20 SEGREDOS QUE OS MÉDICOS NÃO CONTAM
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Em um relato publicado no The New York Times, o psiquiatra Daniel Carlat faz uma revelação perturbadora. Ele conta ter recebido proposta de uma multinacional farmacêutica para dar palestras a outros medicos sobre um novo antidepressivo. Essa prática é comum. Mas o contrato ia além, e estabelecia que a empresa teria acesso a dados dos pacientes de Carlat – diagnósticos, tratamentos e evolução de cada pessoa. O objetivo disso é saber se o médico está de fato receitando o medicamento daquela empresa. “É a chamada garimpagem de dados de receita”, escreve ele.
Os laboratórios contratam empresas especializadas nesse processo – que vão até médicos e farmácias coletando receitas. “A maioria dos laboratórios mantém convênios com as farmácias e obtém cópias das receitas dos médicos”, afirma Braúlio Luna Filho, presidente do Cremesp. A questão é especialmente delicada no caso de medicamentos psicoativos, como calmantes e antidepressivos – se você toma, provavelmente preferiria que isso ficasse somente entre você e seu médico. O Conselho Regional de Farmácia diz que a cópia de receitas é proibida.
As empresas também tentam aliciar os próprios pacientes. Quem toma remédios de uso contínuo pode se cadastrar, pelos sites dos laboratórios, informando o CRM (número de registro) do médico que os receitou – e, em troca, obter descontos no preço dos medicamentos. “O paciente tem autonomia. Mas nós não aprovamos esse comportamento”, afirma o cardiologista Henrique Batista, secretário-geral do Conselho Federal de Medicina.