Mistérios da Deep Web, parte 6: Quais os piores boatos sobre a DW?
Como tudo que é secreto, a Deep Web aguçou a imaginação dos conspiradores e virou um celeiro de lendas
ILUSTRAJean Magalhães
Luz, câmera, execução
Nesse setor da internet, seria finalmente possível encontrar snuff movies, filmes em que o ator é morto de verdade diante das câmeras. Mas os vídeos associados são apenas tosqueiras com bons truques de cena. Ainda não há comprovação da existência de snuff movies, mesmo fora da web.A lenda urbana em torno deles surgiu nos anos 70, quando o distribuidor Allan Schakleton criou um novo desfecho para Massacre, fracasso de bilheteria lançado em 1972. Ele rebatizou o filme como Snuff, espalhou o boato de que a atriz realmente morria na cena final, e pronto: uma galera acreditou e fez filas pra ver a trasheira
Sem pé nem cabeça?
Quem imaginou que uma imagem de manequins do famoso Museu de Cera de Madame Tussaud seria usada para afirmar que humanos estavam sendo decapitados na Deep Web? A foto foi clicada após um incêndio que ocorreu em 19 de março de 1925 e danificou braços, cabeças e outros detalhes dos bonecos. Bastou uma legenda esperta para a galera se borrar
Sem-cara ou cara de pau?
Supostamente, o governo dos EUA detém evidências fotográficas de eventos sobrenaturais, guardadas a sete chaves para não causar pânico no público. Mas alguém teria vazado algumas delas, que mostram pessoas sem rosto em meio a multidões. Nada a ver: são montagens inspiradas em uma ação publicitária da Lotus, de 2008
Uma Barbie para tarados
O enredo é digno de filme de terror: cirurgiões estariam adquirindo crianças de 8 a 10 anos em orfanatos ou famílias miseráveis para transformá-las em bonecas sexuais vivas. Braços e pernas seriam trocados por membros de silicone e cordas vocais por borracha. A aberração seria vendida na Darknet, mas a balela tem várias incongruências. O gasto com tais cirurgias (incluindo os casos que não dariam certo) seria superior ao preço de venda das bonecas (supostamente, US$ 40 mil). Além disso, alega-se que as cobaias vêm do Leste Europeu, mas lá há uma burocracia pesada para se retirar uma criança
“Gênios” do crime
A existência ou não de assassinos de aluguel na web secreta é controversa (clique aqui para saber mais). Alguns boatos são risíveis, exagerando na descrição da morte e no preço do serviço. Um alega que metade do pagamento é antecipado, e a outra metade, feita no local do crime – o que não faz sentido, porque o contratante corre o risco de se incriminar
Performance freak
A “garota-demônio”, também popular entre blogueiros que acreditam em qualquer conteúdo “vindo da Deep Web”, na verdade é uma obra de 1999 do chinês Zhu Ming. Considerado um dos grandes expoentes da vanguarda asiática, ganhou fama com performances com enormes bolhas de plástico ao redor do mundo. Confiras outras obras dele clicando aqui.
O canibal alemão
Circula a informação de que foi pela Deep Web que, em 2001, o engenheiro de software alemão Bernd Jürgen Brandes se dispôs voluntariamente a ser comido pelo canibal Armin Meiwes, num crime que chocou a opinião pública na época. Meiwes amputou o pênis da vítima, ambos comeram a “iguaria”, e Brandes morreu pouco depois. Mas o contato entre eles rolou na rede comum
Convocando Satanás
A qualidade técnica e artística desta imagem já devia deixar claro: é uma obra profissional, não um flagra amador de algum ritual demoníaco! A autora é a fotógrafa ucraniana Olia Pishchanska, que usa cenários de sua terra natal em ensaios com um tom sinistro, cheios de climão. Confira um vídeo com as melhores imagens
Nota zero em ciência
Outra “apropriação indébita” da sétima arte: imagens “vazadas” junto a uma longa descrição sobre horríveis experimentos científicos realizados em cobaias humanas são cenas de A Centopeia Humana 2 (2011). Só de ler o texto já dá pra desconfiar: está cheio de erros de grafia e o autor tem péssimo conhecimento de ciência ou medicina
Enfermeiras do mal
Esta e outras fotos do Museu Imperial da Guerra, de Londres, mostram adultos e crianças usando máscaras de gás no início da 2ª Guerra Mundial – medida preventiva diante de um possível ataque alemão com gases tóxicos, como rolou na 1ª Guerra Mundial. Não tem nenhuma relação com “operações macabras secretas”, como alegam na Deep Web
Coisa de Hollywood
Outro engraçadinho tentou justificar a existência de crianças assassinas na Darknet com uma foto do suspense Os Filhos do Medo (1979). O filme é dirigido por David Cronenberg, expert em bizarrices cinematográficas, como A Mosca (1986) e eXiztenZ (1999). Na trama, crianças deformadas cometem crimes perturbadores
Subindo pelas paredes
Garotas com dons telecinéticos? Possuídas pelo demônio? Envolvidas com bruxaria? Tente algo mais inocente: bailarinas. A foto é de uma performance organizada por Pina Bausch (1940-2009), considerada uma das mais influentes artistas da dança moderna. O espetáculo se chama Barbe Bleue, é de 1977 e está no YouTube. Clique aqui para assistir.
O ET que era robô
Outra foto “extraída” das profundezas escuras supostamente prova a existência de extraterrestres. Os norte-americanos teriam até conduzido uma autópsia em um deles, nos laboratórios secretos da Área 51. Nada a ver: a imagem é de um animatronic (robô que simula movimentos) feito pelos estúdios Disney para um pavilhão da Feira Mundial de Nova York de 1964
UFC é fichinha
Esse rumor é uma variante dos “snuff movies”: em vez de vídeos com morte de atores, a área obscura da rede mundial de computadores teria lutas reais até a morte, transmitidas ao vivo via streaming para fãs e apostadores. Os “gladiadores” lutariam entre si e até com animais selvagens. Mas, mais uma vez, não há provas concretas da existência desses eventos
ESTA É A PARTE 6 DA MATÉRIA MISTÉRIOS DA DEEP WEB. Confira as outras:
Parte 2: Todo site na Deep Web é maligno?
Parte 3: Como ela torna sua navegação secreta?
Parte 4: Quais os piores crimes que ocorrem lá?
Parte 5: Quais criminosos já foram presos?
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Como funcionam os sites de busca?
CONSULTORIAIlya Lopes, especialista de Awareness & Research da Eset Brasil, Thomas Soares, engenheiro e coordenador-adjunto da Associação Software Livre, Denis Shestakov, pesquisador de pós-doutorado no Departamento de Tecnologia de Mídia da Universidade Aalto, na Finlândia, e Centro de Mídia Independente do Rio de Janeiro
FONTESSitesBright Planet,World Wide Web SizeeAnonymous, livrosTheDeep Web: Surfacing Hidden Value, de Michael K. Bergman, eSampling the National Deep, de Denis Shestakov