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O pastor nigeriano que quer salvar a alma dos brasileiros

Enoch Adeboye transformou uma Igreja nigeriana em potência global da fé. Agora ele tem uma nova meta: salvar a alma dos brasileiros

Por Denise Dweck
Atualizado em 17 mar 2017, 13h44 - Publicado em 18 fev 2011, 22h00

Nos anos 80, a igreja evangélica Redeemed Christian Church of God começou a arrebanhar fiéis fora da terra natal, a Nigéria. Liderada pelo pastor Enoch Adeboye, um doutor em matemática, a expansão se provou um sucesso: multiplicou os então 40 templos da Igreja para mais de 5 mil, hoje espalhados por 117 países. Também fez explodir para 5 milhões o número de seguidores da Igreja na própria Nigéria, segundo estimativas recentes – um feito comparável ao do bispo brasileiro Edir Macedo por aqui, com a Igreja Universal do Reino de Deus. Graças a essa trajetória, Adeboye foi eleito há alguns anos uma das 50 pessoas mais influentes do mundo pela revista americana Newsweek. Mas ele quer mais: formar um seguidor de sua Igreja em cada casa do mundo. “Se a Coca-Cola pode, nós podemos”, diz. Para isso, criou um império na Nigéria, com canal de televisão, produtora de filmes, escolas e universidade. E passou a enviar fiéis a países como o Brasil. Aqui, missionários já começam a erguer templos da Igreja de Deus dos Cristãos Redimidos – como foi batizada em português – em 8 cidades, como Brasília e Uberlândia. “Vamos cobrir o Brasil de templos”, disse Adeboye à SUPER, da sede europeia da Igreja, em Borehamwood, ao norte de Londres.

Por que Igrejas pentecostais e neopentecostais como a sua crescem tanto?

Crescemos porque somos diferentes das outras correntes cristãs. Enquanto elas se preocupam com o que vai acontecer quando morrermos, nós valorizamos o presente. Ou seja: se Deus promete a você uma mansão no paraíso, acreditamos que ele pode, pelo menos, lhe dar um apartamento de dois quartos hoje. Por isso o pentecostalismo tem apelo.

Alguns críticos dizem que o sucesso vem do foco na prosperidade financeira.

Esse não é o motivo do crescimento da nossa Igreja. Nosso objetivo é a prosperidade da alma, que está ligada à saúde e às condições de vida de cada um. Deus vai se encarregar de garantir essa prosperidade da alma se os fiéis viverem em santidade.

O que explica, então, o crescimento dessas Igrejas nos países em desenvolvimento, onde muita gente é carente de recursos materiais?

Sim, e a explicação disso é que não ficamos só na teoria. Em países pobres, como a própria Nigéria, os hospitais não têm médicos. Quando têm, faltam remédios. E, se há remédios, os doentes não possuem dinheiro para comprá-los. Mas existe a possibilidade de Deus o curar. Como muitas pessoas não têm condições de pagar por coisas essenciais, elas decidem recorrer a Deus, que pode dar tudo de graça. Já nos países desenvolvidos, a tendência é confiar mais na tecnologia do que na religião. Só se fala em cirurgias a laser e transplantes. As pessoas desses países acham que têm tudo de que necessitam, e acabam esquecendo que há limites para a tecnologia.

Sua Igreja prega que a oração pode curar doenças, até mesmo aids. Isso não é exagero?

Pense no seu carro. Se uma peça dele quebrar, você pode pedir uma nova ao fabricante e trocá-la. É a mesma coisa com Deus: ele tem um grande armazém com peças para substituir as nossas. E os médicos são os mecânicos. Numa oficina, mecânicos podem consertar um carburador – mas, se o carburador não tiver conserto, eles não podem fazer nada. Só o fabricante pode colocar um carburador novo. Ocasionalmente Deus vai usar os médicos – as mãos e o conhecimento deles – para fazer coisas pequenas. Mas, quando os médicos chegam a seu limite, Deus entra em cena. Para ter cura, porém, é necessário obedecer a Deus. E isso vale para qualquer doença. Já vi pessoas curadas de aids, inclusive.

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Como?
Por meio de orações. Médicos não podem fazer muita coisa por uma pessoa com aids.

Antes de entrar para a Igreja, você era professor de matemática. Ou seja, um homem das ciências. Por que essa mudança de área?

Por muitas vezes a matemática e o cristianismo parecem andar em linhas paralelas. Mas Deus, quando quer fazer algo, cruza todas as linhas. E eu descobri que poderia usar a matemática na religião. Geralmente as pessoas acham difícil entender o cristianismo, porque ele é explicado de um jeito confuso. No entanto, graças à minha experiência com matemática, acredito que estou preparado para transformar tudo sobre o cristianismo em várias equações simples.

Algum episódio motivou a mudança?

Sim. Quando uma das minhas filhas ficou doente, os médicos disseram que não poderiam fazer nada para curá-la. Nenhuma das fórmulas que eu tinha aprendido em matemática ajudaria a resolver o problema. Até que uma pessoa me convidou para ir à Igreja. Entreguei minha vida a Jesus e, milagrosamente, minha filha ficou boa. Foi aí que descobri que o meu orgulho como um cientista matemático era uma barreira que me impedia de receber ajuda da religião. Deixei meu orgulho de lado. E Deus realizou pra mim aquilo que a ciência não conseguiu.

Foi sob a sua liderança que a Igreja começou a expansão internacional. Como isso aconteceu?

O crescimento estava previsto desde a fundação da Igreja, na década de 1950. Era uma promessa que Deus tinha feito ao fundador. Mas, quando assumi a direção, só tínhamos templos na Nigéria. Então decidi concretizar a promessa de Deus. E comecei por países onde havia imigrantes nigerianos. Segui um princípio da matemática: iniciar pelo conhecido para chegar ao desconhecido. Depois disso, fomos para outros países, como China, Malásia e Indonésia. Nesses lugares, missionários nigerianos convidaram pessoas de seus círculos sociais para a Igreja. Conseguimos uma expansão tão rápida que às vezes nem eu mesmo consigo acompanhar.

Existe uma meta para o crescimento?

Se a Coca-Cola diz que, por volta de 2020, haverá ao menos uma pessoa em cada família tomando Coca-Cola, nós também podemos dizer que haverá um cristão da nossa Igreja em cada casa do mundo.

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O Brasil tem a maior população pentecostal do mundo. Quais os planos para o país?

Em 2008, um missionário nosso começou a trabalhar no Brasil. Ele era meu secretário, mas um dia disse que acreditava que Deus o estava chamando para ir ao Brasil. Já começamos a organizar alguns cultos em algumas cidades, como Brasília. Acreditamos que há muito potencial no país para expandir, porque sei que o trabalho das Igrejas pentecostais lá tem tido muito resultado. Ainda não estive no país, mas, pelo que ele conta, a Igreja está começando a crescer. Só estou esperando o trabalho ficar mais consolidado para fazer uma visita. Sei que vamos cobrir toda a nação do Brasil com templos.

A sua Igreja, de origem nigeriana, tem fiéis hoje na Europa e nos EUA. É o inverso do que aconteceu historicamente, já que missionários europeus e americanos difundiam a sua fé na África. Por que essa mudança de direção?

Isso tem a ver com o que chamo de lei da colheita: você colhe o que semeou. Quando eles trouxeram o evangelho para nós, estavam semeando. Os africanos seguiram o que eles tinham ensinado. Mas agora, infelizmente, quando olhamos para o que está acontecendo no mundo desenvolvido, vemos que não tem nada a ver com o que foi ensinado pelos missionários. Eles nos orientaram a viver em santidade e nos sacrificar para servir a Deus. Mas, agora, as igrejas nesses países estão vazias. Eles não estão servindo a Deus. E nós acreditamos que devemos a eles essa volta, para dizer “Isso é o que vocês nos deram. Caso tenham esquecido, estamos lembrando vocês”.

Como a expansão é financiada?

Com a ajuda de membros da Igreja. Todos têm de pagar o dízimo se forem verdadeiros filhos de Deus. Depois que pagam o dízimo, eles podem fazer mais ofertas. Deus gosta de quem doa com alegria. O que nós fazemos é falar das necessidades da Igreja e da nossa intenção de divulgar o evangelho pelo mundo. Para aqueles que têm interesse em ajudar, e que farão isso alegremente, nós pedimos. Quem não se sente bem doando não deve doar.

A sua Igreja tem um complexo de mídia. Os meios de comunicação também são uma forma de impulsionar a expansão?

Sim. Nem todo mundo vai à igreja. Mas todos precisam receber as mensagens. Seja pela televisão, seja por outro meio, alguém que você nunca viu pode ouvir os preceitos em casa, o que ajudará essa pessoa a se ligar a Deus. Escutar a pregação faz com que a mensagem seja recebida de uma forma diferente.

Na Nigéria, as Igrejas sofrem com um problema comum no Brasil: pastores suspeitos de corrupção.

Precisamos explicar aos pastores que praticar fraude para conseguir riqueza é algo condenado por Deus. E a consequência é grave: morte prematura. Pensando nisso, por que acumular dinheiro – e ainda de um jeito condenável – se você não vai poder aproveitar? Se você usa dinheiro conquistado por meios fraudulentos para comprar um carro, por exemplo, você vai descobrir um dia que o carro é um caixão ambulante. Você vai ter um acidente. Se você quiser trapacear para adquirir riqueza, vai ser difícil contar com Deus quando tiver um problema.

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Você é famoso por fazer profecias. Tem alguma para os brasileiros?

Quando Deus me dá palavras de profecia, é para a Nigéria e para o mundo como um todo. Agora que você me perguntou, vou pedir algo sobre o Brasil na próxima vez que rezar para Deus.

Religião tipo exportação

Como funciona a Igreja de Deus dos Cristãos Redimidos, o império de Adeboye recém- chegado ao Brasil

Crenças e obrigações
A Igreja acredita que o Espírito Santo dá dons a seus seguidores, como falar línguas supostamente divinas e fazer profecias. Segundo a Igreja, orações podem resolver problemas dos fiéis e até curar doenças. Em retribuição, eles devem pagar o dízimo, geralmente de 10% da renda.

Cerco da fé
Para conquistar fiéis, o pastor nigeriano conta com um complexo de comunicação na Nigéria. Ele tem uma revista, um canal de TV a cabo, um provedor de internet e uma produtora de filmes evangélicos. A Igreja ainda administra uma rede educacional com mais de 80 escolas e uma universidade.

Entrepostos pelo mundo
A expansão da Igreja começou com a ajuda de imigrantes nigerianos que viviam no exterior. Depois, missionários foram enviados para desbravar novos territórios. Hoje, a Igreja está em 117 países, como China, Paquistão e Alemanha. Só EUA e Reino Unido têm mais de 300 templos cada.

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Desembarque no Brasil
Em 2008, um missionário chegou ao país. Os cultos já começaram no Distrito Federal e nos estados da Bahia, de Minas Gerais, do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Pernambuco. O objetivo é pegar carona no sucesso de Igrejas como a Assembleia de Deus, com cerca de 20 milhões de féis.

Enoch Adejare Adeboye
• Nasceu em 1942, é casado, tem 4 filhos e 4 cachorros.
• É mestre em matemática aplicada e doutor em hidrodinâmica, pela Universidade de Lagos, na Nigéria.
• Aos 13 anos fez greve de fome para que seus pais não o tirassem da escola por falta de dinheiro.
• Até os 17, não tinha calçado um par de sapatos.
• Sua comida favorita é purê de inhame com ensopado de legumes, um prato típico nigeriano.
• Diz já ter presenciado milagres – como quando teria dirigido um carro sem gasolina por 320 quilômetros.
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