E se os homens engravidassem?
Segundo especialistas, se os homens é que engravidassem, haveria algumas mudanças significativas na legislação e até nos hábitos culturais
ILUSTRA Bel Andrade Lima
PERGUNTA Murilo Sousa, Belém, PA
Em 2007, o então ministro da saúde, José Gomes Temporão, declarou que, se homens engravidassem, o aborto estaria liberado no Brasil há muito tempo. Ele não está sozinho nesse raciocínio. Para ressaltar o preconceito contra as mulheres, muitas pensadoras feministas já imaginaram um mundo em que a responsabilidade de gerar um filho fosse deles. Como lidariam com as dores ou os direitos sobre o próprio corpo?
“Hoje, a menstruação, por exemplo, é sinal de fraqueza e fonte de irritação para o homem. Se ele é que passasse por esse processo todo mês, as coisas seriam bem diferentes”, diz a psicanalista norte-americana Joyce McFadden.
Conversamos com alguns especialistas para imaginar este cenário. Confira abaixo.
ESTA MATÉRIA FAZ PARTE DA REPORTAGEM DE CAPA E SE… CONFIRA AS OUTRAS PARTES:
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Mulheres trabalhando
Com o homem acumulando as funções de provedor (por sua força física) e de procriador, as mulheres sofreriam para achar seu espaço. Mas elas teriam entrado no mercado de trabalho mais cedo, substituindo os machos quando as primeiras leis trabalhistas previssem, por exemplo, generosas “licenças-paternidades”.
Chega de gente
É possível especular que, preocupados com a prole, os homens teriam realizado menos guerras. Ainda assim, a população do planeta provavelmente seria menor do que os atuais 7 bilhões de pessoas, pois as técnicas de controle de natalidade e o direito ao aborto teriam estimulado famílias com menos filhos ao longo da história.
Baixo impacto
O fato de carregar no ventre os próprios filhos levaria os homens a valorizar mais a vida. No lugar de esportes violentos, rachas e brigas de rua, é provável que fossem valorizadas atividades como xadrez e natação. No lugar de jogos de futebol ou lutas do UFC, a TV mostraria um duelo entre Garry Gasparov e Bobby Fischer.
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Sentimento à flor da pele
Se engravidassem, provavelmente os homens teriam de menstruar. Em vez de ser considerada um problema para as relações pessoais e profissionais, a TPM seria valorizada – marmanjos se vangloriariam de ter as TPMs mais fortes ou de sangrar mais que os outros. Eles também teriam orgulho de expressar suas emoções. A menopausa seria celebrada como o reconhecimento público pelo “dever cumprido” para com a perpetuação da espécie.
Tem que ter peito!
A amamentação seria praticada em qualquer lugar, com orgulho. Mesmo na nossa realidade, homens podem amamentar, pois já têm glândulas mamárias, mamilos e os hormônios para a produção de leite. Em 2002, foi amplamente documentado o caso de um pai do Sri Lanka, de 38 anos, que amamentou a filha após a morte da mãe.
Aborto para todos
Os homens nunca admitiriam que outros lhes dissessem o que fazer com o corpo. Resultado: o aborto seria legalizado. O anticoncepcional e a pílula do dia seguinte teriam sido inventados muito antes – e seriam distribuídos gratuitamente. Além disso, técnicas para facilitar o parto, como a anestesia e a cesariana, existiriam há muito tempo.
CONSULTORIA Joyce McFadden, psicanalista e autora de Your Daughter’s Bedroom: Insights for Raising Confident Women, Gloria Steinem, jornalista e ativista feminista, Patrick Anderson, professor de história da cultura da Universidade da Califórnia, André Chevitarese, professor de história antiga da UFRJ