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Alimentação rica em gorduras pode fazer você viver mais

Estudos comprovam que manter uma dieta cetogênica pode melhorar a memória e contribuir para uma vida mais longa

Por Pâmela Carbonari Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 11 mar 2024, 16h24 - Publicado em 6 set 2017, 17h39

Você já deve ter percebido que abacate está na moda. Não é à toa que ele está cada vez mais presente em cremes, pastas, petiscos – até cafés são feitos na casca da fruta. Além de ser rico em fibras, minerais e vitaminas, a quantidade de gorduras faz com que ele seja um dos alimentos mais badalados da dieta cetogênica, conhecida por reduzir os carboidratos e aumentar o consumo de gorduras e proteínas.

Com a baixa ingestão de carboidratos, o corpo entra em um estado metabólico chamado cetose (daí o nome “cetogênica”) que usa as gorduras armazenadas como fonte de energia, e não os carboidratos – e isso estimula a perda de peso. Recentemente, esse tipo de dieta começou a despertar a curiosidade (e também a desconfiança) dos cientistas sobre seus efeitos no emagrecimento, no auxílio em tratamentos contra o câncer e na redução de convulsões em casos de epilepsia, por exemplo.

Agora, some a essa lista outros dois estudos que comprovam pontos positivos de comer mais gordura que carboidrato: melhorar a memória na velhice e aumentar a expectativa de vida. Duas pesquisas, realizadas de maneira independente, analisaram os efeitos a longo prazo da alimentação gordurosa em ratos. Uma delas, feito pelo Instituto Buck de Pesquisa em Envelhecimento, na Califórnia, se concentrou na relação entre dieta cetogênica e envelhecimento. A outra, desenvolvida pela Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade da Califórnia, estudou o efeito da dieta em ratos adultos e teve resultados semelhantes, mas também percebeu que os roedores apresentaram uma melhora na força e na coordenação motora. Ambas foram publicadas recentemente no periódico científico Cell Metabolism.

Nessa segunda, para perceber os efeitos metabólicos da dieta, os ratos foram divididos em três grupos que consumiam a mesma quantidade de calorias, mas provenientes de fontes diferente. “Ficamos impressionados em como os efeitos foram distintos em cada dieta – os camundongos que se alimentaram com uma dieta baseada em gorduras tiveram um aumento de 13% na média de vida, se comparados aos que comiam muitos carboidratos”, afirma o autor principal do estudo, Jon Ramsey. A equipe da Universidade da Califórnia avalia que em humanos esse aumento equivale de sete a dez anos a mais. Os roedores que seguiram a dieta cetogênica também apresentaram elevação da função motora e menor incidência de tumores.

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Na pesquisa desenvolvida pelo Instituo Buck, os cientistas não perceberam aumento na expectativa de vida dos ratos alimentados com uma dieta “gorda”, mas o índice de mortes entre um e dois anos foi menor nesse grupo. O que mais despertou o interesse dos pesquisadores foram os efeitos cognitivos desencadeados pela dieta. Os ratinhos que seguiram a cetogênica não demonstraram redução de raciocínio nos testes de memória conforme a idade deles avançava. Eles também apresentaram um comportamento mais curioso e explorador que os camundongos que não foram alimentados com muita gordura.

“Algo mudou nos cérebros desses camundongos para torná-los mais resilientes aos efeitos da idade”, defende o cientista principal do estudo, John Newman, na divulgação dos resultados.

Apesar de ambas as pesquisas terem resultados positivos, as equipes não concordam sobre o que aconteceria se esses experimentos fossem adaptados para seres humanos. Os pesquisadores da Universidade da Califórnia defendem que os resultados podem ser ainda mais explícitos se reproduzidos em humanos. “Nosso estudo mostra que uma dieta cetogênica pode ter um grande impacto na expectativa de vida e na manutenção da saúde na perda de peso. Ele também abre uma nova perspectiva para dietas para melhorar a qualidade do envelhecimento”, afirma Ramsay.

Já os cientistas do Instituto Buck estão mais cautelosos. Eles acreditam que os resultados dessa pesquisa podem ajudar a identificar novas saídas para terapias anti-envelhecimento, e também estão analisando como a dieta cetogênica afeta roedores com Alzheimer. O presidente do instituto, Eric Verdin, sugere que se há tanta empolgação em comer gordura para viver melhor, o ideal é que as pessoas também se exercitem mais. “Fazer atividade física também estimula o metabolismo a entrar em cetose, esse mecanismo que protege as funções cerebrais e aumenta a expectativa de vida.”

Mesmo que seguir uma dieta cetogênica desperte várias outras dúvidas sobre os efeitos colaterais de trocar os carboidratos, é difícil acreditar que algum dia a recomendação para uma vida saudável seria comer mais gordura.

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Bom demais para ser verdade ou uma desculpa para comer sem culpa? Melhor aguardar as próximas pesquisas.

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