Pessoas altas correm mais risco de ter câncer
Soa absurdo. Mas é a conclusão de um cientista da Universidade da Califórnia: a chance de ter um tumor aumenta entre 11% e 13% a cada 10 cm a mais. Entenda.
Seu corpo é formado por 37,2 trilhões de minúsculos pacotinhos bioquímicos chamados células – as unidades fundamentais da vida. E cada uma delas carrega uma cópia completa do seu genoma. Basta que um punhadinho delas (só algumas, dentre um número maior que o de estrelas da Via Láctea) sofra um conjunto específico de mutações no DNA para que uma passe a se multiplicar descontroladamente – e tome o espaço das outras. O nome disso é câncer.
Como os programas de saúde não cansam de lembrar, há muitos hábitos que aumentam as chances de uma célula sofrer uma mutação: cigarro, má-alimentação, exposição excessiva à luz solar etc. Há um, porém, que você não pode evitar: crescer.
Sim, crescer. Pessoas mais altas têm mais células, que se multiplicam com mais frequência. E quanto mais células você tem, maior é a chance de que uma delas dê defeito. Essa é a conclusão do biólogo Leonard Nunney, da Universidade da Califórnia, em um artigo científico.
Suas previsões matemáticas – de que cada 10 centímetros de altura a mais representam um aumento de 11% e 13% no risco de câncer em mulheres e homens, respectivamente – passam bem perto dos números colhidos de pacientes reais, em que esses valores são 9% e 12%. A relação entre incidência e altura se aplica a 18 dos 23 tipos de câncer estudados. Os que fogem à regra são os desencadeados majoritariamente por fatores externos, como o câncer do colo do útero, decorrente de infecção pelo vírus HPV (todo câncer, é bom lembrar, é causado por uma mistura de genética e ambiente – mas a contribuição de cada um varia caso a caso).
Sabe-se que a incidência de tumores é maior em homens do que em mulheres (entre 33% e 35% maior, mais precisamente). Como homens, em média, são mais altos que mulheres, Nunney calculou qual parcela dessa diferença poderia ser atribuída ao fato de que homens têm mais células no corpo. Ao considerar apenas a diferença média de 13 centímetros entre os sexos, suas contas previram uma diferença de 19%. Ou seja: a altura tem uma parcela razoável de culpa no cartório desse fenômeno, mesmo que não seja a única responsável por ele.
Essa não é a primeira vez que um estudo sobre câncer considera a altura como uma variável importante. Na verdade, sua influência é quase consenso entre especialistas. O assunto está no ar desde a década de 1970, quando o biólogo Richard Peto, de Harvard, percebeu algo paradoxal: elefantes, que pesam 100 vezes mais que seres humanos, têm 100 vezes mais células, e portanto deveriam ser atingidos por tumores com uma frequência absurdamente alta. Apesar disso, só 5% dos gigantes cinzentos morrem de câncer, contra 17% dos seres humanos.
Hoje se sabe que os elefantes só puderam crescer porque a seleção natural os presenteou com eficazes mecanismos de combate ao câncer – como incríveis 20 cópias do gene TP35, que é um detector de células mutantes. O Homo sapiens, em compensação, só têm uma.