O domínio da linguagem pode prever longevidade em idosos
Dentre as características cognitivas consideradas em estudo, a fluência verbal é a mais importante para prever uma vida longeva.

Ler o dicionário pode ajudar a ter uma vida mais longeva? Não exatamente, mas um estudo publicado em fevereiro deste ano mostra que o tamanho do vocabulário, a habilidade para usá-lo e a fluência verbal estão ligados à longevidade – e podem ajudar a prevê-la.
Pesquisas anteriores já ligaram longevidade a inteligência, mas mas isso é algo difícil de definir. Não há um consenso científico sobre o que é a inteligência humana. O mais próximo de uma definição que existe é dizer que inteligência são muitas coisas, desde capacidade lógica até autoconhecimento e controle emocional. O novo estudo, publicado no periódico Clinical Psychological Science, analisou um traço importante da inteligência: a capacidade de comunicação.
O estudo liderado por Paolo Ghisletta, da Universidade de Genebra na Suíça, partiu de amostras do Berlin Aging Study, uma pesquisa multidisciplinar que aconteceu a partir de 1989 e investigou pessoas entre 70 e 105 anos que moraram na Berlim Ocidental durante a Guerra Fria. 516 pessoas participaram do grande estudo, que chegou a acompanhar alguns idosos por 18 anos.
Saúde dentária, níveis de estresse e bem-estar econômico eram levados em conta, junto de testes cognitivos que estudavam a fluência verbal dos idosos. Na pesquisa liderada por Ghisletta, os cientistas buscaram entender quais aspectos cognitivos têm mais relações com longevidade.
Falar bem faz bem
No mega estudo dos idosos de Berlim, quatro habilidades cognitivas foram registradas: fluência verbal, velocidade perceptiva, conhecimento verbal e memória episódica. Todas essas categorias foram medidas com diversos testes. Um deles, por exemplo, pedia para os participantes nomearem a maior quantidade de animais que conseguissem em 90 segundos.
Os pesquisadores escolheram nove desses testes cognitivos para analisar como o desempenho dos participantes mudava e como isso ajudava a estimar sua longevidade, desenvolvendo um modelo computacional que relacionava essas mudanças ao risco de morte.
De todas as categorias cognitivas, a fluência verbal era a única ligada de forma significativa à longevidade. A explicação por trás dessa conexão ainda não é clara: será que a literatura tem poderes especiais para alongar a vida? Ler o dicionário pode aumentar a longevidade? Pode até ser uma ideia legal, mas é bem improvável. Novos estudos na área podem analisar a relação com mais profundidade, recorrendo a bases de dados diferentes.
Os processos cognitivos estão ligados à saúde física do corpo, explicou Ghisletta em um depoimento. “Todos esses domínios estão entrando em declínio juntos, quer seja cognição, personalidade, emoções ou mesmo declínio biológico e médico”. Por isso, um bom jeito de medir bem-estar é prestando atenção na fluência verbal. E ela não existe sozinha: essa habilidade mobiliza memória de longo prazo, vocabulário, eficiência e até memória visual. Falar bem é um baita exercício para o cérebro.