Jean-Jacques Rousseau: “Para conhecer os homens é preciso vê-los agir”
Ele queria revolucionar a música. Mas acabou contribuindo de forma decisiva em uma das maiores questões filosóficas: afinal, o ser humano é intrinsecamente bom ou mau?
Jean-Jacques Rousseau entrou para a história por um caminho diferente daquele que tinha imaginado. Aos 29 anos de idade, bateu às portas da Academia de Ciências de Paris disposto a ser reconhecido como um gênio: apresentou um inovador sistema de notação musical, que pretendia mudar para sempre a forma como as partituras eram escritas. A ideia naufragou quando os especialistas consideraram o método complicado demais.
O que poderia ter sido um revés definitivo acabou abrindo outra oportunidade: Rousseau impressionou Denis Diderot, um dos idealizadores da primeira Enciclopédia, que lhe encomendou alguns artigos sobre música para incluir na coleção. A amizade com os enciclopedistas despertaria em Rousseau o interesse pela filosofia, além de colocá-lo em contato com livros que moldaram seu pensamento, sobretudo de autores ingleses. Rousseau concorda com Hobbes e Locke quanto à existência de um “estado natural” para a humanidade, que teria evoluído para um estágio de civilização a partir do chamado “contrato social”. Mas, enquanto Hobbes escrevia que o homem é egoísta e selvagem, Rousseau defende o inverso: o homem é bom e livre por natureza, com virtudes inatas que são corrompidas pelas necessidades da vida em sociedade.
Essa ideia está explícita nas primeiras linhas de sua obra mais famosa, Do Contrato Social: “O homem nasceu livre, e por toda a parte está acorrentado. Aquele que julga ser senhor dos demais é, de todos, o maior escravo”. O afastamento do estado natural teria começado quando um homem decidiu tomar um pedaço de terra, criando a noção de propriedade privada. A partir daí, a única maneira de manter o controle era por meio de leis, que restringiam a liberdade natural. Com ideais de uma república democrática, ele propôs a substituição do Estado mantido nas mãos de reis e da Igreja por um governo formado por cidadãos. Esse grupo de eleitos também seria responsável por elaborar as leis de acordo com a “vontade geral”.
Os conceitos de Rousseau não entusiasmaram apenas os revolucionários franceses — no século seguinte, seus textos sobre injustiça, desigualdade e opressão seriam uma das principais influências do pensamento político de Karl Marx.