Pessoas com autismo se surpreendem menos com eventos inesperados
Novo estudo diz que autistas superestimam as possibilidades de mudança ao redor deles
Hipersensibilidade ao barulho, a cheiros e a outros estímulos sensoriais, interesses restritos, dificuldades nas interações sociais e em lidar com quebras na rotina. Esses são algumas das características de quem tem Transtorno do Espectro Autista, condição que atinge 70 milhões de pessoas no mundo e aproximadamente 500 mil brasileiros.
Um novo estudo realizado pela Univesity College London (UCL), porém, afirma que os autistas se surpreendem menos com imprevistos do que pessoas sem o transtorno. Os cientistas pediram para que 24 adultos com autismo e 25 não-autistas completassem uma tarefa simples de aprendizado que consistia em analisar diferentes imagens em uma tela de computador que surgiam aleatoriamente, assim como sons muito altos ou muito baixos que apareciam sem seguir um padrão definido.
Para medir as reações dos participantes e o quanto cada um aprendeu, foi levado em consideração as respostas no computador e a variação no tamanho da pupila de cada um – fator relacionado ao funcionamento de substâncias químicas cerebrais que ativam as sinapses neurais, como a noradrenalina, por exemplo.
Apesar de os autistas terem completado a atividade com eficácia e aprendido o que estava sendo proposto, os cientistas perceberam que, quando expostos a imagens inesperadas, eles se mostraram menos surpresos que os adultos não-autistas. E os voluntários que menos demonstraram surpresa foram aqueles com autismo mais pronunciado. Ou seja, como eles são mais sensíveis e estão sempre alertas a possíveis eventos inesperados, ficam menos surpresos quando algo de fato sai do esperado.
Estudos anteriores já haviam comprovado que autistas, muitas vezes, não se surpreendem da mesma forma que outras pessoas. Para a líder da pesquisa, Rebecca Lawson, os resultados desta nova pesquisa sugerem que essa diferença de reação pode ser explicada pela forma como as pessoas autistas criam expectativas: “Nossas expectativas prejudicam nosso comportamento de maneira sutil, de modo que ser menos suscetíveis a esses efeitos podem resultar em pontos fortes, bem como em dificuldades”, disse na divulgação do resultado do estudo.
O time de pesquisadores acredita que os autistas tendem a superestimar a capacidade de mudança das coisas ao seu redor o que, consequentemente, reduz as expectativas sobre como deve ser o comportamento deles. De acordo com Lawson, essa pode ser uma das razões para características muito frequentes em pessoas autistas, como a hipersensorialidade, por exemplo. “Quando não estamos certos sobre o que acreditamos, deixamos que nossos sentidos nos influenciem mais que as nossas expectativas. Se as pessoas com autismo já estão esperando que uma maior volatilidade do mundo ao redor delas, isso poderia ajudar a explicar sua propensão a sobrecarregar os próprios sentidos e um maior desempenho da percepção.
Os cientistas acreditam que este estudo representa um importante avanço para compreender como as pessoas com autismo veem o mundo e a inseri-las na sociedade com mais respeito e tolerância.