir completamente o uso do clorofluorcarbono. Tudo indica, portanto, que as investigações e planos de combate aos excessos dos PCs vão dar resultados. Em alguns casos, quem sabe, até cadeia e punições.

Os usuários fantasmas

Em minuciosa pesquisa conduzida em empresas e lares americanos, a EPA descobriu que durante 80% do tempo em que o computador está ligado ninguém está olhando pata a tela. O cidadão saiu para tomar um cafezinho, ir ao banheiro ou está realizando outras tarefas não informatizadas.
Isso não significa que vagabundagem campeie nos ambientes informatizados. Somente os digitadores e funcionários de CPDs ( Centro de Processamento de Dados) têm obrigação de ficar batucando as teclas o tempo todo. Boa parte das outras pessoas usam o micro intermitentemente. Por que então não desligá-lo nos períodos de ociosidade? São várias as razões. Religar um computador exige-se o que se chama de boot, ou partida. Gastam-se vários minutos preciosos até o usuário chegar ao programa preferido, abrir o arquivo ou documento que precisa manusear. Em segundo lugar, ligar, desligar e religar muitas vezes o equipamento gera um estresse do material. Ao ser acionado, todo equipamentos sofre um choque semelhante aos seres humanos na segunda-feira pelo despertador.
Há um pulso súbito de voltagem e corrente antes de ser passar ao que se chama steady state de operação (operação normal). Quem sofre mais com esses trancos são os dispositivos mecânicos como os drive e disco rígidos. Imagine se o usuário desliga o micro no momento em que o aparelho está realizando uma busca no disco rígido. A cabeça magnética de leitura aterrissa desastradamente na trilha magnética esparramando bits como fagulhas da barriga de um Boeing que despenca na pista sem trem de pouso.
O suicídio é uma providência muito considerada pelos usuários que perdem o disco rígido no liga/desliga. Por causa disso, entre 30 e 40% dos usuários deixam os computadores perpetuamente ligados – dia, noite e até fim de semana –, segundo descobriu a investigação da EPA.

Sede de Poder/Energia

A agência americana contabilizou quanta energia é drenada para a conta de luz desses usuários fantasmas: são 2 bilhões de dólares em eletricidade somente nos Estados Unidos. Como é grande o uso de centrais termoelétricas, isso significa a produção indireta de CO2 equivalente à gerada por milhões de carros.
Também indiretamente o PC aumentou a devastação de florestas: as empresas americanas agora gastam 775 bilhões de páginas de papel em virtude das facilidades criadas por impressoras rápidas.
O mais preocupante é que esse apetite pelo desperdício está aumentando rapidamente. Os computadores respondem por 5% da demanda de eletricidade nos EUA, mas essa taxa vai dobrar até o ano 2000.

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Truques sujos e coloridos

Os computadores criaram e alimentam indiretamente uma cadeia de pequenas e grandes delinqüência contra o meio ambiente e a saúde da humanidade. As pilhas e baterias dos laptops, por exemplo.
Pilhas de mercúrio e baterias de cádmio envenenam o meio ambiente quando são contaminado os recursos hídricos. A EPA decidiu que é obrigação dos Estados controlar o lixo desse tipo e promover as baterias recicláveis. Os fabricantes de baterias europeus criaram uma entidade, a Portable Rechargeable Batery Association, à qual aderiram americanos e japoneses, mas os resultados ainda são modestos. A Compaq americana, por exemplo, se oferece para reciclar baterias de seus micros, mas o retorno atual é de apenas 300 por mês, uma ninharia. As embalagens também contribuem para a poluição. Na Alemanha foi criado um programa de benefícios fiscais para empresas que adotarem embalagens recicláveis. À semelhança do programa americano do Energy Star, os alemães oferecem aos fabricantes o logotipo do “Ponto verde” para ser estampado nos micros que respeitam o meio ambiente.
Os PCs são tão insidiosos que chegam até a criar soluções ditas econômicas que, na verdade, aumentam os gastos. É o caso dos chamados screen savers (salvadores de tela). Baseados na idéia de que uma tela imóvel acaba marcando o fósforo dos monitores, inventaram programas que mostram cenas em movimento na tela, quando o micro está em repouso. Aquelas telas com peixinhos nadando em aquários ou naves espaciais podem eventualmente salvar o fósforo das telas, mas aumentam em 20% o consumo de energia. Só a tela blank, que fica apagada gasta pouca energia.
Finalmente, o maior vilão da história é o CFC, o clorofluorcaborno. Usando para fazer embalagens, limpeza de placas eletrônicas e partes ópticas, o CFC faz buracos na camada de ozônio.

Soluções e Punições

Como resultado da pressão dos movimentos ecológicos e das agências governamentais de proteção ao meio ambiente, algumas soluções brotaram e vicejam na industrias da computação. No ano passada, o empresa japonesa Seiko Epson ganhou o Prêmio de Proteção à Estratosfera, concedido pela EPA, por um efeito notável. A empresa, que consumia 1400 toneladas de CFC por ano somente no Japão encerrou o ano de 1992 sem consumia uma gota sequer da substância. O uso do CFC na limpeza prosaico e eficiente: lavar com água e detergente suave.
O premiado de 1993 foi a IBM, com um micro, o PS/ES (Energy Saver). Lançado no mês passado, o micro apelidado de Green Machine, consome apenas o equivalente a uma lâmpada de 60 watts. Em repouso, gasta apenas 30 watts. Isso foi possível graças ao chip 486SL da Intel, que opera com apenas 3,3 volts (outros usam 5,5 volts). Além da voltagem menor, o chip adormece lentamente quando passa a ser usado, até chegar ao sono profundo, mas volta a funcionar a todo o vapor quando se pressiona uma tecla ou se move o mouse.
O PE/SE é também feito com partes de plástico reciclável e usa uma fonte externa de alimentação para dispensar as ventoinhas de ventilação. O produto tem versão com tela com matriz ativa de cristal líquido ou monitor de raios catódicos de baixíssimos consumo. (apenas 8 watts no seu modo dorminhoco). O teste de laboratório da revista americana PC Magazine revelou que ele consome a todo o vapor apenas 36 watts, em comparação a um micro convencional de desempenho semelhante, mesmo operando à velocidade limite de 50 MHz (com o chip 486SLC2). Segundo a IBM, uma empresa que adote 100 micros PS/ES ligados nove horas por dia, cinco dias da semana, economiza ao fim do ano cerca de 2000 dólares. A maravilha custa 2245 dólares, nos Estados Unidos, é claro.
As iniciativas premiadas das duas empresas já começam a frutificar. A Intel, Apple e Compaq estão também banindo o CFC da linha de produção “no wash” (sem lavagens), com o uso de salas mais limpas de montagem. As outras empresas, se quiserem sobreviver, também terão de cumprir a exigência dos 30 watts de consumo em repouso, pois o governo americano, o maior comprador, já anunciou que só usará os micros verdes.
Quanto aos chips da classe SL, eles estão proliferando nos laptops e certamente vão conquistar o coração dos micros de mesa em breve com a tecnologia de circuitos de 3,3 volts.

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