Como era uma execução na guilhotina?
Conheça todos os detalhes desse ritual sofisticado e cheio de etapas.
Era um ritual sofisticado e cheio de etapas. A guilhotina já existia em versões mais simples, mas ficou famosa na Revolução Francesa (1789). Uma das motivações dos franceses era acabar com as regalias dos nobres – inclusive na pena de morte. Até então, plebeus condenados encaravam tortura, forca ou esquartejamento, enquanto membros da elite podiam escolher de que forma seriam executados (e ela sempre era mais branda).
Para acabar com isso, o médico e político Joseph-Ignace Guillotin propôs penas iguais para crimes iguais. Após dois anos de debate, a proposta foi aceita, e outro médico, Antoine Louis, desenvolveu a arma. Ou seja, a guilhotina deveria se chamar luisette, mas um jornal se adiantou e atribuiu a invenção a Guillotin, que acabou dando seu nome a ela. Guiado por princípios humanitários, Guillotin queria possibilitar uma morte justa. Mas a guilhotina virou o símbolo da repressão revolucionária.
Como era uma morte na guilhotina
A morte na guilhotina era um espetáculo para ver e ser visto
Percurso
O carrasco cruzava a cidade para levar condenados à praça. Esses desfiles, que duravam cerca de duas horas, eram a etapa mais lenta do ritual
Linha de (des)montagem
Em Paris, a Place de Grève era palco de execuções de crimes comuns e a Place du Carroussel servia para os criminosos políticos. Cerca de 50 guilhotinas foram instaladas em várias cidades, e elas ficavam ativas por até seis horas por dia. Para seguir esse ritmo fast-food, a execução era breve, direta e mecânica – nem todos tinham tempo para dizer as últimas palavras
Máquina da morte
O carrasco soltava a corda após prender o condenado com uma barra de madeira. A chapa metálica despencava e, em 0,68 segundo, decapitava o sujeito. A força que a lâmina afiadíssima exercia no pescoço não dava chances para tecidos nem vértebras
- Altura da guilhotina: 4,5 m
- Distância percorrida até a execução: 2,3 m
- Velocidade final de queda: 24 km/h
- Bloco: 30 kg
- Esferas: 1 kg cada
- Lâmina: 7 kg
- Largura da lâmina: 40 cm
Zumbis?
Segundo relatos, ao esbofetearem a cabeça de uma nobre decapitada, ela ficou vermelha de raiva. Não há comprovação científica, mas espasmos são possíveis: uma cabeça cortada pode arquear sobrancelhas ou piscar olhos. Neurocientistas holandeses testaram ratos e concluíram que eles mantinham atividade cerebral por quatro segundos após terem a cabeça cortada. Mesmo assim, não há consenso se é possível uma cabeça humana cortada ter instantes de consciência
O terror, o terror
Estima-se que 40 mil cabeças rolaram entre 1792 e 1799. O período mais sinistro dessa época, de 1792 a 1794, ficou conhecido como Terror. Nesse tempo, o governo revolucionário suspendeu garantias civis e cerca de 15 mil pessoas morreram na guilhotina. No fim do Terror, um golpe derrubou e guilhotinou Robespierre, o próprio líder do governo
Ilustres guilhotinados
Luís 16
Não custa lembrar, a Revolução Francesa foi a revolução porque eles mataram o próprio rei! Luís foi encurralado, preso, julgado e condenado por alta traição
Maria Antonieta
Nove meses após a execução de Luís 16 na atual Praça da Concórdia, foi a vez da rainha perder a cabeça
Lavoisier
Pai da química moderna, Antoine Lavoisier foi condenado por se envolver com os donos de uma empresa inimiga dos revolucionários
Danton
Um dos líderes do início da Revolução, acabou se opondo a Robespierre, que o declarou inimigo da república. Foi executado ao lado do jornalista Camille Desmoulins, ex-melhor amigo de Robespierre. Que sujeito bacana!
Versões beta
Conheça as precursoras da guilhotina
Maiden (Escócia, 1564)
Peça de ferro quadrada, cuja lâmina afiada servia, principalmente, para o propósito de decapitar a nobreza
Halifax Gibbet (Inglaterra, 1541)
Tinha uma cabeça de machado montada em um pesado bloco de madeira que descia rumo a uma base de pedra
Outras curiosidades
- O assassino e ladrão Nicolas Pelletier estreou a guilhotina, em 1792. O golpe foi certeiro: sua cabeça pulou e caiu num cesto, para delírio da multidão.
- Eugen Weidmann foi a última pessoa executada em público na França, em 1939. Mas as decapitações continuaram, de forma privada, até 1977! A pena de morte só foi abolida no país em 1981
CONSULTORIA Alfredo Salun, historiador, autor de Revolucionários e Tiranos: Temas de História Contemporânea, Dulcidio Braz Jr., físico e autor do projeto Física na Veia, e Tania Machado Morin, historiadora e autora de Virtuosas e Perigosas: As Mulheres na Revolução Francesa
FONTES Livros A Guilhotina e o Imaginário do Terror, de Daniel Arasse, A Revolução Francesa – 1789-1799, de Michel Vovelle; site The Guillotine Headquarters