São naves que carregam equipamentos de laboratório e câmeras para lugares ainda inacessíveis ao homem. Em Marte e em Vênus, os planetas mais próximos da Terra, várias sondas já pousaram. Outras passaram raspando por Mercúrio, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Só Plutão, o mais distante, ainda não recebeu nenhuma visita. Mas a participação dessas exploradoras espaciais começou bem mais perto, com a própria Lua, quando, ainda em 1959, a ex-União Soviética mandou suas primeiras sondas para lá. Uma delas, a Luna 3, fez as pioneiras fotos do lado escuro do nosso satélite. Entre as americanas, as estreantes foram as sondas Ranger, que tiraram mais de 17 mil fotos da Lua na década de 60. Essas imagens, claro, foram essenciais para que, em 1969, astronautas fossem levados para lá com relativa segurança. Depois da Lua, os soviéticos mandaram com sucesso esses equipamentos para Vênus: em 1975, suas sondas Venera 9 e 10 tiraram as primeiras fotos a partir da superfície de outro planeta.
Os Estados Unidos, no ano seguinte, fizeram o mesmo, só que em Marte, com as sondas Viking 1 e 2. E repetiram a dose 20 anos depois, com o famoso jipinho da missão Mars Pathfinder, o primeiro veículo a se locomover para fazer filmagens fora da Terra. Entretanto, o trabalho de uma sonda não é só de cinegrafista espacial. Ela carrega poderosos instrumentos capazes de analisar a composição química da atmosfera, a velocidade dos ventos e o relevo do solo, além da radiação e do campo magnético dos astros. Mesmo que a parte mais vistosa dessas jornadas sejam as imagens enviadas de volta à Terra, os outros equipamentos são fundamentais para mostrar segredos menos visíveis, mas muito mais surpreendentes. Os instrumentos das primeiras sondas a passar por Júpiter (as Pioneer 10 e 11, em 1974) detectaram um comportamento estranho na carga elétrica de partículas ao redor do planeta. A tradução dos resultados, para os cientistas, sugeria que Júpiter teria anéis, como Saturno.
Foi uma indicação reveladora, mesmo sem as Pioneer conseguirem imagens que provassem tal teoria. Isso só foi acontecer em 1979, quando outras sondas, as Voyager 1 e 2, foram mandadas direto para o planeta. Aí, sim: vistos de um ângulo diferente, os anéis finalmente deram o ar da graça e puderam ser filmados. Essa não foi a única novidade que as sondas encontraram por aquelas bandas. A própria Voyager 2, única nave que já passou por planetas mais distantes que Júpiter, descobriu dez novos satélites em Urano em 1986 – antes, só cinco eram conhecidos. Em 1989, foi a vez de Netuno: seis de seus oito satélites só foram revelados pela exploração da Voyager. O curioso é que tanto essa veterana quanto sua irmã funcionam até hoje. Sem nenhum planeta por perto, elas investigam as últimas fronteiras do sistema solar. De quebra, levam um alô da Terra para um eventual encontro com habitantes de outros planetas.
São centenas de fotos, diagramas, músicas e sons, que cumprem o papel de uma autêntica mensagem na garrafa jogada pela humanidade no oceano cósmico.
AVISO AOS NAVEGANTES
Este disco é uma espécie de cápsula do tempo, que leva imagens e sons da Terra para o caso de seres inteligentes encontrarem a Voyager por aí. Feito em cobre, no final da década de 70, traz gravações em formato analógico. Esses desenhos são instruções de como pôr o disco “para tocar”. Mas, convenhamos, os ETs vão ter que ser muito inteligentes para decifrar esse estranho manual de instruções
FOTOS E ROCKNROLL
A cápsula do tempo tem 115 imagens, com fotos, esquemas e diagramas como os que você vê ao lado, de um congestionamento na Índia e de uma ilustração da gravidez humana. Há ainda 21 sons, de latido de cachorro a motor de carro, e dezenas de músicas, da 5ª Sinfonia de Beethoven a “Johnny B. Goode”, de Chuck Berry. Há também diferentes mensagens de boas-vindas gravadas em 55 idiomas. A mensagem em português é um “paz e felicidade a todos”, com sotaque carioca. Você pode conferir o acervo da cápsula entrando no site https://voyager.jpl.nasa.gov/spacecraft/goldenrec.html
LONGA JORNADA
Voando a 61 mil km/h, as sondas Voyager 1 e 2 – que são idênticas – estão a 13 bilhões e a 10 bilhões de quilômetros da Terra, respectivamente. Aliás, a Voyager 1 é a campeã de distância do nosso planeta, deixando a Pionner 10 (com 12 bilhões de quilômetros) em segundo lugar. Há dez anos as duas Voyager já deixaram para trás a órbita de Plutão
IMPULSO LIMITADO
Alguns quilos de plutônio-238 servem de combustível para os equipamentos da nave. Esses átomos, radioativos, atiram partículas nas paredes de um cilindro, gerando calor. Depois, uma miniusina termoelétrica converte o calor em energia elétrica para a sonda. Pelos cálculos da Nasa, a força não acaba antes de 2020
TRANSMISSÃO TRUNCADA
Com 70 metros de diâmetro, a antena manda dados para a Terra a 7,2 quilobits por segundo (kbps), taxa oito vezes menor que a de um modem comum, de 56 kbps. Mas os sinais vêm rápido: viajando à velocidade da luz (1,08 bilhão de km/h), demoram só 12 horas para atingir a Terra. Os dados chegam logo, mas em pequenos blocos de informação
PENEIRA DE ÁTOMOS
Detectores de partículas captam os chamados raios cósmicos, jatos de núcleos atômicos e elétrons que saem de estrelas e atravessam a galáxia. Quando a nave estiver fora da área de influência do Sol, poderá captar e estudar as propriedades desse turbilhão sem a interferência das partículas atiradas por nosso astro
MAGNETISMO PLANETÁRIO
Este instrumento, o magnetômetro, determina a intensidade de campos magnéticos. No caso da Voyager 2, foi útil para medições em Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Em dez anos, com a nave fora da influência magnética do Sol, poderá fornecer os primeiros dados de campos magnéticos do espaço vazio
BIG BROTHER NO ESPAÇO
Das quatro lentes da Voyager, duas são semelhantes às das câmeras terrestres. A menor filma panoramas abertos, como uma grande-angular, e a maior focaliza detalhes, como uma teleobjetiva. Uma terceira lente, a de infravermelho, pode medir o calor de planetas. Já a de ultravioleta ajuda a analisar as composições químicas dos astros