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Fungo associado à “maldição de Tutancâmon” é promissor para tratar câncer

O A. flavus matou arqueólogos exploradores de tumbas. Agora, pesquisadores descobriram que ele pode matar outra coisa: células de leucemia.

Por Eduardo Lima
27 jun 2025, 18h00

A tumba do faraó Tutancâmon foi descoberta em 1922, durante uma missão arqueológica financiada pelo conde britânico George Herbert e liderada pelo arqueólogo inglês Howard Carter. Os pesquisadores fizeram a escavação com parcimônia, terminando a investigação oito anos depois, em 1930.

O túmulo era riquíssimo em objetos fúnebres. No total, Carter catalogou 5.398 itens. Era um achado arqueológico impressionante, mas que acabou em tragédia: Herbert morreu em abril de 1923, cinco meses após visitar o local de sepultamento de Tutancâmon.

Será que o faraó do Império Novo, que morreu há mais de 3 mil anos, havia amaldiçoado o inglês xereta que entrou em seu jazigo? O rumor correu por muitos anos e assustava os mais supersticiosos.

Na década de 1970, a coisa ficou ainda mais séria: 10 dos 12 arqueólogos que escavaram a tumba do rei Casimiro 4º, na Polônia, morreram logo após a pesquisa de campo. Será que a mais nova moda entre monarcas mortos era amaldiçoar os que profanassem seus túmulos? Ou será que havia uma explicação mais natural?

Havia, é claro. Na tumba de Casimiro, encontraram um fungo chamado Aspergillus flavus, que pode causar uma infecção fatal no pulmão. Por muito tempo, esses microrganismos foram associados não só com a morte dos arqueólogos na Polônia mas com a de Herbert, também.

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Hoje, porém, sabemos que o explorador do Egito morreu de pneumonia por causa de problemas de saúde prévios, e não por causa de quaisquer toxinas presentes da tumba. Mas a história da maldição pegou.

Agora, cientistas da Universidade da Pensilvânia mostraram que esse fungo do mal não precisa ser tão maléfico assim. O Aspergillus flavus se mostrou promissor para tratar a leucemia, o câncer que afeta as células do sangue.

Maldição virou benção

Num estudo publicado na Nature Chemical Biology, os pesquisadores que analisaram o fungo da maldição identificaram um grupo de moléculas dentro do Aspergillus flavus, chamadas de “asperigimicinas”, que mataram células de leucemia em um ambiente controlado de laboratório.

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A. flavus produz alguns compostos químicos únicos, como uma classe natural chamada de RiPPs, sigla em inglês para “peptídeos sintetizados ribossomicamente e modificados pós-tradução”. Essas cadeias de aminoácidos são difíceis de isolar e raramente vistas em fungos, e tem estruturas complexas que interagem de forma fatal com as células cancerosas.

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Os pesquisadores descobriram quatro novas asperigimicinas com uma estrutura de anel. Duas delas já tinham fortes propriedades anti-leucemia mesmo sem nenhuma modificação no laboratório.

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Para aumentar a eficiência desses compostos contra as células de câncer, os cientistas juntaram algumas moléculas de lipídios às RiPPs, ajudando-as a atravessar as membranas celulares com mais facilidade.

As asperigimicinas são interessantes porque atingem só os tumores, sem afetar os tecidos saudáveis do corpo do paciente. Os testes iniciais também sugeriram efeitos mínimos em casos de câncer de mama, fígado e pulmão.

Eles também descobriram um gene, o SLC46A3, que ajuda essa nova droga a atingir as células de leucemia diretamente, o que pode ajudar no desenvolvimento de novas terapias no futuro.

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O time de pesquisadores envolvido nessa descoberta acredita outras espécies de fungos possam esconder outros compostos que podem salvar vidas. Eles estão planejando testar as asperigimicinas em modelos animais, para depois fazer testes clínicos em humanos. O feitiço de Tutancâmon pode estar prestes a se virar contra o feiticeiro: sem morte, só mais vida.

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