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Médicos lavam melhor as mãos quando você está olhando

Pesquisa norte-americana mostrou que, se ninguém estiver olhando, as chances de um médico lavar a mão direito cai pela metade

Por Felipe Germano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 11 mar 2024, 10h52 - Publicado em 15 jun 2016, 19h00

“Lava uma mão, lava a outra, lava uma mão”, é a lição que há 20 anos o Castelo Rá-Tim-Bum tentava ensinar às crianças brasileiras. Aparentemente a musiquinha não chegou aos médicos americanos. Uma nova pesquisa realizada pelo hospital Santa Clara Valley Medical Center, nos EUA, apontou que a higiene dos profissionais da Saúde está longe do ideal.

De acordo com o estudo (realizado com funcionários do próprio hospital), se os médicos achassem que ninguém estava reparando em sua higiene , eles tendiam a lavar a mão com muito menos cuidado – com menos da metade de eficiência, para ser mais exato. Para chegar nesses resultados, os pesquisadores infiltraram um grupo de 17 pessoas no hospital: duas delas eram enfermeiras, conhecidas pela equipe local, as outras 15 eram jovens que os médicos nunca haviam visto – eram os agentes à paisana do estudo. O desfecho foi impressionante: quando encontravam os desconhecidos, os médicos cumpriam, em média, só 22% do protocolo de saúde recomendado; ao ver as enfermeiras infiltradas, por outro lado, a taxa subia para 57%  – que ainda sim permanece baixa.

A amostragem para chegar nos números não foi pequena. Os pesquisadores flagraram 4.640 cenas entre julho e dezembro de 2015. E para garantir que os infiltrados desconhecidos tinham a capacidade de julgar a higienização – mesmo sem serem profissionais da área – eles tiveram um rápido curso sobre o protocolo de higienização de mãos em um hospital.

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Os dados surpreenderam a direção do hospital, que acreditava em uma interferência menor da vigilância nos resultados. Os números ruins, por outro lado, deixaram uma promessa: isso vai ajudar a melhorar a qualidade do estabelecimento. “Nós fizemos diversas mudanças, de modo a atingir toda organização. Entre elas, está um novo plano para a higiene das mãos”, afirmou Nancy Johnson gerente de prevenção de infecções do hospital. A forma das fiscalizações de higiene também vai sofrer alterações. “Depois dos resultados, nós começaremos a monitorar anonimamente a higiene dos funcionários”, completa.

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A mudança de comportamento causada pela observação de terceiros não é novidade na ciência. Na verdade, ela é estudada desde 1924 e conta até com um nome pomposo: Efeito Hawthorne – que ganhou esse nome porque o primeiro local onde houve a detecção de tal fenômeno foi na companhia elétrica americana chamada Hawthorne Works. Agora, a ideia de utilizar esse tipo de técnica dentro da medicina anima especialistas. “O estudo mostrou que nossa higiene nas mãos é influenciada pelo Hawthorne e que o uso de observadores desconhecidos deve ser mais utilizado para que alcancemos dados mais precisos”, afirmou Maricris Niles, analista de prevenções de infecções do hospital. Da próxima vez que parar em um pronto-socorro e esbarrar com um doutor no banheiro, vale a encarada nas mãos – ele pode achar que você está à paisana. 

A não higienização correta de mãos médicas aumenta as chances de infecções hospitalares – estas responsáveis por cerca de 100 mil mortes anuais no Brasil. Estima-se que os médicos brasileiros lavem as mãos na metade das situações  necessárias. 

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