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África do Sul suspende uso da vacina de Oxford; estudo que embasa decisão tem limitações

Estudo preliminar sugere que a vacina de Oxford é menos eficaz contra a variante B.1.351, que circula no país africano. Cientistas dizem que a pesquisa tem limitações e os resultados ainda são inconclusivos.

Por Carolina Fioratti
Atualizado em 8 fev 2021, 21h28 - Publicado em 8 fev 2021, 21h27

No último domingo (7), o ministro da saúde da África do Sul, Zweli Mkhize, suspendeu a vacinação contra a Covid-19 no país. A decisão veio após a divulgação de um estudo preliminar sugerindo que a vacina de Oxford/AstraZeneca não é eficaz contra a variante B.1.351 do Sars-CoV-2, responsável por cerca de 90% dos novos casos de coronavírus na África do Sul. 

A pesquisa, que ainda não passou pela revisão de outros cientistas, foi conduzida pela Universidade de Witwatersrand, de Joanesburgo. Na verdade, os dados não são inéditos: trata-se de um recorte do ensaio clínico de Fase 3 comandado pela AstraZeneca no país africano. Os cientistas consideraram dados de pouco mais de 1,4 mil pessoas, as quais foram divididas em dois grupos: o primeiro que tomou a vacina e o segundo que recebeu um placebo. 

Duas semanas após o recebimento da segunda dose da vacina, os voluntários foram testados para a Covid-19. No grupo que recebeu o imunizante, houveram 19 pessoas infectadas pela variante B.1.351, enquanto o número foi de 20 no grupo placebo para as mesmas condições. O valor sugere uma eficácia baixa, de apenas 10,4% para tais casos. 

Monica de Bolle, pesquisadora membro do Observatório Covid-19 BR, explicou à SUPER que os resultados são inconclusivos e que não há necessidade de alarde. “Este é um número muito pequeno de pessoas infectadas para que se tire qualquer tipo de conclusão definitiva. Inclusive, na análise estatística, o intervalo de conclusão ficou muito grande.”

O intervalo ao qual a de Bolle se refere é estabelecido pelos pesquisadores com base no maior e no menor valor possível de eficácia. O número real estaria nesse meio. Mais fácil exemplificar: suponhamos que uma determinada vacina tenha eficácia de 90%. Este não é o número exato, mas sim uma estimativa que se encontra dentro de um intervalo de confiança, como 85% e 95%. Ou seja, a eficácia pode ser 87% ou mesmo 93%, mas o valor não deve variar tanto que isso. O novo estudo, por outro lado, aponta para um intervalo de conclusão que varia muito, entre -78,8% até 54,8%. Isso é resultado de uma amostragem pequena de pessoas infectadas.  

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Além disso, todos os casos da variante B.1.351 ocorreram em pessoas jovens, com baixo risco de agravamento. Nenhum desses voluntários evoluiu para o quadro grave da doença. Dessa forma, não é possível avaliar o impacto da vacina em prevenir hospitalizações – que é o foco da maioria dos países nesse momento.

No entanto, a pesquisa não deve ser totalmente invalidada. É provável que a vacina tenha sua eficácia reduzida diante de uma nova variante do Sars-CoV-2, mas são necessários estudos maiores (os quais provavelmente serão feitos) para analisar o caso e chegar a um valor mais próximo do real.

A variante B.1.351, que agora é predominante na África do Sul, possui as mutações E484K e N501Y. Essas alterações ocorrem em regiões do genoma que codificam aminoácidos da proteína spike, que se liga às células humanas causando a infecção. Pense como se a proteína spike fosse uma peça com encaixes: nas vacinas já desenvolvidas, o anticorpo se ligaria a eles, bloqueando a entrada do vírus. Mas, com as mutações, é como se o formato dos encaixes mudasse e o anticorpo tivesse dificuldade em realizar a conexão. 

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A melhor alternativa para resolver o problema seria atualizar a vacina, o que já está sendo feito pela Universidade de Oxford. Sarah Gilbert, que está à frente do desenvolvimento do imunizante, afirmou em comunicado que a vacina reformulada poderia ser dada como injeção de reforço à existente.

No Brasil, a variante P.1, relatada pela primeira vez em Manaus, também possui as mutações E484K e N501Y. Não há dados referentes à eficácia da vacina de Oxford/AstraZeneca ou qualquer outro imunizante em relação à P.1. De toda forma, é importante lembrar que a variante não é a predominante no país, tendo aqui um cenário diferente do sul-africano. 

A África do Sul conta com 1 milhão de doses da vacina de Oxford/AstraZeneca em solo nacional e estava com o início da campanha de vacinação programado para a próxima semana. Até a segunda ordem, deverá oferecer apenas as vacinas produzidas pela Johnson & Johnson e pela Pfizer/BioNTech.

No Brasil, o oferecimento da vacina de Oxford/AstraZeneca continua, assim como o da Coronavac, ambos aprovados pela Anvisa. Além de tomar o imunizante quando indicado, respeitando a campanha de vacinação, deve-se insistir no uso de máscaras, manter o distanciamento social, usar álcool em gel e prezar sempre pela circulação do ar. No final das contas, o vírus só sofre mutações significativas quando ele se reproduz muito – resultado das altas taxas de transmissão. Quanto menos ele circular, menores serão nossas dores de cabeça com as variantes.

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