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Futebol: guerra em campo

A guerra nos campos de futebol.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h14 - Publicado em 31 jan 2006, 22h00

Marcelo Orozco

Copa de 1998, na França. Dois países inimigos entram no estádio em suspense. Será que o ódio nacional vai ser transportado para o campo e um jogador terminará com fratura exposta na fíbula? O zagueiro vai sacar uma espada e atravessar o estômago do centroavante? Quando os times entram em campo, não é isso que ocorre. É mais surpreendente ainda: os 11 jogadores que representam o Irã, país governado por islâmicos fundamentalistas, oferecem flores à encarnação do “Grande Satã”, os 11 atletas dos EUA. Depois, confraternizam e posam para fotos. Abraçadinhos.

Poucos jogos causaram tanta tensão como esse. E o motivo começou em 1979: uma revolução no Irã tirou do poder o xá Reza Pahlevi, monarca simpático a costumes ocidentais como o futebol, e deu o comando ao aiatolá Khomeini, que preferia reza séria e luta livre. Sua pregação antiamericana transformou em reféns, por 14 meses, os funcionários da embaixada dos EUA. Do outro lado, na década de 1980, os EUA apoiaram o Iraque na guerra contra o Irã.

Em 1998, o sorteio colocou as duas seleções no mesmo grupo. A rigor, os jogadores iranianos não tinham razão para odiar os adversários. Na verdade, os aiatolás eram mais danosos. Eles oprimiam o futebol numa repressão de conseqüências trágicas: em 1984, o regime executou Habib Khabiri, capitão da seleção na Copa de 1978, acusado de ligações com a oposição.

Para irritar mais os religiosos, a classificação para a Copa provocou manifestações de alegria fora do controle do regime. Assim, quando o sorteio colocou os americanos no caminho, o governo iraniano tentou capitalizar sobre o confronto entre o “Grande Satã” e os eleitos de Alá. Mas, para quem passara tantos anos praticando futebol em condições terríveis, o oportunismo dos aiatolás incomodou. “São 3 pontos. E nada mais”, disse, na época, o jogador Mohammad Khakpour.

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E 3 pontos pela vitória – e nada mais – foi o que o Irã conquistou com seus 2 a 1 sobre os americanos. As duas seleções foram eliminadas na 1ª fase da Copa.

Israel contra todos

Na geografia, Israel pertence à Ásia. Mas, desde 1982, o país tem de se deslocar para as eliminatórias da Europa ou Oceania, onde não há hostilidade muçulmana ao Estado judeu. A inimizade política com os vizinhos, porém, quase rendeu bons frutos – no caso, uma vaga para a Copa de 1958. Indonésia, Egito e Sudão se recusaram a entrar em campo para partidas contra Israel. Mas a Fifa determinou que era necessário fazer ao menos um jogo para legitimar a vaga e colocou o País de Gales como adversário. Deu Gales.

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Feridas recentes

As guerras étnicas da década de 1990 entre as repúblicas que antes formavam a Iugoslávia ainda se refletem no futebol. Quando Sérvia e Montenegro derrotou a Bósnia numa decisão direta de vaga para a Copa de 2006 em Belgrado, a capital sérvia, as duas torcidas se enfrentaram arremessando cadeiras e disparando rojões. Pelo menos 6 pessoas tiveram ferimentos sérios. As duas federações receberam multas entre 23 mil e 26 mil euros. Teme-se que a punição não baste para impedir tumultos semelhantes sempre que duas ex-repúblicas iugoslavas se enfrentarem.

Metrópole X Colônia

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O jogo entre Portugal e Angola na Copa de 2006 seria apenas mais um entre metrópole e uma ex-colônia (como Inglaterra x EUA em 1950 ou Portugal x Brasil em 1966). Mas, além das tensões geradas até a independência de Angola, em 1975, há um incômodo antecedente futebolístico: um amistoso em Lisboa, em 2001, que era para ser uma festa do tipo “união fraternal entre os povos” e acabou com 4 jogadores angolanos expulsos por faltas violentas, imigrantes angolanos quebrando cadeiras, e 5 a 1 para Portugal no placar.

Que país é esse?

A Guerra das Malvinas, entre Argentina e Inglaterra, ocorreu semanas antes da Copa de 1982. Por causa da batalha, a rádio argentina Rivadávia proibiu os narradores de Inglaterra x Alemanha de pronunciar as palavras “britânico” e “Inglaterra”. O locutor Juan Carlos Morales e dois comentaristas usaram termos como “o time de vermelho”, “o adversário da Alemanha” e até “os piratas”. A exceção ocorreu quando um repórter se distraiu e soltou o nome proibido: “Está machucado o 5 da Inglaterra, Coppell”.

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A frase

“Hundurenho, peguem um pau e mate um salvadorenho”

Adesivo nos vidros de carros em Honduras, em 1969, quando 3 tensas partidas de eliminatórias contra El Salvador (num dos jogos, 14 torcedores hondurenhos morreram) provocaram a “Guerra do Futebol”. O pretexto esportivo motivou um acerto de contas na velha disputa por território e o Exército salvadorenho invadiu Honduras. A batalha durou 4 dias e, na estimativa mais otimista, matou 2 mil pessoas.

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