Em tese, sim, mas, ao contrário do que a gente vê nos desenhos animados, é muito pouco provável. “Um grito só vai dar início a uma avalanche se a camada superficial de neve da montanha estiver muito instável. Mas não existem evidências científicas de que isso já tenha ocorrido”, afirma o glaciologista Jefferson Cardia Simões, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e do Programa Antártico Brasileiro (Proantar). As avalanches ocorrem quando uma camada de neve soltinha e pouco densa se separa do resto da base gelada de uma montanha. A passagem de um esquiador ou de um animal, a queda de uma árvore e até mesmo o estrondo de um trovão geram turbulências mecânicas suficientes para causar o deslizamento. Estima-se que ocorram no planeta cerca de 1 milhão de avalanches por ano, a grande maioria em encostas íngremes e desabitadas. Nas avalanches mais radicais, a nuvem formada pela neve pode atingir 50 metros de altura e se deslocar a mais de 200 km/h. Em certos países, como Estados Unidos, França e Suíça, quando se nota alguma área de risco, é comum iniciar avalanches preventivas com tiros de canhão ou dinamite, evitando, assim, alguma tragédia com a queda descontrolada do bolão de neve. (–:o)
Trovões e dinamites
Veja como uma forte onda sonora pode causar uma avalanche
1. Uma condição essencial para que uma avalanche ocorra é a existência de uma camada superficial de neve solta, repousando sobre uma encosta íngreme da montanha
2. O estrondo de um trovão, um tiro de canhão ou uma explosão de dinamite liberam uma forte onda sonora que se propaga junto da montanha, causando uma turbulência mecânica. O som de um grito dificilmente teria o mesmo efeito
3. O choque da onda acústica com a camada de neve fofa e não assentada é capaz de desestabilizá-la, fazendo com que ela se solte e desça montanha abaixo, causando a avalanche
Um grito também não é capaz de derrubar uma estalactite, aquela formação rochosa suspensa no teto de cavernas. “A vibração causada pelo grito não é forte o suficiente para danificar a estrutura”, diz o espeleólogo Ivo Karmann, da Universidade de São Paulo (USP)