Como celebrar o Réveillon duas vezes no mesmo ano
Dá para viajar no tempo sem precisar de máquina. Veja como usar a geografia das ilhas do Pacífico para viver a virada mais de uma vez
É possível viajar no tempo e comemorar a chegada do novo ano duas vezes, em dois países diferentes. Tudo graças à Linha Internacional da Data e às maluquices políticas em torno dela.
Voos que saem da Oceania ou do Extremo Oriente em direção às Américas “duram pouco” no relógio porque eles cruzam a Linha da Data, que passa pelo Pacífico. De repente, o hoje vira ontem. Assim, um avião que decola de Auckland, na Nova Zelândia, às 18h20, pousa em Santiago, no Chile, às 13h25. Ele “volta no tempo” cinco horas, apesar de a viagem durar 11.
Mesmo assim, isso é insuficiente para você pular sete ondinhas, pegar o avião e chegar a tempo da nova festança de Ano-Novo. Não tem avião rápido o suficiente. Então é preciso fazer viagens bem mais curtas.
Bora pro Pacífico.
A Linha Internacional da Data (preta, acima) passa perto de alguns arquipélagos no Pacífico. Os números marrons acima representam o fuso horário em relação a Londres, onde fica o marco zero da hora mundial, conhecido pela sigla UTC (Brasília é UTC -3, o que significa que quando for meio-dia na Inglaterra, são 9h na capital brasileira – isso sem contar horário de verão).
A Linha da Data tem esse nome porque delimita o começo e o fim de um dia. Como a Terra é redonda, precisamos de um marco do tipo, para que a maior parte do mundo siga o mesmo calendário, senão os fusos horários dariam a volta no globo sem saber se o dia começou ou terminou.
Pela convenção, a marcação UTC começa em Londres. Doze horas à frente ou doze horas atrás, no meio do Pacífico, fica a Linha da Data. Assim, o que estiver a oeste dela é o fim do dia. O que estiver a leste, o começo.
Por exemplo, meio-dia em Londres significa 9h em Brasília (UTC -3), 2h no Havaí (UTC -10) e meia-noite do dia seguinte em Fiji (UTC +12). Doze horas para trás mais 12 horas para frente é igual a 24 horas, ou seja, um dia inteiro. Mas, por questões políticas e econômicas, muitos lugares deturpam a hora que a longitude determinaria (o Brasil segue basicamente o contorno dos estados, por exemplo).
Na região mostrada acima, como se vê, há casos de UTC +13 e até +14, quando o normal seria ir até +12. Mas isso facilita nossa missão, já que nos joga até duas horas no futuro.
O site Jakub Marian levantou algumas hipóteses para o Réveillon duplo, que aprofundamos aqui. Você pode passar a virada em Kiritimati, um atol que pertence a Kiribati e é o primeiro lugar do mundo a ver o novo dia (no mapa, é uma das Line Islands). Depois, ir para a ilha Jarvis (cerca de 380 km) ou a alguma das chamadas Ilhas Menores Distantes dos Estados Unidos (UTC -11, quer dizer, quando for meia-noite da virada em Kiritimati, ainda serão 23h do dia 30 em Jarvis).
O problema é que Jarvis é uma área de proteção ambiental, com acesso restrito (e a população de todas essas Ilhas Menores somadas mal chega a 300 seres humanos, então não é lá um lugar muito acessível).
O jeito é pegar um avião em Kiritimati (do aeroporto local saem voos para Fiji e Havaí). Dá para ir direto para Honolulu: em 3h10, você chega ao Havaí. Como o arquipélago americano é UTC -10, se você sair ao meio-dia de 1º de janeiro, chegaria às 15h10 em Honolulu – do dia 31!
O porém é que só tem um voo semanal para cobrir o trecho, então, boa sorte. (detalhe bizarro: Kiritimati e o Havaí ficam a 24 horas de distância no fuso, mas estão na mesma longitude!).
Outra opção, bem mais em conta, é partir de Samoa (UTC +13), país que antigamente era conhecido como Samoa Ocidental, e ir para Samoa Americana (UTC -11), arquipélago do Pacífico que pertence aos EUA. A capital, Pago Pago, tem aeroporto e porto com viagens internacionais, então dá para pegar um barco em Ápia, a capital samoana, e chegar a Pago Pago, que fica a menos de 100 km de distância. O melhor é que essa viagem é diária.
Agora é abrir o bolso e partir para o abraço – duas vezes!