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Litopedia: entenda a condição que leva à calcificação do feto

Uma mulher no Mato Grosso do Sul passou 56 anos carregando um “bebê de pedra” no abdômen. Entenda como isso acontece.

Por Leo Caparroz
Atualizado em 20 mar 2024, 18h15 - Publicado em 20 mar 2024, 18h14

Durante mais de cinquenta anos, Daniela Almeida Vera carregou um “feto de pedra” no abdômen. O bebê morreu e se calcificou dentro de seu organismo, sem ela saber. A idosa, de 81 anos, só descobriu sobre ele na última quinta-feira (14), depois de dar entrada no hospital de Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, reclamando de fortes dores abdominais.

Os médicos do hospital regional fizeram uma cirurgia para tirar o feto petrificado de dentro de Daniela. Porém, a senhora morreu depois da operação, vítima de uma infecção generalizada.

O caso de Daniela não é nada comum. Chamado de litopedia, é uma condição raríssima – só ocorre em 0,0054% das gravidezes. Em dois terços desses casos, as gestantes tinham mais de 40 anos. 

O que é a litopedia?

Litopedia, do grego, lito (gravidezes) e pedia (criança), é o termo usado para descrever uma gravidez ectópica abdominal na qual o feto morre, mas não pode ser reabsorvido pelo corpo da mãe.

Uma gravidez ectópica é uma condição que ocorre quando um óvulo fertilizado se desenvolve fora do útero. O mais comum é a gravidez tubária, em que o feto começa a crescer nas trompas uterinas.

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O caso de Daniela é do tipo abdominal, significa que o feto se desenvolveu no abdômen da mulher. O embrião sai pelo lado externo da trompa uterina e cresce no peritônio, tecido que reveste a cavidade abdominal. Ele também pode aderir a outros órgãos, como intestino e bexiga.

Uma gravidez ectópica não pode gerar um bebê saudável – e pode ser perigosa para a gestante. Por acontecer fora do útero (e, nesse caso, fora do sistema reprodutor feminino), é difícil identificar uma gravidez ectópica abdominal. 

Depois que morre, o feto fica preso na cavidade abdominal. Lá, ele é essencialmente um corpo estranho ao sistema da mulher; então, como medida de proteção contra infecções, o organismo dela o isola com sedimentos de cálcio – o que transforma os tecidos do feto em uma casca “de pedra”.

Daniela ficou com o bebê petrificado em sua barriga por pelo menos 56 anos, data de sua última gravidez.

A maioria dos casos são assintomáticos, as pacientes não têm queixas que permitam inferir a litopedia. Assim, eles são descobertos por acidente em exames de imagem, cirurgias ou necrópsias. Em outros casos, que causam dores e desconforto para a mulher, pode ser necessário uma remoção do feto.

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O caso

Daniela era indígena e morava em um assentamento no município de Aral Moreira, no Mato Grosso do Sul. Ela já tratava um quadro de infecção urinária na cidade; mas, devido a uma piora, foi transferida para Ponta Porã, a 84 quilômetros de distância.

Em Ponta Porã, os profissionais de saúde acharam que Daniela poderia ter um câncer. Depois de uma tomografia, perceberam o feto calcificado no abdômen dela. A equipe de obstetrícia do hospital fez a cirurgia para tentar a remoção.

Apesar dos cuidados médicos, sua infecção urinária cresceu para uma infecção generalizada e ela não resistiu. Daniela morreu na última sexta-feira (15).

Devido aos cuidados médicos e pré-natais melhores e mais acessíveis, a litopedia é muito rara hoje em dia. O diagnóstico e tratamento precoce da condição podem ajudar para que ela não evolua e não perdure décadas. Populações vulneráveis às vezes não recebem a atenção médica necessária a tempo, sendo mais suscetíveis a condições do tipo.

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