Fibra assassina
¿O país abriga uma das maiores minas de amianto do mundo, a de Minaçu, em Goiás.
Guilherme Kamio
Chile, 30 de novembro passado. Um homem ateia fogo em si mesmo diante do palácio presidencial. Deixou um manifesto explicando que sua intenção era alertar para os riscos do amianto, que lhe teria rendido um câncer no pulmão. Também conhecido como asbesto, o amianto já teve dias de glória. Fibra mineral sedosa resistente, incombustível e isolante térmica, acústica e elétrica, ele é usado na fabricação de vários produtos, de materiais de construção a peças automotivas, de roupas de bombeiros a brinquedos. Hoje, está banido em 35 países. Sua inalação, mesmo em pequenas quantidades, pode causar a asbestose, enfermidade respiratória incurável e fatal, e o mesotelioma, um câncer na membrana que envolve os pulmões, mal que vitimou o ator Steve McQueen. E a fama de vilão só tende a aumentar.
Isso está ficando claro para os países industrializados, que o utilizaram em larga escala no passado e que agora diagnosticam 30 000 novos casos de câncer causados por ele a cada ano – o mesotelioma pode levar até 40 anos para se desenvolver. Recentemente, a Sociedade Respiratória Européia anunciou que 3% dos homens do continente morrerão de doenças relacionadas ao amianto. Em Nova York, teme-se que muitos possam adoecer no futuro por terem respirado a poeira cheia de amianto que se espalhou com a queda do World Trade Center – o material era usado na estrutura para conter incêndios.
No lado de baixo do Equador, a coisa complica. A América do Sul é um dos fortes importadores do mineral, curiosamente de nações que o restringem em seu território, como o Canadá. Argentina, Chile e El Salvador já se decidiram pelo banimento. No Brasil, o amianto continua permitido e o banimento tem sido barrado por interesses econômicos. “O país abriga uma das maiores minas de amianto do mundo, a de Minaçu, em Goiás”, explica Fernanda Giannasi, coordenadora da ONG Rede Virtual-Cidadã pelo Banimento do Amianto na América Latina. Novos episódios da polêmica estão garantidos em 2002.