Quais são os limites de sobrevivência do homem?
Listamos sete situações radicais e a reação do corpo a cada uma delas
Em situações extremas na natureza, o ser humano pode morrer por pelo menos sete motivos: de sede, de fome, de calor, de frio, por ficar muito tempo sem respirar e por estar submetido aos efeitos de grandes altitudes ou profundidades. Na ilustração ao lado, apresentamos o que acontece com nosso organismo quando ele passa por cada um desses perrengues. Para calcular cada limite, consideramos um ser humano sedentário, de 1,70 metro e 70 quilos, sem equipamentos de proteção.
O homem não nasceu para experiências radicais, mas mesmo assim podemos nos adaptar a várias situações. “Para desempenhar suas atividades em variadas condições, nosso organismo modifica processos que regulam a pressão dentro dos vasos, o volume de água, a temperatura corporal e a oferta de oxigênio e nutrientes”, diz o fisiologista cardiovascular Ruy Ribeiro de Campos Júnior, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Não é de hoje que o homem testa seus limites. Uma experiência célebre aconteceu em 1862, quando o balonista Henry Coxwell e o médico James Glaisher, ambos ingleses, atingiram uma altitude entre 8 850 metros e 11 mil metros (não há dados precisos) a bordo de um balão. Lá em cima, onde o oxigênio é rarefeito, Glaisher ficou temporariamente cego e desmaiou. Quando viu que ia apagar também, Coxwell fez o balão descer em segurança. O médico tomou um baita susto, mas se recuperou.
Não faça isso em casa
SEDE
LIMITE – Quatro dias sem água
RECORDE – Em 1905, o mexicano Pablo Valencia ficou sete dias sem beber nada no deserto do Arizona, nos Estados Unidos
O QUE ACONTECE – Nosso corpo tem cerca de 40 litros de água. Se perder entre 15% e 25% disso, as células murcham e o sangue fica viscoso, dificultando o trabalho do coração. Resultado: tonteiras, fadiga, inconsciência e, no fim, morte
PROFUNDIDADE
LIMITE – 3 metros (na água, para uma pessoa não treinada)
RECORDE – Em outubro do ano passado, o francês Loic Leferme desceu a 171 metros em apnéia (sem respirar). Com cilindros de oxigênio, o recorde é de 313 metros
O QUE ACONTECE – A pressão comprime principalmente o tórax e os órgãos internos. O coração tem dificuldade para bombear o sangue e os pulmões ficam amassados. Isso sem falar da falta de oxigênio
FRIO
LIMITE – Com roupas leves, até -5 ºC
RECORDE – Em setembro do ano passado, o holandês Wim Hof ficou 1 hora e 8 minutos dentro de uma caixa em contato com gelo
O QUE ACONTECE – O corpo consome mais energia para evitar que a temperatura interna fique muito baixa (o normal é 36,5 ºC). Quando ela chega a 32 ºC, os vasos sanguíneos se fecham para perder menos calor para o ambiente, o sangue fica mais denso e o coração bate mais devagar, prejudicando a circulação. Com o corpo a 20 ºC, o coração pára de bater
RESPIRAÇÃO
LIMITE – Três minutos sem respirar
RECORDE – Em dezembro do ano passado, o alemão Tom Sietas teria prendido o fôlego durante 8 minutos e 58 segundos dentro de uma piscina. A marca ainda depende de confirmação
O QUE ACONTECE – Sem oxigênio, os neurônios são os primeiros a jogar a toalha. E você já sabe: depois que morre, um neurônio não se recupera nem ganha um substituto. A morte cerebral é irreversível. O coração pode sofrer lesões e infartos
CALOR
LIMITE – Cerca de 50 ºC (temperatura ambiente)
RECORDE – Não há registro preciso
O QUE ACONTECE – Sensores localizados na pele enviam sinais para o cérebro, onde fica o hipotálamo, que funciona como um termostato. Ele dá o comando para produzir suor e resfriar o corpo. Para isso é preciso usar a água do organismo. Quando está muito quente, ela acaba rápido e a temperatura interna dispara. Se a febre passar de 42 ºC, os neurônios começam a pifar
ALTITUDE
LIMITE – Acima de 3 mil metros, uma pessoa não aclimatada pode passar mal
RECORDE – Em 1978, os austríacos Peter Habeler e Reinhold Messner atingiram pela primeira vez o topo do Everest (8 850 metros) sem oxigênio suplementar
O QUE ACONTECE – Quanto maior a altitude, menos oxigênio. Acima de 6 mil metros, o alarme é disparado por células quimiorreceptoras, localizadas nas carótidas (duas artérias do pescoço) e na aorta. Para compensar a falta de ar, elas aceleram a respiração
FOME
LIMITE – 20 a 30 dias sem comer
RECORDE – Em dezembro de 2004, o carioca Erikson Leif ficou 51 dias, 22 horas e 30 minutos sem comer. Ele começou o jejum com 103 kg e terminou com 78,5 kg
O QUE ACONTECE – Cai a taxa de glicose no sangue. Sem combustível, o corpo consome as gorduras. Depois, avança sobre as proteínas. A inanição altera a pressão arterial, detona órgãos internos e causa desmaios
Consultoria: Fadlo Fraige Filho, professor da Faculdade de Medicina do ABC; Ruy Ribeiro de Campos jr., professor de Fisiologia Cardiovascular da Unifesp; Dalva Poyares e Luciano Ribeiro Jr., neurologistas do Instituto do Sono da Unifesp; Ricardo Vivacqua, especializado em medicina hiperbárica
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