Essa você sabe: a barra de direção rompeu. Com a quebra do cano que transmite o movimento do volante para as rodas, Ayrton Senna não pôde contornar a curva Tamburello, no circuito de Ímola, na Itália, e seu carro foi direto para o muro, a mais de 200 km/h. Não é isso? Talvez não. O que realmente aconteceu naquele 1º de maio de 1994 continua um mistério. O fato é que alguma coisa desgovernou o Williams de Senna na sétima volta do GP. A tese da barra de direção pode ser a mais conhecida, mas não é a única. Essa é a versão da promotoria da cidade de Bolonha, que até hoje investiga o caso do piloto morto em sua região. A hipótese foi apresentada oficialmente no julgamento do caso, em 1997, e responsabilizava a cúpula da Williams. Para os acusadores, os chefes da equipe deveriam ser condenados por montar o carro com uma barra de direção capenga, que não oferecia o mínimo de segurança. Após dez meses de inquérito, enfim, o caso foi encerrado por falta de provas. Só que a promotoria apelou e aconteceu um novo julgamento em 1999. Esse também não deu em nada. Mas o imbróglio judicial, por incrível que pareça, ainda não terminou: agora em abril a Justiça italiana liberou a promotoria para começar tudo de novo. Se o caso voltar à tona, a Williams vai se defender com uma tese alternativa à da “barra assassina”. Essa versão nova para as causas do acidente foi apresentada em um documentário da emissora de TV National Geographic Channel no ano passado. Feito com dados cedidos pela Williams, ele joga a “culpa” pela morte de Senna em um elemento inusitado: o safety car – o carro de segurança que entra na pista em casos de emergência, para segurar a velocidade dos Fórmula 1. Naquele GP de San Marino houve um acidente na largada. A direção de prova, em vez de interromper a corrida, colocou o safety car no traçado para segurar o ritmo dos pilotos. Como isso pode ter matado Senna? É o que você vê aqui neste infográfico.
1. As primeiras voltas do GP de San Marino de 1994 foram feitas atrás de um safety car, que entrou na pista após um acidente na largada. Ele circulou em ritmo lento por intermináveis cinco voltas. O problema é que os F-1 não são feitos para andar tanto tempo em baixa velocidade. Pilotos da época, como o próprio Senna, alertavam que nessa situação os pneus esfriariam demais, o que poderia ser perigoso
2. Estima-se que as cinco voltas em baixa velocidade fizeram os pneus perder 25% da pressão. Isso provocou uma redução no diâmetro deles em 4 ou 5 milímetros, “rebaixando” o carro. O safety car saiu da pista na 6ª volta. Nas imagens da prova na TV, dá para ver que, a 11 segundos da 7ª volta, o Williams de Senna soltou faíscas exageradas ao tocar no chão num ponto ondulado do circuito. Isso pode ter ocorrido pela perda na altura do carro
3A. Pela hipótese mais conhecida, é neste momento que a barra de direção do carro quebra. A equipe Williams havia feito uma emenda para aumentar a coluna da barra em 1,8 centímetro, a pedido de Senna. Essa emenda, de má qualidade, teria se rompido, deixando Senna sem o controle do carro no meio da veloz e perigosa curva Tamburello
3B. O problema é que não dá para provar que a barra de direção quebrou antes do acidente ela pode ter se rompido na batida. O toque do fundo do carro na pista, provocado pela redução nos pneus, pode ter tirado as rodas do chão, deixando o Williams desgovernado a 310 km/h e tirando-o da trajetória da curva. Segundo dados da telemetria, Senna tentou frear 0,1 segundo após as rodas voltarem ao chão, mas a velocidade só caiu para 230 km/h
4. Quando entrou na faixa de grama em volta da pista, o carro perdeu aderência. Não adiantava mais frear. Desse trecho até a primeira batida, a velocidade diminuiu pouco, para 216 km/h. O cockpit encontrou o muro num ângulo de 22º, considerado relativamente seguro. Não foi a batida em si que matou Senna…
5. A fatalidade é que a pancada fez o Williams se arrastar contra o muro. A roda dianteira direita ficou presa entre a proteção e o carro e foi arrancada do chassi junto com um braço da suspensão. Foi esse destroço que atingiu o capacete de Senna, afundando parte de seu crânio. Segundo o médico italiano Giovani Gordini, que resgatou o piloto, nada podia ser feito. Senna morreu na pista
A curva mais veloz da F-1 não matou Senna sozinha. Mas o trauma com a morte do brasileiro fez com que ela deixasse de existir e fosse substituída por um inofensivo, e chato, “S”. Mas já não era sem tempo. Ela quase serviu de túmulo para vários pilotos, inclusive nosso outro tricampeão, Nelson Piquet, que, em 1987, bateu na Tamburello a 280 km/h após ter um pneu traseiro furado.
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