Na verdade, não era bem uma muralha, mas um enorme complexo de fortalezas militares interligadas chamado de Linha Maginot. Projetada para ser um sistema de defesa intransponível, ela começou a ser construída em 1929. O objetivo era claro: montar uma barreira fortificada na fronteira com a Alemanha, até então um tradicional inimigo da França. “Com a Linha Maginot, os franceses esperavam conter o avanço das tropas alemãs por algum tempo na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o que possibilitaria o desenvolvimento maior de sua indústria bélica”, diz a historiadora Maria Aparecida de Aquino, da Universidade de São Paulo (USP). Essa grande fortaleza foi projetada para ter centenas de quilômetros de extensão e recebeu o nome do político francês André-Louis-René Maginot, ministro da Guerra no país durante a década de 20 e um incansável defensor da instalação dessa linha de fortificações.
A construção, que se arrastou até o início da Segunda Guerra, era dividida em várias unidades militares, distantes menos de 10 quilômetros umas das outras. As unidades, ou fortes, ficavam totalmente embaixo da terra, numa profundidade que podia passar de 30 metros. Elas possuíam alojamentos, depósitos e até mesmo miniusinas que garantiam sua total autonomia. Acima da superfície ficavam apenas as grandes baterias de artilharia, apoiadas por casamatas de vários tipos e postos de observação. Mas nem todo esse complexo foi capaz de proteger a França quando a Segunda Guerra começou. Em vez de encararem a Linha Maginot, os alemães deram a volta, invadindo a França a partir da Bélgica, onde as fronteiras eram menos protegidas. A manobra foi facilitada porque a “grande muralha” não chegou a ser completada. Se fosse longa o suficiente para defender também toda a fronteira da França com a Bélgica talvez pudesse ter freado o implacável avanço das tropas do exército alemão.
O fato é que a queda da linha considerada intransponível é vista pelos historiadores militares como o símbolo do surgimento de uma concepção mais moderna de guerra, onde a mobilidade do uso combinado de tanques e aviões superou as fortificações estáticas. Hoje, o que restou da velha Linha Maginot é usado como áreas subterrâneas para o cultivo de cogumelos, grandes adegas de vinho ou simplesmente como pontos de atração turística.
A complexa construção se estendia por 200 quilômetros, mas foi contornada pelos alemãesA Linha Maginot (em verde escuro) se estendia por cerca de 200 quilômetros, cobrindo a fronteira da França com a Alemanha. Para flanqueá-la, os alemães invadiram a Bélgica em maio de 1940 (seta vermelha). Na época o complexo estava sendo estendido pela fronteira franco-belga também (linha pontilhada), mas essas novas instalações estavam longe de ter o poderio militar que as fortificações principais da linha.
A Linha Maginot era formada por cerca de 50 grandes unidades militares como essa1. Camas para um batalhãoCerca de mil homens, entre soldados, oficiais e pessoal de manutenção, viviam numa unidade como essa, a mais de 30 metros abaixo do nível do solo. Aqui ficavam os alojamentos para essa tropa toda, dotados de banheiros com água corrente e produtos químicos para tratar dejetos
2. Entradas vigiadas
Havia duas entradas separadas, uma para os soldados e outra para a chegada de mais munições e suprimentos. Ambas ficavam, obviamente, voltadas para o lado francês da fronteira, mas mesmo assim eram protegidas por canhões apontados para as estradas de acesso
3. Quem não se comunica…
Aqui ficava o posto de comando, com uma central telefônica que controlava as comunicações no interior da unidade e que se conectava ao sistema externo de telefonia. Havia ainda um aparelho transmissor-receptor de rádio, que podia ser usado numa situação de emergência, se as comunicações com o lado de fora fossem interrompidas
4. Artilharia pesada
Cada unidade tinha várias baterias de artilharia acima do nível do solo espalhadas por seu perímetro. Algumas tinham só metralhadoras, outras, potentes canhões, instalados em cúpulas de aço especial que giravam 360 graus e abrigavam até quatro soldados. Os homens se deslocavam entre a bateria e a parte subterrânea da unidade por pequenas torres com escadas circulares
5. Depósito 3 em 1
O depósito onde ficava guardada a munição era dividido em três seções, para reduzir os danos em caso de uma explosão. A seção principal, chamada M1, armazenava cerca de 3 mil projéteis para canhões. As outras duas eram um pouco menores
6. Metrô especial
Uma pequena estrada de ferro, conhecida como “o metrô”, conectava os vários setores da unidade. Os trens eram usados principalmente para transportar munição, mas, às vezes, também levavam tropas em vagonetes semelhantes aos de minas de carvão
7. Força extra
Cada unidade da Linha Maginot possuía uma pequena usina, capaz de gerar energia se a luz fornecida normalmente pela rede nacional de eletricidade da França fosse cortada por algum ataque de tropas inimigas. Essas pequenas usinas funcionavam com vários geradores movidos a diesel
8. Campo minado
As raras tropas alemãs que ousaram enfrentar unidades como essa encontraram grandes dificuldades antes mesmo de chegar perto delas. As rotas de aproximação eram bloqueadas por valetas com mais de 3 metros de profundidade, campos minados, cercas de arame farpado e blocos antitanques feitos com cimento e ferro
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Retrato Falado: Gêngis Khan, o dono do mundo