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A volta de Palpatine resume tudo que está errado no novo Star Wars

O Imperador está de volta no Episódio 9. Mas não só ele: o filme resgata – e exagera – muitos elementos-chave da trilogia original (cuidado, spoilers).

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 17 set 2021, 23h15 - Publicado em 20 dez 2019, 17h02

A risada de bruxa velha já estava no trailer, então não é spoiler: o Imperador Palpatine está de volta no Episódio 9 de Star Wars. 

(Daqui para frente, porém, este texto é só spoilers. De fato, ele sequer faz sentido para quem não viu o filme. Fuja o mais rápido que puder, caro desavisado.)

Não é só Palpatine. A verdade é que todo mundo está de volta no filme novo. Até quem morre no próprio filme. Os roteiristas são incapazes de matar alguém de vez. 

Em algumas situações, o momento Chico Xavier se dá por meio de artifícios que já fazem parte do imaginário da saga – como os espíritos azulados dos Jedi. Às vezes, a volta dos que não foram utiliza um recurso inédito: há ferimentos letais que cicatrizam milagrosamente, estilo Jesus ou Harry Potter. Por fim, algumas soluções são simplesmente toscas: uma nave explodiu com um personagem dentro? Calma: não era aquela nave. Era só uma outra nave, exatamente igual

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Mesmo objetos se negam a partir desta para melhor. O pequeno artefato piramidal Sith, capaz de guiar os Rebeldes ao planeta perdido de Exegol, é destruído por Kylo Ren. Algum problema? Não, afinal, há outro idêntico. O roteiro é uma criança mimada: não aceita ficar sem nada. Faz birra quando algo some; imediatamente o tal algo volta em um passe de mágica. As coisas dão certo com tanta frequência – e o filme corre em um ritmo tão alucinante – que o espectador fica anestesiado. 

Vamos dar nome aos bois e mencionar algumas situações:

Rey, incapaz de lidar com seus poderes, solta relâmpagos da Força com as mãos (estilo Palpatine) e destrói o cargueiro da Primeira Ordem que está levando Chewbacca algemado. Parece uma idéia ótima: a aprendiz de Jedi deixa o ódio fluir sem querer e acaba machucando quem ama. É a mesma lição que Anakin não aprendeu na Vingança dos Sith. Só tem um problema: de última hora descobrimos que aquela era a nave errada, e que o Wookie está vivo. Assim fica difícil botar a mão na consciência. 

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Depois, Rey e Kylo duelam nos destroços da segunda Estrela da Morte, na lua de Endor. Como o páreo fica duro, Leia, que está a beira da morte, deitada em outro planeta, interfere usando a Força. Faz um interurbano por telepatia para o filho, em resumo. Kylo fica em choque, dá brecha e entrega a luta para Rey. Foi o primeiro duelo da saga resolvido com um deus ex machina

Achou ruim? Calma que piora. Depois que Rey enfia o sabre no oponente distraído, ela se arrepende e fecha o ferimento do vilão com as mãos para trazê-lo de volta à vida. Sim, mais ou menos que nem Melisandre faz com Jon Snow em Game of Thrones. Mas é tão rápido que ele nem chega a morrer.

O momento esotérico tem uma cereja no bolo: depois que Rey vai embora, Han Solo aparece. Não na forma de espírito, mas em carne e osso, embora esteja morto há dois filmes. Ele conversa com o filho recém-renascido e o convence de que o lado do bem é a escolha certa. Fica claro que é uma alucinação. Mas também fica claro que não dá muito certo. 

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Não consigo imaginar o quanto foi difícil para os produtores convencerem Harrison Ford a fazer uma pontinha na Ascensão Skywalker. Em uma entrevista muito citada ao New York Times, ele não parecia simpático à trilogia nova: “Eu estava em O Despertar da Força para morrer. Eu não podia dar menos bola para quem ficaria no meu lugar.” Bem, morreu mesmo. Só que não, afinal, isso aqui é Star Wars

Até os droides voltam do céu ciborgue. Em certa altura da história, a memória de C-3PO precisa ser apagada para que ele possa traduzir uma mensagem Sith escrita em runas (droides protocolares, feitos para lidar com situações diplomáticas, são programados para não mexer com o lado negro da força).

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Você acha que é o fim do personagem de Anthony Daniels – e, de fato, ele passa mais ou menos uma hora de filme sem a menor ideia do que está acontecendo. Depois, porém, R2-D2 magicamente insere um backup no amigo, e o douradinho volta ao normal. 

As naves também renascem. No Episódio 8, a X-wing T-65 vermelha (código Red 5) que Luke Skywalker pilota na trilogia clássica é vista embaixo d’água na ilha paradisíaca do planeta Ahch-To, onde o mestre Jedi se exilou voluntariamente após seu plano de reerguer a Ordem dar errado. Até aí, legal. No Episódio 9, o negócio vai além: o espírito azul de Luke puxa a X-Wing para fora da água. Detalhe: o caça está funcionando normalmente. Rey pega o possante e corre com ele para o outro lado da galáxia, sem nem trocar o óleo. 

Falando em idosos mortos tirando naves que não existem mais da água, Palpatine faz a mesma coisa logo na abertura do filme – só que em escala industrial. Ele extrai centenas de star destroyers do gelo, todos com a aparência das naves imperiais antigas, da trilogia original. Cada uma está equipada, porém, com um canhão capaz de destruir um planeta. Sim: em vez de uma Estrela da Morte gigante, este filme tem um enxame de estrelas da morte pequenininhas, instaladas nos monstrões triangulares que já conhecíamos. Saudades, novidades. 

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Quem assistiu ao Retorno de Jedi sabe que é difícil alguém estar mais morto que o Imperador. O sujeito na casa dos 80 anos foi arremessado em um poço de manutenção com alguns milhares de metros de profundidade na segunda Estrela da Morte. Depois, os rebeldes vão lá e explodem a estação espacial inteira com o corpo do vovô dentro.

Assim, era bom J. J. Abrams arranjar uma desculpa muito boa para ressuscitar o vilão. Não arranjou: ninguém explica qual magia negra lhe permite voltar à vida. Ele reaparece para substituir Snoke no papel de vilão por causa de um erro de roteiro no filme anterior – e não porque faz algum sentido. 

É evidente que o contato com os mortos é um elemento importante das trilogias de George Lucas, mas ele foi usado com tanto exagero na Ascensão Skywalker que fez o filme parecer uma paródia – quase um episódio de Porta dos Fundos – da trilogia original. Até o clássico letreiro de abertura amarelo admite: “Os mortos falam! A galáxia ouviu uma misteriosa transmissão, uma ameaça de vingança na voz sinistra do falecido Imperador Palpatine.”

Esse erro se repete em muitos outros elementos-chave do filme. Na batalha final, Palpatine usa as mãos para imobilizar toda a frota improvisada da Resistência de uma tacada só. Tudo bem, o cara é poderoso. Mas, ao resolver a batalha sozinho, ele de alguma maneira está dobrando as regras do xadrez de Star Wars. O filme fica com gostinho de fanfic. Vira uma espécie de remake do último episódio da trilogia clássica, que replica seus acontecimentos com uma roupagem exagerada, mas sem mexer no essencial.

É um exercício de saudosismo: já que criar um novo enredo – como George Lucas fez nos episódios 1, 2 e 3 – seria muito arriscado, a solução é contar exatamente a história que já conhecemos, embalada para presente nos moldes do cinema Marvel que é garantia de bilheteria. Com um problema: Star Wars não é Marvel. É, simplesmente, Star Wars

 

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