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Estudo relaciona mudanças climáticas a partos prematuros na Amazônia

Argumento é que períodos de seca e enchentes podem privar mães de uma alimentação adequada e causar quadros de estresse, atingindo diretamente a gravidez.

Por Carolina Fioratti
2 mar 2021, 16h21

Nas últimas semanas, o estado do Acre tem sido atingido por uma série de enchentes, que já afetaram mais de 130 mil pessoas. A cheia dos rios e os alagamentos têm algumas consequências conhecidas, como a disseminação de doenças infecciosas e, claro, perdas de moradia e infraestrutura. 

O Acre faz parte da região conhecida como Amazônia Legal, e seus problemas ambientais podem ser vistos como um reflexo do que ocorre no bioma como um todo. Uma pesquisa publicada na revista Science Advances em 2018 mostra que, devido ao aquecimento global, hoje as inundações na bacia amazônica são cerca de cinco vezes mais frequentes do que eram há um século.

Agora, pesquisadores da Universidade de Lancaster, no Reino Unido, e da Fundação Oswaldo Cruz constataram que essas mudanças climáticas estão levando a um problema ainda pouco relacionado: o nascimento prematuro de bebês. Para chegar a esta conclusão, os cientistas compararam os níveis de chuva, duração da gravidez e peso de cerca de 300 mil bebês que nasceram entre 2006 e 2017 na região amazônica. O estudo foi publicado nesta segunda-feira (1) na revista científica Nature Sustainability.

De acordo com os pesquisadores, mulheres de comunidades ribeirinhas que enfrentam secas ou enchentes durante a gestação têm maior probabilidade de terem partos prematuros (antes de completar 37 semanas). Além disso, é mais provável que seus bebês nasçam abaixo do peso, não importando se eles chegarão antes do tempo ou no período ideal. 

Os bebês analisados tinham cerca de 183 gramas a menos do que aqueles nascidos em épocas sem climas extremos, sendo que o número aumentava para 646 gramas quando considerados grupos menos favorecidos socioeconomicamente. As chuvas intensas, mas não extremas, também foram associadas a uma chance 40% maior do bebê nascer abaixo do peso. 

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Esses resultados podem ser explicados pela saúde da mãe. As inundações na Amazônia levam a uma quebra de safra, ou seja, uma redução do que já estava previsto para a colheita. Menos alimentos significa grávidas com menos acesso a alimentação nutritiva.

Além disso, as chuvas aumentam a propagação de doenças infecciosas transmitidas por mosquitos, como a malária, colocando as mães em maior risco. Como se não bastasse, a ansiedade e o estresse causados pelas inundações também podem afetar diretamente a gravidez. Todos estes problemas podem levar aos partos prematuros e ao nascimento de bebês mais leves. 

Neste estudo, foram considerados apenas fatores climáticos relacionados à seca e períodos de chuva intensa, mas o problema pode ser ainda maior quando levadas em conta as queimadas. Um guia desenvolvido pela Universidade de Harvard (EUA) mostra como a poluição do ar e o calor também podem estar relacionados ao nascimento prematuro de bebês. De janeiro a outubro de 2020, foram registrados na Amazônia mais de 81 mil focos de incêndio, os quais liberam não apenas gases poluentes na atmosfera, mas também material particulado (MP2.5) que já foi relacionado ao maior risco de partos prematuros em estudos feitos nos Estados Unidos.

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Crianças nascidas de partos prematuros podem enfrentar algumas complicações de saúde em seus primeiros meses de vida. Porém, os problemas não param por aí: essas pessoas são mais propensas a terem dificuldades no aprendizado e em se relacionarem, podendo desenvolver com mais facilidade problemas de atenção e ansiedade.

O estudo feito pela Universidade de Lancaster e pela Fiocruz aborda discute a necessidade do governo de implantar políticas públicas que incluam a cobertura de saúde pré-natal e sistemas de alerta melhorados para antecipar inundações. Os pesquisadores também ressaltam sobre a importância de oferecer transporte para adolescentes que vivem em áreas rurais até as escolas, para que elas terminem o ensino médio. Fatores como a escolaridade podem acentuar desigualdades – e aumentar os riscos.

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