Esses aviadores não eram uns malucos prontos para se matar, mas uma arma efetiva do Exército e da Marinha japonesa. Eles faziam parte de grupos de pilotos organizados para realizar ataques suicidas contra navios americanos e britânicos no oceano Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Essa tática desesperada dos camicases (“deuses do vento”, em japonês) refletia a crise do Exército nipônico, quando a derrota para os Aliados era iminente. Tanto que eles apareceram apenas em 1944, quando as Forças Armadas do Japão sofriam com grandes baixas e inúmeras perdas de equipamento. O que movia esses homens para a morte certa era um fervor genuinamente religioso, baseado em valores tradicionais do Japão. Culturalmente, o suicídio em determinadas circunstâncias era visto por eles como demonstração de honra. Uma atmosfera sagrada envolvia os aviadores: na véspera de suas missões eles participavam de rituais religiosos e embarcavam para a morte com espadas de samurai, símbolo máximo da bravura nipônica. Mesmo com todo esse glamour, os camicases geralmente eram pilotos novatos que utilizavam qualquer avião que pudesse voar. Apesar disso, uma aeronave especializada chegou a ser feita exclusivamente para os suicidas. Equipado com motores-foguete, esse avião 100% camicase era minúsculo e pesava só 480 quilos – fora a bomba de mais de 1 tonelada que ele carregava. Pelas contas dos americanos, os camicases não eram muito eficientes: calcula-se que três em cada quatro aviões suicidas eram destruídos antes de atingir o alvo, e apenas um em cada 33 conseguia afundar um navio. Ainda assim, eles espalharam terror no front oriental da Guerra. “As estimativas dão conta que os camicases destruíram mais de 30 navios e mataram 5 mil americanos em uma única batalha”, diz o historiador americano Jon Guttman, editor da revista americana especializada Military History (“História Militar”).
Mergulhe nessa
Na livraria:
Kamikazes
A.J. Barker, Renes, 1975
Kamikaze: Japan’s Suicide Gods
Albert Axell e Hideaki Kase, Pearson Longman Publishing, 2002
Na internet:
https://www.tcr.org/kamikaze.html
1. O avião camicase era basicamente uma bomba pilotável. Tanto que era transportado por um bombardeiro e não tinha trem de pouso. A miniaeronave era solta nas imediações do navio a ser atacado, mas como os bombardeiros eram pesados e lentos, os aviões viravam alvo fácil para os caças inimigos
2. O piloto suicida viajava dentro do bombardeiro. Quando a aeronave chegava às proximidades do alvo, ele descia pelo compartimento de bombas e acomodava-se no avião camicase. Então, ele se desprendia e iniciava um vôo planado por cerca de 80 quilômetros, a 470 km/h
3. A cerca de 5 quilômetros de distância do alvo, o piloto do avião suicida disparava os três motores-foguete da aeronave, movidos a pólvora, e iniciava seu mergulho final em direção ao navio. Nessa hora, sua velocidade passava de 960 km/h, quase 300 km/h mais rápido que os caças americanos encarregados de interceptá-lo
4. Na hora do mergulho, o piloto tentava atingir o navio inimigo no ângulo mais reto possível, para dificultar a ação da artilharia defensiva. Os aviões suicidas não causaram destruição ainda maior por serem comandados por aviadores inexperientes, que não acertavam os pontos mais vulneráveis dos alvos
5. Nas missões suicidas, pilotos camicases usaram também aviões convencionais. Equipadas com cargas de explosivos e tanques extras de combustível para garantir a destruição na hora do impacto, essas aeronaves podiam causar danos graves o bastante para colocar os navios atacados fora de combate, mesmo que não conseguissem afundá-los
6. Para dificultar a ação dos ataques camicases, os americanos reforçaram sua artilharia antiaérea, aumentaram a blindagem dos navios e adotaram manobras defensivas, como evitar concentrações de barcos. A partir de dezembro de 1944, destróieres equipados com radar passaram a ser posicionados a 100 quilômetros das frotas principais. Eles davam um alerta antecipado para orientar os caças que revidavam o ataque
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