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Erros em hospitais matam 3 pessoas a cada 5 minutos no Brasil

Segundo a UFMG, os chamados "eventos adversos" são a segunda maior causa de morte no país — atrás apenas de doenças cardiovasculares

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
22 nov 2017, 19h08

Enganos na prescrição de remédios, uso inadequado de equipamentos e infecções hospitalares tiraram a vida de 302.610 brasileiros ao longo de 2016 – são 829 mortes por dia, três a cada cinco minutos.

Esses erros banais – chamados no jargão médico de “eventos adversos” – são a segunda maior causa de morte no país: só ficam atrás de doenças cardiovasculares, responsáveis por 950 mortos a cada 24 horas. Os dados, coletados em hospitais públicos e particulares, são de um relatório produzido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e divulgado hoje (22).  

“Não existe sistema de saúde que seja infalível”, afirmou à Agência Brasil Renato Couto, professor da UFMG e um dos autores do relatório, intitulado Anuário da Segurança Assistencial Hospitalar no Brasil. “Mesmo os mais avançados também sofrem com eventos adversos. A diferença é que, no caso brasileiro, apesar dos esforços, há pouca transparência sobre essas informações e, sem termos clareza sobre o tamanho do problema, fica muito difícil começar a enfrentá-lo.” O relatório está disponível para o público e pode ser acessado aqui.

É importante reforçar que esses erros não são necessariamente resultado de negligência dos profissionais de saúde. É difícil traçar as reais causas do problema, que passam por carga de trabalho excessiva a protocolos de atendimento deficientes. A estatística assustadora não é exclusividade brasileira: erros na condução de procedimentos em hospitais matam, no mundo tudo, 42,7 milhões de pessoas por ano. Segundo a EBC, nos EUA a taxa diária de vítimas é apenas 16% menor que a nossa: são 1.096 mortos, em relação a uma população de aproximadamente 325 milhões de pessoas.

Segundo o relatório, 19,1 milhões de cidadãos brasileiros foram internados em 2016. Destes, 1,4 milhão adquiriam outro problema enquanto estavam no hospital, e passaram, em média, três vezes mais tempo internados. Os “eventos adversos” de 2016 custaram, ao todo, R$ 15,57 bilhões – dos quais R$ 10,9 bilhões poderiam ter sido economizados com a prevenção adequada. As vítimas mais frequentes são crianças com apenas um mês de vida e pessoas com mais de 60 anos. Infecções, principalmente urinárias, são a ocorrência mais comum: correspondem a 14,7% dos casos. Trombose – comum no período pós-operatório de idosos – e embolia pulmonar também são parte da rotina. 

Segundo os autores do relatório, um dos maiores desafios da área médica é a transparência: pessoas que precisam de atendimento (seja público ou privado) não têm acesso a critérios objetivos para optar por uma ou outra instituição de saúde: tradição, reputação, proximidade geográfica e indicação de familiares costumam servir para bater o martelo, levando mais pacientes a hospitais com indicadores ruins e esvaziando outros que talvez tenham índices melhores.

“Não há como saber quantas infecções hospitalares foram registradas no último ano, nem qual é a média de óbitos por diagnóstico ou a média de reinternações”, afirma Luiz Augusto Carneiro, superintendente executivo do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), instituição que participou da produção do Anuário. “Precisamos estabelecer um debate nacional sobre a qualidade dos serviços prestados na saúde a partir da medição de desempenho dos prestadores e, assim, prover o paciente com o máximo possível de informações para escolher a quem vai confiar os cuidados com sua vida.”

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