Vida agitada, comida apimentada e bebida fermentada – os suspeitos de praxe nos casos de úlcera- podem não ser tão culpados ou podem não ser os únicos culpados. Investigações recentes tendem a levar ao banco dos réus uma bactéria – a Campylobacter pylorum – que não se incomoda de viver em meio de toda a acidez do estômago e do duodeno. A úlcera é uma inflamação que surge quando há um desequilíbrio entre a secreção de ácidos na digestão e a produção de substâncias que protegem as paredes do aparelho digestivo, como a prostaglandina. A culpa por esse desequilíbrio tem sido tradicionalmente atribuída a uma combinação de fatores como hereditariedade, tensão nervosa e ingestão de substâncias (alimentos, bebidas ou remédios) que agridem o aparelho digestivo.
Nos últimos tempos, porém, os pesquisadores notaram que a Campylobacter aparece com mais freqüência no organismo de pessoas com úlcera do que em indivíduos sadios. Além disso, verificou-se que a bactéria, descoberta em 1983, está presente nas próprias úlceras, em até 70% dos casos. ” A questão a saber”, raciocina o gastroenterologista Agostinho Bertarello, da Universidade de São Paulo, ” é se a bactéria provoca a úlcera ou a úlcera favorece o cescimento da bactéria”. Em busca da resposta , a equipe do professor Bertarello está inoculando a Campylobacter em animais, para ver o que acontece. Enquanto isso, pacientes com úlcera estão sendo tratados também com antibióticos – uma grande novidade.