Depois de tomar um chute no peito e um murro na cara, o jogador do Santa Croce se levanta e entra numa briga maior, com dez pessoas – até que a pancadaria é interrompida pela voadora desferida por um jogador do Santo Spirito. No fim, todo mundo vai parar no hospital, com hematomas e fraturas. Assim é o Calcio Storico (futebol histórico), que mistura futebol, rúgbi e luta e é disputado anualmente em Florença, na Itália. A violência é liberada: tirando chutar a cabeça e atacar quem estiver caído, vale tudo.
Não se sabe ao certo quando o Calcio foi criado, mas o primeiro registro das regras é de 1580, quando era disputado por aristocratas e membros do clero. O jogo desapareceu no século 18, mas foi redescoberto em 1930 por Alessandro Pavolini, um político fascista. Ele morreu junto com o fascismo, em 1945, mas o jogo sobreviveu: todo mês de junho, os times se enfrentam num campo de areia montado em Santa Croce, a praça mais famosa da cidade. São 27 jogadores em cada time, vence quem marcar mais gols. É permitido chutar a bola ou carregá-la nas mãos até o gol.
Em 2013, a final foi entre Santo Spirito e Santa Croce. “O jogo foi tenso, porque havia 30 anos que nós só perdíamos para eles”, explica Gabriele Ceccherelli, do Santa Croce, que venceu – e ganhou um bezerro como troféu. “No passado, o animal seria abatido e comido na mesma noite”, conta. “Hoje ele é apenas simbólico.” Uma regra nova está criando polêmica: agora, os times podem recrutar jogadores de fora da Itália. “Eles estão trazendo pessoal da Rússia e da Europa Oriental, inclusive lutadores profissionais”, diz o jogador. Ele é contra a mudança – pois acha que o Calcio vai ficar muito violento.