Como era a vida na União Soviética?
Saiba como eram as roupas, os alimentos, o transporte público, o sistema de ensino e outros elementos do cotidiano de Moscou nos anos 80
Depende muito da época e do local em questão. A União Soviética foi formada em 1922 e em 69 anos reuniu 15 diferentes repúblicas sob seu governo, sem contar estados-satélites, controlados indiretamente. Muita coisa mudou entre a Revolução Russa, em 1917, e a dissolução do bloco, em 1991, embora a URSS tenha mantido razoavelmente firmes os princípios de um governo socialista idealizado pelos revolucionários bolcheviques.
Os princípios de saúde, trabalho e educação universais, a ausência de bens privados e o governo absoluto estavam presentes de um jeito ou de outro, mas estamos falando do maior país do mundo, que agrupava muitos povos e culturas diferentes. Então, a vida na Armênia em 1950 era bem diferente da da Estônia em 1970, por exemplo. Veja agora como era o dia a dia na capital, Moscou, por volta de 1980.
1) Mais médicos, menos gaze
O sistema de saúde era unificado, público e gratuito. As pessoas simplesmente iam à Policlínica do bairro e eram atendidas. O serviço começou a declinar nos anos 80: faltavam material e suprimentos, mas nunca profissionais de saúde. Em 1985, a URSS tinha quatro vezes mais médicos per capita do que os EUA.
2) Só pode falar bem
A cultura sempre recebeu incentivo público e revelou grandes nomes, do escritor Maxim Gorky ao cineasta Andrei Tarkovsky. A única regra era não falar mal do governo: opositores eram mandados aos gulags, campos de concentração na Sibéria. A censura abrandou no início dos 60 e chegou definitivamente ao fim só na década de 80.
3) Expresso 1984
O transporte soviético teve um grande impulso no início da década de 1930. Além da criação da empresa de aviação Aeroflot, o país passou a ter uma grande estrutura de locomoção pela água e pela terra, com a pavimentação de estradas e o impulso da indústria automobilística, além das ferrovias e metrôs. Nos anos 80, o custo de uma passagem de transporte urbano (metrô, bonde, ônibus e trem) era em torno de 6 copeques (centavos de rublo).
4) Grife estatal
As roupas eram desenhadas e fabricadas pelo Estado. Até os anos 1960, mulheres usavam vestidos simples, enquanto homens usavam ternos largos e camisas. Com a abertura gradual, influências começaram a gotejar. Nos anos 80, a variedade da indumentária local era grande, mas não havia marcas. No mercado negro, os jeans da grife Levi’s, contrabandeados dos EUA, bombavam.
5) Salsichas e sopas
A culinária soviética era composta de receitas simples, sem grandes variedades de ingredientes. O estrogonofe de carne, muito bem conhecido por nós, era um dos pratos mais populares, além da okroshka, uma sopa com vegetais e pedaços de carne, e a salat olivier, salada de batata com picles, cenoura, ervilhas, ovos e maionese. Salsicha, pelo preço baixo, e frutos do mar também apareciam com frequência nas refeições soviéticas.
6) Educação para todos
Na década de 1980, os dois primeiros níveis de ensino eram compulsórios: o aluno começava na pré-escola, até os 7 anos, e depois ia para a secundária, até os 17. Aos 15, os alunos faziam um provão que determinava se continuariam na escola geral (dando acesso ao ensino superior depois de um segundo “vestibular” aos 17) ou se iriam para o ensino técnico.
7) Prateleiras vazias
O mercado de bens de consumo vivia em déficit: faltavam opções e produtos em todo tipo de comércio, de alimentos a automóveis. Os preços eram baixos, mas as compras invariavelmente envolviam filas ou listas de espera. A qualidade dos produtos locais não era muito boa – na década de 80, houve uma epidemia de aparelhos de TV que pegavam fogo por defeitos de fabricação. Uma alternativa às filas era o mercado negro.
8) Só servidores
Indústrias e fazendas coletivas empregavam a maior parte da população. O salário dos operários era de 320 rublos (US$ 480); o de servidores públicos, 360 (US$ 540); enquanto o de cientistas chegava a 620 rublos (US$ 930). Nos anos 80, a semana de trabalho era de 40 horas, divididas em cinco dias. Todos tinham 15 dias de férias por ano, homens se aposentavam aos 60, e mulheres aos 55.
FONTES Sites Gazeta Russa, LA Times, The Atlantic e Estadão; livros Fashion East: The Spectre that Haunted Socialism, de Djurdja Bartlett, e Work, Employment and Unemployment in the Soviet Union, de J.L. Porket; artigo Higher Education in the USSR, de M.A. Prokofiev, M.G. Chilikin e S.I. Tulpanov; relatório oficial Public Education in the USSR (1979-1980) and Its Prospects, e Medicine in Perspective – Soviet Health Care System, de David S. Friedenber