Por que a Netflix vicia?
O serviço tem um avançado sistema de algoritmo de recomendação ao usuário e analisa "big data" para tornar a interface mais intuitiva e atraente.
Não é só por causa da sua preguiça. O site tem um dos sistemas de interface e de algoritmos para recomendação mais avançados do mundo, criado exatamente para você emendar uma atração na outra, sem nem se dar conta. É por isso que, em média, a cada sessão, um usuário costuma ver dois episódios de série seguidos e cerca de dez minutos do terceiro.
A empresa é tão obcecada por esse tema que, em 2009, lançou uma premiação que daria US$ 1 milhão a praticamente qualquer pessoa que conseguisse melhorar o sistema de recomendação. Ganhou uma equipe com sete programadores que elevou em 10,6% o índice de precisão das sugestões. Além disso, a Netflix usa e abusa do “big data”: a capacidade de analisar imensas quantidades de dados digitais. Vendo o que seus 65 milhões de usuários estão assistindo ou como navegam pelo serviço, eles realizam ajustes para tornar o consumo ainda mais intuitivo e viciante.
EM MÉDIA, CADA USUÁRIO…
Empresa sabe direitinho como o público se comporta na interface
… gasta só 1,5 segundo avaliando cada título
… só presta atenção nas 3 primeiras fileiras
… avalia de 50 a 60 títulos antes de decidir
… leva apenas 30 segundos para decidir ver o próximo episódio de uma série
… leva entre 3 e 4 minutos para escolher um filme ou seriado novo
… escolhe algo recomendado a ele na interface 70% das vezes
… fica 93 minutos no serviço a cada sessão
Com a sua cara
O sistema de recomendação analisa tudo que você assistiu para criar uma interface só para você, apenas com os filmes e as séries que mais o satisfarão. Quanto mais à esquerda, mais indicado a você o título é. É por isso que o que aparece na “sua”Netflix nem sempre está no do seu amigo ou no do seu vizinho.
Onde você olha
A Netflix também executa testes que medem, com precisão, em que pontos da tela o usuário presta mais atenção. A área “mais atraente” é o título principal no topo esquerdo – mas ninguém liga para a imagem referente a ela. Nas fileiras, isso se inverte: o foco se concentra na imagem da atração.
Ficha corrida
Cada filme ou série pode receber mais de mil tags: ano, nome dos atores, do diretor, gênero, subgênero, popularidade, temática etc. Isso permite que sejam agrupados nas fileiras. Após anos de teste, concluiu-se que a interface ideal tem cerca de 40 fileiras com 75 atrações cada uma.
ESTE… OU AQUELE?
Serviço testa leves alterações com grupos de “cobaias” involuntárias
Em média, a cada três dias a Netflix faz mínimas alterações em sua interface, como resultado dos chamados “testes A/B”. Sem saber, um grupo de usuários “A” recebe uma versão levemente diferente do serviço. Um grupo “B” é observado com a versão padrão. Se, no mesmo período de tempo, A consumir mais Netflix que B, é sinal de que a alteração foi positiva – e ela é implementada para todos os usuários.
O teste A/B é muito usado nas imagens que divulgam as séries originais. Na estreia de Orange Is the New Black, foram testadas seis fotos. No grupo que recebeu a imagem imediatamente acima, o índice de streaming da série foi de 19,4%. Com as “cobaias” que viram a imagem mais no alto, o valor subiu: foi de 20,5%.
CONSULTORIA Zach Schendel, gerente sênior de Consumer Insights, e Todd Yellin, vice-presidente de Product Innovation, ambos do Netflix
FONTES Relatórios Nielsen Ratings, Comcast Media Metrix e Total Video Report